Alta dos juros pode rebaixar rating de empresas brasileiras

Fitch vê tendência fortemente negativa para o rating das empresas no Brasil com elevação dos juros feita pelo BC

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Prédio da Fitch Ratings
Prédio da Fitch Ratings (Foto: reprodução)

A tendência do rating das empresas brasileiras pode se tornar fortemente negativa em 2025 caso as taxas de juros continuem subindo, afirma a Fitch Ratings. O relatório da agência de classificação de risco foi divulgado nesta quarta-feira. “O agressivo aperto monetário foi uma resposta a crescentes preocupações com finanças públicas, aumento da inflação e sua trajetória de crescimento, além da depreciação do real. Há apenas seis meses, as expectativas do mercado eram de que as taxas de juros de 2025 seriam menores do que as de 2024”, destaca o relatório.

“Há forte relação reversa entre taxas de juros e ações de rating. Na última vez que a Selic ultrapassou 13% (2015–2016), a relação rebaixamento/elevação em escala nacional chegou quase a cinco para um”, cita o relatório.

Os setores de saúde, aviação, varejo, construção civil, propriedades comerciais e real estate (excluindo shoppings) são os mais vulneráveis à subida da Selic, por apresentarem alavancagem relativamente alta. As condições domésticas de liquidez e o acesso de cada setor ao mercado de capitais determinarão a gravidade da situação.

De acordo com a Fitch, a reversão de expectativas impactará diretamente as empresas brasileiras. A maior parte da dívida é local e baseada em taxas pós-fixadas, e muitos emissores ainda estavam se recuperando de um 2023 desafiador quando um aperto de liquidez e alta de juros levaram a uma onda de rebaixamentos.

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O Banco Central (BC) elevou a Selic em 1 ponto percentual (pp), para 12,25%, em dezembro de 2024, e indicou que pode haver mais dois aumentos de 1pp em 2025.

Rating ameaçado: 70% do Ebitda para pagamento de juros

A carteira de ratings corporativos da Fitch no Brasil consiste em 70 ratings em escala internacional e cerca de 170 em escala nacional. Parte da carteira de ratings nacionais está na categoria ‘A(bra)’ ou abaixo e, consequentemente, apresenta risco de crédito maior que a da maioria dos ratings internacionais.

A Fitch estima a mediana da alavancagem (dívida/Ebitda) de seu portfólio em 3,6 vezes no final de 2024, ligeiramente abaixo das 3,9 vezes de 2023. A agência projeta que 40% de sua carteira terão alavancagem superior a 4 vezes no final de 2024 e que 23% terão alavancagem acima de 5 vezes.

A agência de classificação afirma que, com a Selic em 12,25%, apenas o pagamento de juros consumirá 50% do Ebitda de um emissor mediano. Com uma alavancagem de 5 vezes o Ebitda, 70% do Ebtida serão destinados a pagamento de juros. O quadro se agravará se a indicação de mais altas de juros do Banco Central se concretizar.

As companhias aéreas estão expostas de forma singular à desvalorização do real, pois suas receitas são geradas principalmente no mercado doméstico, mas seus custos são em dólares. O setor imobiliário pode ver a venda de residências cair com o aumento da Selic.

Por outro lado, exportadores de commodities serão menos afetados pelo aumento das taxas e suas receitas se beneficiarão do câmbio favorável. Muitos têm dívidas em dólares, que seguem as receitas.

Economia sofre com juros acima de 14%

O relatório da Fitch faz um balanço do panorama econômico no ano passado. A economia brasileira teve forte crescimento em 2024, sustentado por um sólido mercado de trabalho. No entanto, historicamente a atividade econômica desacelera significativamente quando a Selic ultrapassa 14%, o que afetará um grupo mais amplo de emissores de varejo e serviços.

As fortes condições de liquidez do início de 2024 permitiram que muitos emissores refinanciassem e rolassem dívida a taxas favoráveis. Entretanto, o prazo médio da dívida no Brasil é relativamente curto, e as empresas normalmente precisam se refinanciar a cada dois anos ou três anos. Isto significa que liquidez e acesso ao mercado de capitais determinarão possíveis ações negativas de rating em 2025.

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