Lojas Americanas S/A, ou simplesmente LASA, tem o início da sua história em 1929, quando um grupo de investidores norte-americanos, espantados pela grave crise econômica iniciada naquele ano, encheu as malas com papel pintado, pensando constatar se o papel ainda era dinheiro, dada a virulência da crise focada na Bolsa de Nova York.
O destino inicialmente alvejado era Buenos Aires, mas com a devida licença dos “hermanos”, em meio à crise, no balanço monótono do navio no mar, o grupo estava mais precisando de um samba do que de um tango. E assim o Rio arrebatou o grupo, a escala virou destino, e Lojas Americanas por aqui ficou, inaugurada com o sugestivo mantra promocional “Nada além de dois mil réis”.
O mantra não pode ser sustentado por muito tempo, mas deixou clara a mensagem, uma cadeia de lojas, de artigos populares, estruturada na forma de departamentos.
Em 1972, deu-se o meu encontro com a LASA, quando, nos termos publicados em um classificado do Jornal do Brasil (o JB) me apresentei para um concurso, visando um emprego na força de vendas no grupo, apesar de absolutamente inexperiente no ramo.
Diferentemente do anunciado, a minha vaga era para um programa de formação de quadros profissionais que começava ali, com a minha admissão.
Às vezes, ficava em dúvida se trabalhava ou se estudava em Lojas Americanas, pois frequentemente, quando em conversas sobre o ambiente profissional me referia à minha condição de trainnee da LASA, ouvia em tom elogioso: “Ah, Lojas Americanas é uma escola”.
Já é 1972
Grandes transformações serão observadas nesta década com os valores do industrialismo. Os choques do petróleo (1973 e 1979), para que o carrossel da economia continuasse a girar, levaram o mundo à necessidade de abrir rapidamente novas ondas de consumo (“supply economics”), sem aumento simultâneo de custos, que já estavam pressionados pelo petróleo.
A empresa vivia um período especial, assombrada pelo fantasma dos supermercados que, com o sistema de “check outs” oferecia muito mais agilidade ao cliente do que Lojas Americanas, Lobras, Sears, Sloper, Mesbla, nem qualquer outra loja de departamentos era capaz de oferecer. Eram como paquidermes sofrendo o ataque de uma alcateia numerosa.
Perderam a eficácia os recursos de concorrência dos paquidermes, digo, lojas de departamentos, veja alguns deles:
- Realizar várias promoções de aniversários de lojas, mais de uma vez ao ano.
- Colocação física estratégica do departamento 2 (leia-se o cachorro quente, que já foi programa de famílias na cidade, e da banana-split)
- Como ilustração, entre outras, fui treinado na extinta loja 7 (derrubada para dar passagem às obras da Linha 1 do metrô). Esta loja permitia ligar a rua do Catete com a rua Machado de Assis.
Uma vez fisgado o cliente, já dentro da loja, começava um delicado e sutil assédio (que tal um instante de alívio do calor numa cidade quente como é o Rio? Quem sabe vai uma banana-split? Já conhece a nova maquiagem a prova de água? A madame vai adorar. E o novo creme antirrugas?)
Outra preocupação atormentava algumas pessoas (desses que se diz vestirem a camisa), e fui apresentado a ela, através de uma pergunta direta do meu tutor: “É mais negócio ter ICM no estoque ou não”? (o então ICM, mais tarde ICMS, é um imposto estadual). Pedi 48 horas para responder.
Com as armas de que dispunha não seria mesmo possível os paquidermes vencerem os lobos, numa nova era que se prenunciava líquida e veloz.
‘Inconsistências contábeis’
Conheci na Lojas Americanas gente que dedicou parte significativa de suas vidas à empresa. Numa retribuição aos Ubirajaras, aos Oseas, aos José Luis, vamos entender o ocorrido.
Entenda o caso
No dia 12 de janeiro, a empresa surpreendeu a B3, Bolsa de Valores (para ficar somente em quem não poderia ter sido surpreendido): as ações da Americanas despencaram depois que a empresa publicou um comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que pode chegar a R$ 20 bilhões, cifra correspondente aos nove primeiros meses de 2022. A queda do pregão foi de 77%.
A empresa informou que o presidente da companhia, Sergio Rial, exonerou-se, nove dias depois de assumir, assim como o diretor financeiro da empresa, André Covre.
Especula-se sobre a existência de operações de financiamento em valores da mesma ordem de grandeza (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras.
E agora?
Agora, pode chamar Peixoto, o guarda-livros, para dar um jeito ou, ou, alternativamente, mandar tocar o barco para Buenos Aires. Finalmente…
E o ICM?
Ah, se é bom negócio ICMS no estoque? Passadas as 48 horas solicitadas, entreguei ao tutor do treinamento um papelório de cálculos (não havia ainda planilhas eletrônicas).
A empresa realizou a centralização de compras (antes era descentralizado a cada loja), construiu um baita depósito no subúrbio de Cordovil (Rio/RJ) e desativou o velho e minúsculo depósito, próximo à estação de Francisco Sá, bairro do Rio, mais conhecido como Vila Mimosa.
A empresa não investiria tanto não fosse bom ter ICMS no estoque, com a inflação e a evolução da imaterialidade do estoque no radar. Nem renunciaria à animada vizinhança…
Vamos consertar (com ‘S’)
Já vai se tornando incômoda a forma repetitiva com que determinados assuntos são tratados e retratados na midiazona. Por exemplo, se o assunto é PIB, logo acode uma explicação do que quer dizer PIB: é a soma de tudo aquilo que é produzido pelo país em um ano. Não! Não é não.
Dito assim, o PIB deveria ser bem maior do que nos mostra o IBGE. Os preços são a expressão do PIB na hora de somar o valor de cada mercadoria produzida, e os valores são expressos pelos preços por quais a demanda transforma-se em consumo final; aí, sim, o valor do PIB, que pode ser expresso a custo de fatores ou preços de mercado. O PIB então é a mais apurada expressão do tamanho de uma economia, ressalvados aspectos de natureza moral.
Logo, para evitar a possibilidade de múltipla contagem e que consequentemente aumentaria artificialmente o seu autêntico tamanho, na apuração do PIB somam-se os valores adicionados pelos três setores básicos que constituem a economia, a saber: setor primário, setor secundário e setor terciário. PIB é isto.
Na próxima semana, a taxa de desemprego.















