Americanas ainda registra prejuízo de R$ 4,611 bi

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Lojas Americanas (Foto: Procon-MS)
Lojas Americanas (Foto: Procon-MS)

Nos nove primeiros meses de 2023 (de janeiro a setembro), o prejuízo da Americanas S.A foi de R$ 4,611 bilhões, queda de 23,5% em relação ao mesmo período de 2022. Envolvida em uma das maiores fraudes financeiras do país que chega a R$ 25,2 bilhões, a empresa reportou, nesta segunda-feira, logo na abertura do mercado, informações financeiras do terceiro trimestre de 2023 e dos nove primeiros meses do ano, após meses sem divulgação.

Mas o plano de recuperação judicial do Grupo Americanas foi homologado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). A decisão, assinada no domingo (25) pelo juiz Paulo Assed Estefan, inicia um novo capítulo no processo aberto no início de 2023, após a descoberta de inconsistências contábeis que indicavam um rombo bilionário, o que acabou levando o então presidente da empresa, Sérgio Rial, e o então diretor de Relações com Investidores, André Covre, a renunciarem a seus cargos. Na época, as ações da Americanas cotadas na Bolsa de Valores sofreram uma desvalorização imediata de mais de 70%.

Resultados

O Ebitda (lucro antes dos impostos, juros e amortizações) ficou negativo em R$ 1,558 bilhão no período 2023, perda 21,3% maior em um ano. A companhia reportou prejuízo líquido de R$ 6,2 bilhões em 2021 e R$ 12,9 bilhões em 2022.

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Os números revelam que o endividamento da rede de varejo ainda é muito alto. No terceiro trimestre de 2023, as dívidas líquidas somaram R$ 33,443 bilhões, um aumento de 10,6% na comparação com setembro de 2022. A dívida bruta somou R$ 38 bilhões. “O endividamento, ainda em patamares altos, tem tendência de ‘relevante redução’ com a execução do Plano de Recuperação Judicial”, informa a empresa.

“O ano de 2023 foi, sem dúvida, o mais desafiador da história da Americanas, não só pela magnitude da fraude revelada, mas pela necessidade de reconstrução que se apresentou”, destaca a administração da rede de varejo no balanço. Foram fechadas 99 de janeiro a setembro de 2023 em todas as regiões do país, sendo mais concentrada no Sudeste, área com o maior número de unidades do grupo.

“Embora o valor absoluto (da dívida) ainda seja expressivo, o mercado reagiu positivamente à notícia. Por volta das 11h19 desta segunda-feira, as ações ordinárias da Americanas, negociadas fora do Ibovespa, registravam um aumento de 3,85%, atingindo R$ 0,54”, comenta o gestor de investimentos Robinson Trovó. O gestor destaca a necessidade de cuidado, alertando que, embora a redução seja um sinal positivo, é crucial analisar a fundo a situação da empresa.

Trovó ressalta que a busca por lucro imediato não deve ser o único critério na tomada de decisão. Ele destaca a importância de investir em empresas sólidas e consistentes, que possuam histórico e lastro para enfrentar momentos de crise.

O gestor de investimentos também destaca a volatilidade do mercado e a incerteza inerente à especulação nesse caso. “Um rombo na casa de R$ 4,6 bilhões ainda é extremamente alto, ou seja, não existe garantia da saúde financeira futura da empresa. Outro ponto que agora que está em alta não se torna tão interessante adquirir as ações”.

Ele lembra que sempre se deve partir no mercado de ação da máxima de comprar na baixa e vender na alta. Outro ponto que ele enfatiza é que, mesmo uma empresa aparentemente tenha melhorado, pode passar por novos momentos de crise, e é essencial que os investidores busquem consistência em suas escolhas.

“A Americanas, uma empresa de grande destaque no setor varejista, enfrenta desafios significativos, mas a redução do prejuízo sinaliza esforços para lidar com suas dificuldades financeiras. A decisão de investir nas ações da empresa neste momento requer uma análise cuidadosa e consideração dos riscos envolvidos”, finaliza Trovó.

Plano de recuperação

Com a homologação do Plano de Recuperação Judicial e o avanço no novo plano de negócios, a expectativa da Americanas é de redução do endividamento, geração sustentada de caixa e rentabilidade positiva em 2025. “Hoje, já podemos dizer que superamos a fase mais crítica pela qual a Americanas passou. O que vem nas próximas etapas ainda é bastante desafiador e o processo de recuperação, como dito na divulgação de resultados de 2022, será contínuo e gradual”, afirma Leonardo Coelho, CEO da Americanas.

Segundo o executivo, o trabalho de diagnóstico e construção de novas bases para a transformação da Americanas, conduzido no último ano, teve impacto positivo ainda em 2023. Nos nove primeiros meses de 2023 (9M23), as lojas físicas registraram crescimento em algumas categorias de departamentos de general merchandising, como bomboniere e biscoitos, o maior em vendas da Companhia no período. Apesar da queda de 2,9% de vendas brutas no conceito “mesmas lojas” nos 9M23, a companhia reverteu essa tendência e evoluiu para crescimento de 3,6% no 3T23, mesmo com um mix de produtos com menor valor agregado, em função da estratégia de redução na oferta de eletroeletrônicos, como televisores de telas grandes, notebooks e linha branca, agora disponíveis somente no canal digital.

O digital apresentou queda devido à redução da confiança nas primeiras semanas após o pedido de recuperação judicial e, em um segundo momento, em função da revisão de sua estratégia. A companhia, agora, atua no fortalecimento do Super 3P, com a migração de categorias relevantes em venda para o marketplace e investimentos otimizados em marketing. “Estamos construindo uma cultura única e de volta ao simples, a partir da combinação de estratégias conjuntas com a indústria e sellers, para atender às necessidades básicas e diárias dos nossos clientes de uma maneira descomplicada, eficiente e leve”, afirma o executivo.

Recuperação judicial

A recuperação judicial pode ser solicitada por empresas que se encontram em dificuldades financeiras. O pedido da Americanas foi aceito pelo TJRJ em 19 de janeiro de 2023, levando assim à paralisação das execuções judiciais de dívidas. Também foi aberto prazo para elaboração de um plano que inclua as formas de pagamento aos credores e uma reorganização administrativa, de forma a evitar que a situação se agrave e chegue a um cenário de falência.

O Grupo Americanas é composto pelas empresas Americanas S.A., B2W Digital Lux e JSM Global. Elas são responsáveis por marcas variadas que realizam vendas a varejo e por meio da internet, tais como as Lojas Americanas, Americanas.com, Submarino, Shoptime, Hortifrutti, entre outras. Somente em novembro do ano passado, com a revisão dos dados financeiros e divulgação dos balanços de 2022, chegou-se ao montante exato do rombo R$ 25,2 bilhões. No processo que discute a recuperação fiscal, foram declaradas dívidas que somam R$ 42,5 bilhõesBTG Pactual, Itaú Unibanco e Santander – respondem por mais de 35% da dívida.

Em novembro do ano passado, a Americanas fechou um acordo com essas instituições financeiras. A negociação abriu o caminho para destravar o plano de recuperação judicial. Ficou acertado que o Grupo Americanas receberia um incremento de capital de R$ 24 bilhões, sendo R$ 12 bilhões pelos seus acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles) e outros R$ 12 bilhões dos próprios bancos, mediante conversão de dívidas em ações.

Com Agência Brasil

Matéria alterada às 16h34 de 27/2/2024 para correção de informação sobre Sérgio Rial e André Covre; eles não foram demitidos, e sim renunciaram aos cargos

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