Amazônia Centro do Mundo

Amazônia Centro do Mundo propõe uma aliança entre povos e natureza para enfrentar a crise climática e redefinir o futuro do planeta.

736
Terra Indígena Pirititi, Roraima (Foto: Felipe Werneck/Ibama)
Terra Indígena Pirititi, Roraima (Foto: Felipe Werneck/Ibama)

Em 2019, o movimento Amazônia Centro do Mundo, em Altamira, uniu as lideranças indígenas — como o cacique Raoni, indicado ao Nobel da Paz em 2020 —, além de quilombolas, beiradeiros, missionárias, jornalistas, numa verdadeira aliança em nome da “resistência”. Os povos que, até então, guardavam certo receio em se aproximar, se aliavam em nome da floresta contra seus predadores.

A jornalista Eliane Brum descreve, em seu livro Banzeiro Ò Kòtó, que o movimento foi uma aliança da vida contra todas as formas de morte:

“Não é possível enfrentar a crise climática com o mesmo pensamento que gestou a crise climática. O futuro depende da nossa capacidade de transformar radicalmente o modo como nossa espécie se coloca em relação a si mesma e ao que chama de natureza. Para isso, é preciso gerar não só outros conhecimentos, mas outra estrutura de pensamento e até mesmo outra linguagem.”

(Ob. cit., p. 343)

Diz a autora que

“a guerra climática é uma guerra por sobrevivência, sim, mas, como toda guerra por sobrevivência que envolve humanes, é uma guerra política. E tem que ser travada politicamente. Amazônia Centro do Mundo é um movimento político que propõe, como primeira premissa, o deslocamento do que é centro e do que é periferia, recolocando a Amazônia e outros enclaves de natureza como centros geopolíticos do mundo humano do planeta.” (Ob. cit., p. 342)

Além de afirmar a centralidade da Amazônia para além da convenção geopolítica, também é necessário estabelecer uma aliança entre os povos originários e comunidades tradicionais para anunciar que a guerra climática que está sendo travada não irá terminar se continuarmos a compreender a Amazônia a partir de uma lógica de exploração predatória, com o massacre dos que lá habitam e dela retiram seu sustento.

Espaço Publicitáriocnseg

Afirma a autora que essa retomada de centralidade também depende de uma união com aqueles “convertidos em pobres”, das periferias urbanas de Altamira, marginalizados e abandonados à própria sorte após doloroso processo de desflorestamento pelas máquinas do progresso:

“Enfrentar a emergência climática demanda a realização dessa centralidade como poder de transformação radical do modo de vida. Não bastam ações afirmativas, acesso a posições na esfera do trabalho antes restritas aos brancos, nem basta presença nas bienais e exposições de arte. Essas medidas, enormemente atrasadas no Brasil e em vários países, talvez pudessem ter um significado maior no passado. Agora, o colapso climático exige radicalidade. Não basta remodelar o capitalismo, como querem alguns, é preciso refundar a pessoa humana. Amazônia Centro do Mundo defende que essa refundação só pode acontecer a partir da aliança entre povos-floresta e povos-deflorestados.” (Ob. cit., p. 344)

Amazônia Centro do Mundo é uma proposta de “refundação do humane para criar um futuro onde seja possível viver com humanes e mais-que-humanes”, diz a autora. Essa ideia permanece acesa e se move agora em direção à COP30, a ser realizada no final deste ano em Belém (PA), com o grande desafio de conter o colapso climático e a sexta extinção em massa das espécies. Isso não será feito apenas reciclando lixo, usando carro elétrico ou preparando comida vegana. Deslocar as centralidades exige muito mais esforço de todos nós. É preciso ouvir a floresta.

Não podemos perder a oportunidade de demonstrar, na COP30, que esse fórum permanece circulando pelo planeta e promovendo transformações em todos, a ponto de assumirmos compromissos sérios para garantir a existência e a coexistência no planeta. Será necessário demonstrar que os grileiros, políticos e empresários que tentam dominar a floresta profunda com sua própria lei — alguns pertencendo ao que se pode denominar “consórcio da morte” —, devastando a floresta e vidas humanas, ficarão definitivamente intimidados pela centralidade viva da Amazônia.

Siga o canal \"Monitor Mercantil\" no WhatsApp:cnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui