América Latina enfrenta o teste dos ventos globais e das urnas

Economia global em desaceleração e eleições acirradas: descubra os desafios para a América Latina em 2026. Por Mauricio Nakahodo

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mapa da maérica latina

O destino da América Latina está sendo moldado por dois grandes ventos: o da economia global e o das urnas eleitorais. De um lado, as principais potências do mundo crescem menos e podem reduzir seu apetite por produtos latino-americanos. De outro, uma nova rodada de eleições promete mexer no tabuleiro político e nas expectativas econômicas da região.

Mundo mais lento: crescimento global em desaceleração

Nos Estados Unidos, o banco central — o Federal Reserve — deve reduzir os juros para o intervalo entre 3,50% e 3,75% até o fim deste ano, diante do risco de enfraquecimento da atividade econômica e do mercado de trabalho.

A China, com crescimento abaixo de 5%, enfrenta queda na demanda e nos preços dos metais, afetando exportadores de commodities da região.

A Europa também atravessa um momento de baixo crescimento e juros estáveis, o que significa menos estímulos e menos oportunidades de comércio para a América Latina.

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Dependência comercial e efeitos regionais

Nesse contexto, a relação comercial ajuda a entender por que alguns países da região sentem mais os efeitos do cenário internacional do que outros.

O México, por exemplo, envia quase 80% de suas exportações para os Estados Unidos — o que o torna muito sensível às mudanças na economia americana e à revisão do acordo USMCA (acordo de livre comércio da América do Norte), programada para começar em julho do ano que vem. A Colômbia também tem forte relação com os EUA, com cerca de 27% das exportações destinadas ao país.

Já Chile, Peru e Brasil dependem mais da China, que compra 39,5%, 30,1% e 26,8% de suas exportações, respectivamente. Com a economia chinesa mais lenta e o preço dos metais em queda, esses países enfrentam ventos contrários importantes.

O calendário das urnas: eleições que redefinem rumos

As eleições também terão papel decisivo na direção econômica e política da região nos próximos anos. Na Argentina, as eleições legislativas de outubro reforçaram o poder do governo. O partido La Libertad Avanza (LLA), do presidente Javier Milei, obteve 40,7% dos votos, superando as previsões e garantindo força suficiente no Congresso para barrar propostas contrárias.

O Chile terá eleições gerais em novembro de 2025. A Colômbia realizará pleitos parlamentares em março e presidenciais entre maio e junho de 2026. No Peru, as eleições gerais estão previstas para abril de 2026, com potencial segundo turno em junho, em meio a contínuas crises políticas marcadas por escândalos e impeachments de presidentes.

No Brasil, as eleições de outubro de 2026 serão centrais: investidores e analistas estarão atentos à sustentabilidade fiscal e à continuidade das reformas econômicas — fatores decisivos para manter a confiança e atrair investimentos.


Economias em ritmos diferentes

Nem todos os países estão no mesmo ponto da estrada.

Chile e Peru se destacam por seus fundamentos sólidos: inflação controlada, taxas de juros relativamente mais baixas e contas fiscais bem administradas. Brasil e Colômbia mantêm a disciplina nos juros, mas enfrentam pressões fiscais e inflação persistente, o que limita o espaço para cortes mais agressivos.

O México cresce devagar atualmente, por conta do consumo interno fraco e das incertezas comerciais com os Estados Unidos. Já a Argentina, embora dê sinais de recuperação, continua exposta à forte volatilidade política e cambial, com risco de nova aceleração inflacionária.


Ventos políticos e econômicos no horizonte

A América Latina caminha sob dois grandes desafios: o desaquecimento da economia global e o ciclo eleitoral que se espalha pela região até 2026. Mesmo assim, Chile e Peru tendem a manter trajetórias mais estáveis — o primeiro, por causa de suas instituições fortes; o segundo, pela resiliência econômica, mesmo com trocas frequentes de governo.

No fim, o sucesso de cada país dependerá de três ingredientes fundamentais: disciplina fiscal e monetária, credibilidade das instituições e avanço das reformas estruturais. São eles que podem ajudar a região a atravessar com mais segurança os ventos — políticos e econômicos — que sopram sobre o mundo.

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