e medida por medida”
(W. Shakespeare, 1564-1616, em Medida por Medida, Ato V)
É possível medir o tamanho da responsabilidade social de uma empresa-cidadã? O trabalho realizado por uma empresa comprometida com a responsabilidade social pode ser expresso por números e por exemplos. No Brasil, o balanço social é uma ferramenta valiosa para medir a importância que uma empresa atribui aos seus projetos ambientais e comunitários. Números, no entanto, podem ser usados para revelar a verdade ou para escondê-la.
O balanço social passou a ser mais conhecido a partir de 1997, apesar de já ser balzaquiano, uma idéia presente no Brasil há mais de 30 anos. Em 97, o sociólogo Betinho lançou as bases deste modelo e conseguiu a parceria de instituições como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Firjan, o Banco do Brasil e outros.
O modelo brasileiro de balanço social, que hoje se encontra em processo de aperfeiçoamento, através de uma ampla parceria entre o IBASE, o Instituto Ethos e usuários do método, é constituído de indicadores sociais internos, externos e ambientais, dos quais são apurados índices calculados sobre uma base, composta de receita líquida, folha de pagamentos e resultado operacional. Além disso, integram o balanço social informações sobre o corpo funcional, como admissões, empregados negros, mulheres, portadores de necessidades especiais, informações sobre impostos e encargos sociais.
Quem já viu um balanço social de empresa ? Esta é uma das dificuldades que a visibilidade das empresas-cidadãs enfrenta. Nem todas apuram o balanço social e muitas das que apuram não publicam. Outras ameaças assombram este ideal. Para muitos, a obrigatoriedade de apurar ou publicar o balanço social poderia torná-lo mais uma formalidade a ser observada pelas empresas, com prazos, fiscalizações e outros ônus, além dos já existentes.
Alguns, que defendem a obrigatoriedade, argumentam que se o cinto de segurança não fosse obrigatório, as pessoas não o utilizariam. Ponto para os fabricantes de cinto. Mas de que adianta usar o cinto obrigado, sem estar sensibilizado para a segurança no trânsito, se o motorista excede os limites de velocidade ? Ponto para os ortopedistas.
Outras ameaças existem, como a de prevalecer nossa vocação cartorial e alguma profissão se achar a dona do balanço social. Aí, inevitavelmente, as empresas conheceriam um novo ônus, o de ter que contratar profissionais que estejam preocupados com uma reservazinha de mercado e não preocupados com a ética ou com a cidadania empresarial.
Se os números podem ser usados para revelar tanto quanto para esconder, os exemplos são mais resistentes às dissimulações. Parte do balanço social é representada pelos projetos internos, de benefícios aos empregados, e pelos projetos comunitários, sociais ou ambientais, empreendidos pelas empresas-cidadãs. Estes podem ser muito complexos ou muito simples. Originais ou tradicionais. Caros ou baratos. O mais importante é o impacto que proporcionam à sociedade, fazendo os seus benefícios transbordarem os limites da própria empresa.
Importante a empresa-cidadã se cercar de profissionais que facilitem uma visão ampla do alcance dos seus projetos sociais. Se o seu foco de desempenho social é a educação, por exemplo, é muito importante ouvir profissionais ligados à educação que opinem sobre a qualidade dos projetos educacionais realizados, para obter a máxima produtividade do seu investimento neste setor. Importante também fazer o planejamento estratégico do seu desempenho social e da correlação deste com os negócios da empresa.
QUALIDADE DE EMPRESA-CIDADÃ
O Banco Itaú criou, em 1993, o Programa de Apoio Comunitário, hoje Programa Itaú Social, apoiando projetos de interesse comunitário, prioritariamente, os de ensino fundamental e saúde. O Projeto Raízes e Asas, parte deste programa, já atendeu mais de 40 mil escolas em diversas regiões do país, através de doações de material didático e de formação de parcerias com entidades públicas e privadas para apoio.
ATÉ A PRÓXIMA
Você faz idéia do que é um seqüestro de projeto social? Quarta-feira que vem conversaremos sobre isso. Até lá.
Paulo Márcio de Mello
Professor e diretor de Planejamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Correio eletrônico: [email protected]