Amazônia Legal tem mercado de trabalho pior do que o resto do país

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Floresta amazônica (foto CC)
Floresta amazônica (foto CC)

O modelo atual de exploração da Amazônia, que resultou na perda de 20% de toda a floresta na região, não parece ter sido capaz de gerar uma economia com empregos de qualidade. É o que mostra o estudo ‘Mercado de trabalho na Amazônia Legal – Uma análise comparativa com o resto do Brasil’, realizado pelos pesquisadores Gustavo Gonzaga, Flávia Alfenas e Francisco Cavalcanti, do departamento de Economia da PUC-Rio. A pesquisa inédita, que faz parte do projeto Amazônia 2030, revela uma grande defasagem no mercado de trabalho entre a região e o resto do Brasil.

O estudo evidenciou que na Amazônia Legal a informalidade é 20 pontos percentuais maior do que no restante do país e que há maior probabilidade de um trabalhador não conseguir manter a sua posição ou mesmo piorar a qualidade da sua ocupação no trimestre seguinte. Com um grande volume de brasileiros sem emprego ou com uma fonte de rendimentos muito baixa, a Amazônia é altamente dependente de programas sociais. Além disso, a região ainda sofre com a baixa oferta de trabalho aos jovens. Além de ser ruim para os jovens hoje, essa falta de oportunidades desperdiça um potencial da região: a Amazônia, que ainda tem uma proporção de idosos menor que o resto do país, deveria oferecer condições aos mais jovens para gerar poupança para as aposentadorias.

“Trata-se de um diagnóstico profundo da estrutura de emprego e renda na Amazônia; é um ponto de partida necessário para o desenho de políticas públicas para a região”, explica o economista do trabalho e coordenador do estudo, Gustavo Gonzaga, do Departamento de Economia da PUC-Rio.

Os dados integram o primeiro estudo publicado pelo projeto Amazônia 2030, uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano completo de recomendações para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira. “Atualmente, estamos presos em uma armadilha com degradação ambiental e baixa qualidade de vida. Como contribuição para rompermos esse processo, o projeto Amazônia 2030 promove uma série de estudos e diálogos com a sociedade com o objetivo de gerar um plano de ações para a eleição de 2022”, explica um dos coordenadores do projeto, o economista Juliano Assunção, diretor executivo da Climate Policy Initiative, centro de pesquisas baseado no Rio de Janeiro.

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O número de trabalhadores informais na Amazônia Legal é 20 pontos percentuais superior ao observado no restante do Brasil. De acordo com a pesquisa, na Amazônia Legal, 58% do total de ocupados não tinham carteira de trabalho assinada ou trabalhavam por conta própria sem contribuir para a Previdência Social. No restante do país, a taxa de informalidade variou entre 38% e 34% entre 2012 e 2020.

Na Amazônia Legal, os trabalhadores com carteira assinada representavam apenas 26% dos ocupados, entre 2012 e 2020. No restante do país, em comparação, os trabalhadores com carteira assinada iniciaram o período representando 44% dos ocupados, atingiram um pico no começo de 2014 (46%) e encerraram o período correspondendo a 41%, um valor 16 pontos percentuais acima do observado na região amazônica.

O estudo mostra também que o ambiente do mercado de trabalho é mais instável que no restante do país. Na Amazônia Legal é maior a probabilidade de um trabalhador não conseguir manter a sua posição ou de piorar a qualidade da sua ocupação no trimestre seguinte. No período pesquisado, a probabilidade de um trabalhador mudar de uma situação de um emprego formal no setor privado em um determinado trimestre para um emprego informal no trimestre seguinte flutuou ao redor de 13%. Esse percentual foi bastante superior ao observado no resto do país, onde essa probabilidade ficou em torno de 8%.

Jovens

Um dos maiores desafios da juventude na atualidade é a entrada no mercado de trabalho. De acordo com o estudo, apenas 58% dos jovens de 18 a 24 anos participam ativamente do mercado de trabalho na região. No resto do Brasil, esse percentual sobe para 71%. Uma diferença de 13 pontos percentuais.

O mesmo acontece quando observamos a taxa de participação de jovens adultos (25 a 29 anos) no mercado de trabalho. Enquanto no restante do Brasil o percentual é de 82%, na Amazônia Legal foi de 71%. A taxa de ocupação inclui quem está empregado e quem está procurando emprego.

O desalento dos jovens também é ilustrado pelos diferenciais das taxas de ocupação. Apenas 43% dos jovens de 18 a 24 anos tinham alguma ocupação em 2019, número muito inferior aos 52% observados no resto do país, um diferencial de 9 pontos percentuais. Entre os jovens de 25 a 29 anos, apenas 60% estavam ocupados na Amazônia Legal, comparado com 70% no resto do país, um diferencial de dez pontos percentuais. No segundo trimestre de 2020, no auge da pandemia do Coronavírus, 54% das pessoas de 25 a 29 anos de idade tinham ocupação na Amazônia Legal.

Os dados sobre ocupação e participação de jovens no mercado de trabalho na Amazônia Legal sugerem que a região poderá desperdiçar o potencial que possui – para geração de renda, investimento e poupança – por ter uma população ainda bastante jovem quando comparada ao Brasil como um todo. O fenômeno conhecido como “bônus demográfico” pouco contribui para o desenvolvimento de uma região quando há pouca geração de empregos e baixo investimento na formação de capital humano, sobretudo para a inserção de jovens no mercado de trabalho.

Em 2020, estima-se que a Amazônia Legal tenha cerca de nove idosos para cada 100 pessoas em idade ativa, número ainda muito inferior ao estimado para o Brasil como um todo, de 14 idosos para cada 100 pessoas em idade ativa. Em 2030, projeta-se que serão 12 idosos por 100 pessoas em idade ativa na região amazônica e 20 idosos por 100 pessoas em idade ativa no país. Para aproveitar o benefício dessa população jovem, a região deveria oferecer condições para trabalharem e gerarem renda. Isso não está ocorrendo.

Com um grande volume de brasileiros sem emprego ou com uma fonte de rendimentos muito baixa, a região é altamente dependente de programas sociais. A participação dos rendimentos advindos de programas sociais e auxílios governamentais era de 35% para os domicílios mais pobres, comparado com 15% no resto do país, um diferencial de 20 pontos percentuais. Isso evidencia uma maior vulnerabilidade e uma maior dependência do Governo entre os domicílios do quinto mais pobre na Amazônia Legal. Destaca-se ainda que 6% dos domicílios mais pobres não tiveram renda alguma em 2019, 4% estavam nessa situação no resto do país.

A dependência do governo também se manifesta entre os domicílios mais ricos. A proporção dos proventos de funcionários públicos e militares nos rendimentos dos domicílios no estrato dos 20% mais ricos foi de 35% em 2019. No resto do país, esses rendimentos correspondiam a 23% do total dos rendimentos dos domicílios nessa faixa.

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