Aos engenheiros do BNDES

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Não estraguem seu currículo assinando embaixo do projeto de privatização do setor elétrico tal como está sendo imaginado. À parte de qualquer questão ideológica, o modelo está errado! Se fosse apresentado como trabalho de final de curso ou como tese de mestrado em uma universidade tiraria zero! A idéia de separação da transmissão e geração é básica para promover a competição entre geradores e em tese é louvável. Entretanto, essa separação no sistema brasileiro é complexa e o modo como está sendo modelada está errada! A razão é simples: pelo fato do sistema brasileiro ter grande predominância de usinas hidráulicas de grandes reservatórios, o sistema de transmissão foi desenvolvido e dimensionado para não apenas atender à demanda como em outros países, mas para transferir grandes blocos de energia entre bacias de diferentes regimes hidrológicos. Essa função tem contribuído para incrementar em torno de 20% da energia garantida.
Em outras palavras: no setor elétrico inglês, retirando o sistema de transmissão, se pudéssemos “empacotar” a energia garantida das usinas verificaríamos que essa energia não muda, é independente das linhas. Nesse caso, a função da transmissão é realmente apenas o transporte dessa energia até o consumidor. No caso brasileiro, se pudéssemos desligar o sistema de transmissão e “empacotássemos” as energias garantidas das usinas, teríamos a surpresa da constatação de que essa energia diminui! Ou seja, a transmissão no Brasil é fator importante na capacidade de gerar energia garantida do sistema.
Por isso a separação entre transmissão e geração é complicada. Pode ser feita? Lógico! Mas a conta não é essa apresentada pelo governo. Tem mais! Não pensem que esse papel da transmissão se esgotou. Quanto mais interligado for o sistema brasileiro, mais energia garantida estará disponível com as mesmas usinas.
A prova disso é a esdrúxula associação de energia garantida à linha Norte-Sul. Além dos problemas que o setor elétrico já tem, assistiremos a um desastre com a aplicação dessa modelagem equivocada. Quando buscarem os culpados seu nome estará na lista dos responsáveis. Não faça isso com seu currículo!

Roberto P. D” Araujo
Engenheiro aposentado de Furnas.

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