Após 20 anos de realização do primeiro Fórum Social Mundial em Porto Alegre, neste ano o FSM ocorre virtualmente entre 23 e 31 de janeiro de 2021. O evento se dá em paralelo ao Fórum Econômico Mundial de Davos, no qual os líderes de diversos países discutem de forma virtual, entre as diversas pautas, uma economia sustentável para a Amazônia com maior participação do setor público e privado, inclusive com a reativação de projetos por meio do Fundo Amazônia criado em conjunto com governos estrangeiros.
O FSM tem por finalidade reunir a sociedade civil em espaços temáticos e atividades para propor ações para outro Mundo Possível. Enfatiza a importância da organização e da diversidade na política e para a democracia visando a sustentabilidade da vida no planeta. Pessoas jovens, afrodescendentes, mulheres, diferentes vozes e atores de vários países expõem a necessidade de diálogos e participação da sociedade civil.
AMAZONIZA-TE é uma campanha promovida no FSM de 2021 com a proposta de lançar um “olhar” para a Amazônia, aprender com seus povos e denunciar as violações da vida humana e a exploração dos territórios. Visa sensibilizar a opinião pública nacional e internacional por meio de entidades civis e religiosas para dar visibilidade à violência crescente, promover a defesa do território e a preservação dos recursos naturais. A campanha (amazonizate.org) importa ainda em reconhecer a luta dos povos da Amazônia. A atividade pode ser vista na seguinte plataforma: youtube.com/watch?v=XMn0DHlI5Do
AMAZONIZA-TE relata a continuidade do processo de violência institucional na região amazônica, a exemplo do massacre de Pau D’Arco em 2017, no qual 10 camponeses foram mortos em ação policial e que culminou com o recente assassinato de um dos sobreviventes e testemunha do fato, o trabalhador rural Fernando dos Santos Araújo, morto tragicamente em 26 de janeiro. Até o momento também não houve a apuração de outro massacre no Rio Abacaxis que resultou, em agosto de 2020, com a morte de indígenas e ribeirinhos e também envolvendo policiais militares.
Foi destacado que continuam as táticas de criminalização manipuladas por grandes grupos econômicos que se instalam para exploração da terra. Essas “táticas” tentam e não raras vezes conseguem deslegitimar as lutas travadas pelas comunidades e suas lideranças, pois distorcem os fatos criando narrativas próprias muitas vezes endossadas pela mídia e pelo próprio Estado-Juiz.
Apresentaram-se estatísticas dos conflitos crescentes e cada vez mais violentos na região, especialmente em função da corrida de grandes empresas para implantação de hidrelétricas, exploração de minérios e instalação de garimpos, que impactam a terra, os rios e a biodiversidade. Em geral a consecução de grandes projetos econômicos na Amazônia não precede de um diálogo ou repartição de benefícios com as comunidades envolvidas. Além disso, desestrutura a organização dos povos tradicionais e usos ancestrais da terra e o aproveitamento sustentável de suas riquezas naturais.
Também não pode ser ignorado o descaso suportado pelos povos indígenas e comunidades tradicionais na pandemia de Covid-19. Os problemas causados pela pandemia aumentam e revelam uma crise muito mais ampla do que temos conhecimento nas cidades. Muito embora vedado liminarmente pelo STF continuam, mesmo durante a pandemia, os despejos forçados de famílias instaladas na região. O comprometimento da saúde dos povos da Amazônia pela Covid 19 continua se propagando, especialmente por falta de barreiras sanitárias e de infraestrutura de qualidade na saúde pública.
Há 20 anos, no FSM realizado em Porto Alegre a sociedade civil, comunidades e povos tradicionais se comprometeram que um Novo Mundo é Possível. Agora, virtualmente, os mesmos atores buscam soluções sustentáveis para a Amazônia e para o mundo. Todavia, as vias do crescimento econômico da região amazônica não podem ser encontradas sem o necessário diálogo com as comunidades e povos tradicionais. Espera-se que essas vozes sejam ouvidas pelos líderes mundiais presentes no Fórum Econômico Mundial. O consenso sobre a necessidade de uma pauta conjunta e urgente para possibilitar o desenvolvimento sustentável na Amazônia não pode ser adiado. AMAZONIZA-TE, não é uma simples palavra, é uma forma de novos consensos, ações e entendimentos.
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