Alta no preço do frango inibe consumo no Egito

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Os preços das carnes de frango nacionais e importadas registraram grandes aumentos no Egito durante as últimas duas semanas. Especialistas e empresários egípcios ligados ao setor acreditam que a alta é decorrência das maiores cotações das matérias-primas de rações no mercado mundial e da dificuldade da Ucrânia em permanecer no comércio internacional do segmento em função da guerra com a Rússia. A Ucrânia é produtora e exportadora de carne de frango.

Na primeira semana do ramadã, o preço do quilo da carne de frango produzido localmente no Egito chegou a 40 libras egípcias (US$ 2,1 pela cotação atual). Já os valores praticados para a carne de frango importada do Brasil e da Ucrânia variaram entre 65 libras egípcias e 70 libras egípcias (US$ 3,5 e US$ 3,8, respectivamente).

Boa parte da população do Egito é muçulmana e vive desde o começo de abril o período religioso do ramadã, no qual os fiéis jejuam de dia e fazem refeições coletivas depois do cair do sol. Esse tempo especial acontece por um mês – neste ano até o início de maio – e costuma fazer aumentar bastante a demanda por alimentos nos países islâmicos. O ramadã é encerrado por grande celebração festiva.

De modo geral, a primeira semana do mês de ramadã registra no Egito aumento da demanda por produtos alimentícios, como carnes de aves e carnes bovinas em particular, com crescimento de cerca de 25% em relação ao restante do ano. Em 2022, no entanto, há queda na demanda por proteína em função dos altos preços e do fraco poder aquisitivo dos consumidores.

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A vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Swailem de Multiatividades e Nacionalidades, Manal Khalifa, disse que os preços da carne de aves estão testemunhando, desde meados de março, aumentos nunca vistos antes, entre US$ 800 a US$ 1 mil a tonelada.

Em entrevista exclusiva à ANBA, ela afirmou que os valores do frango brasileiro congelado ao Egito estão próximos de US$ 3 mil a tonelada, além de taxas alfandegárias, o que elevou o preço de venda no mercado local para o consumidor egípcio. Ela acredita que o aumento decorre da baixa nas exportações da Ucrânia, o que fez os países buscarem alternativas como o Brasil para compensar o déficit na oferta global. Khalifa cita a Arábia Saudita como um dos países que substitui a importação da Ucrânia pelo Brasil.

A empresária afirma que o aumento na demanda por frango na última semana do Shaban – período que antecede o ramadã – e na primeira semana do ramadã, revelaram uma escassez na oferta, exigindo a necessidade de anular as taxas alfandegárias nas importações, estimadas em 30%, para facilitar a importação, melhorar o abastecimento da carne do frango ao mercado egípcio e controlar os preços.

O chefe da Divisão de Aves da Câmara de Comércio do Cairo, Abdel Aziz El-Sayed, vê como motivos do aumento global dos preços as crises atuais, com altos preços de transporte, logística, petróleo e produção das matérias-primas. Segundo ele, o valor da tonelada de forragem usada nas granjas de frango egípcias subiu de 8 mil libras egípcias (US$ 435 pela conversão atual) para 11 mil libras egípcias (US$ 598), e é preciso produzir esses insumos localmente. Em relação ao ano passado, o preço duplicou, segundo ele. De acordo com Sayed, o Egito compra no exterior 80% da forragem para os frangos e produz no país apenas 20% dela. Ele acredita que o abastecimento local deveria responder por 80% ou o país ser autossuficiente. O chefe da Divisão de Aves vislumbra que a produção nacional poder aumentar, com mais produtividade e reuniões com agricultores para conhecer sua visão e demandas e fornecimento de sementes. Segundo ele, a demanda de forragem egípcia para frangos é de 12 milhões de toneladas por ano.

Sayed percebe na primeira semana do ramadã decréscimo de 50% nas compras de carne de frango em relação ao ramadã do ano passado. O aumento dos preços fez os cidadãos diminuírem as compras e racionalizarem no consumo, de acordo com ele. Mas o executivo acredita que a relutância em comprar não afetará o preço, porque a alta nos valores da carne de frango está ligada ao fornecimento de ração.

Apesar da medida ter sido tomada para garantir o abastecimento, o chefe da Divisão de Aves da Câmara de Comércio do Cairo afirma que a anulação das taxas sobre importação do frango dificulta a produção local e leva ao encerramento de projetos nacionais de produção avícola.

O vice-presidente do Conselho de Administração de Forragem da empresa Al-Assad, Tharwat Al-Zeini, disse que o aumento dos preços da forragem e do frete são a razão para o aumento dos preços do frango e ovos, especialmente porque o Egito está passando por uma fase excepcional de escassez de matérias-primas importadas, além do aumento significativo nos preços de insumos disponíveis no mercado local.

Al-Zeini disse numa entrevista exclusiva à ANBA que a produção avícola não está em crise, mas está relacionada aos preços de embarque e ao poder global de compra. Segundo ele, o mês do ramadã foi sempre considerado uma época de vendas em alta para o frango, pois normalmente elas crescem 50% em relação aos demais meses do ano. Al-Zeini acrescentou que a longa duração da guerra entre Ucrânia e Rússia vai resultar em falta de milho e a crise se intensificará. O milho é uma das bases da alimentação dos frangos.

O vice-presidente também percebe queda significativa na demanda por carne de frango em função dos preços, uma vez que os salários no Egito não aumentaram pelo valor da alta atual. Mas ele entende que um crescimento da demanda causaria também mais aumento de preço. Al-Zeini afirma que o Egito conseguiu autossuficiência em carne de frango e ovos e, portanto, não tem necessidade de compras externas do produto e de isenção das taxas de importação na área para conter preços.

 

Agência de Notícias Brasil-Árabe

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