A falta de acordo em Washington, PMIs industriais mais fracos na Europa e o movimento de embolsar os lucros na Ásia, após forte rali recente, levam à queda das Bolsas nesta manhã, enquanto as curvas de juros aprofundam o achatamento, com os juros curtos batendo máximas desde o começo de março de 2023. Dólar se beneficia da cautela global e commodities devolvem as altas de ontem, com o minério perdendo os US$ 100. Por aqui, destaque para a decisão se o arcabouço, após 40 emendas de deputados, será votado hoje ou amanhã, em dia de agenda fraca, com o mercado sentindo as preocupações de Campos Neto com os núcleos de inflação elevados, sinalizando que o início do ciclo de cortes ainda está distante. O Ibovespa e o dólar devem sentir o clima de cautela global e a queda das commodities na abertura, enquanto os juros devem ser pautados pelo IPC-S e pelo tamanho do leilão do TN.
Na Ásia, dia de correção nas Bolsas, com os índices japoneses quebrando uma sequência de sete altas, apesar de PMIs acima do esperado. Na Coreia, a confiança do consumidor subiu de 95,1 para 98,0 pontos (ante expectativa de 93,4) em maio. Na Austrália, o PMI industrial seguiu em 48,0 pontos (ante expectativa de 47,3) em maio e o PMI de serviços caiu de 53,7 para 51,8 pontos (ante expectativa de 48,9). No Japão, o PMI industrial cresceu de 49,5 para 50,8 pontos (ante expectativa de 49,5) e o PMI de serviços avançou de 55,4 para 55,3 pontos (ante expectativa de 55,2).
Na Europa, PMIs de manufatura nos piores níveis desde o fim da pandemia levam à correção das Bolsas, com ações industriais liderando as perdas. O PMI industrial da Zona do Euro caiu de 45,8 para 44,6 pontos (ante expectativa de 46,2) em maio e o PMI e serviços caiu de 56,2 para 55,9 pontos (ante expectativa de 55,6). No Reino Unido PMI industrial caiu de 47,8 para 46,9 pontos (ante expectativa de 48,0) em maio e o PMI e serviços recuou de 54,9 para 53,9 pontos (ante expectativa de 54,6). Pablo Hernández de Cos (BdE) afirmou que o BCE ainda tem um longo caminho para apertar a política monetária e que os juros ficarão restritivos por um longo período. François Villeroy de Galhau (Banque de France) disse que a questão primária hoje não é quantas altas ainda são necessárias, mas qual o efeito das altas já realizadas sobre a atividade e que a taxa terminal deve ser alcançada até setembro. Villeroy fala às 12h e Joachim Nagel (Bundesbank) às 14h50.
Nos EUA, futuros operam estáveis, com os investidores monitorando as negociações do teto da dívida e esperando pelos PMIs, que serão divulgados mais tarde. James Bullard (Fed St. Louis, não vota) disse que a inflação ainda está muito alta, justificando a continuidade do ciclo de juros e que espera mais duas altas esse ano. Mary Daly (Fed São Francisco, não vota) disse que prefere ver os efeitos das últimas altas, que o Fomc precisa ser sensível aos dados e que o aperto dos bancos é equivalente a uma ou duas altas de juros. Neel Kashkari (Fed Minneapolis, vota) declarou que a decisão de junho será um “close call” e que há possibilidade de os juros romperem os 6%. Janet Yellen (Tesouro) afirmou que apesar das medidas extraordinárias, o caixa do governo tem grandes chances de zerar até 1º de junho. Na agenda, PMIs (maio) às 10h45, venda de novos imóveis (abril de 2023) e índice industrial do Fed Richmond (maio) às 11h e estoques de petróleo da API (de 19 de maio) às 17h30. Leilão de T-Notes (dois anos) às 14h. Lorie K. Logan (Fed Dallas, vota) fala às 10h. Lowe’s divulga resultado antes da abertura. Intuit, após fechamento.
Aqui no Brasil, apesar da alta das Bolsas em Nova Iorque, que subiram em meio ao otimismo com o acordo do teto da dívida, o mercado local teve sessão negativa, castigada pela queda das blue chips de commodities e bancos, com o Ibovespa fechando aos 110.213 pontos (-0,48%). O tom duro da fala de Campos Neto e a alta dos juros no exterior pesaram na curva de DI futuro, com alta de 10 pontos, em média, no miolo e na ponta longa. Em dia positivo para moedas de mercados emergentes, o real se beneficiou da fala do presidente do BC, com o dólar fechando em R$ 4,97 (-0,50%).
Sobre o Relatório Focus do último dia 19, no IPCA, quedas de 6,03% para 5,80% (2023), de 4,15% para 4,13% (2024) e seguiu em 4,00% (2025). No PIB, alta de 1,02% para 1,20% (2023), queda de 1,38% para 1,30% (2024) e seguiu em 1,70% (2025). Na taxa Selic, estáveis em 12,50% (2023), em 10,0% (2024) e em 9,0% (2025). A balança comercial teve superávit de R$ 2,3 bi na terceira semana de maio, com exportações de R$ 7,1 bi (5,7% a/a) e importações de R$ 4,8 bi (-13,5% a/a). No ano, o superávit é de R$ 30,3 bi (R$ 25,4 bi em 2022). Segundo o “Valor Econômico”, o governo estuda flexibilizar a meta de inflação, adotando um horizonte de tempo mais longo e substituindo o ano-calendário por um período contínuo. Segundo a CNN, o PL do novo arcabouço teve 40 emendas de deputados federais, que serão avaliadas pelo relator para o parecer de hoje. Na agenda, IPC-S (do último dia 19) às 8h, leilão do TN (LFT e NTN-B) às 11h30 e boletim macrofiscal da Fazenda (2T23) às 15h30.
Campos Neto afirmou que, mesmo com a desaceleração no crédito, a economia está resiliente, principalmente no mercado de trabalho, e que o núcleo de inflação está muito alto, apesar da queda forte no índice cheio, além de dizer que as expectativas de inflação estão bastante altas e que há incerteza sobre a meta nas expectativas mais longas. O presidente do BC ressaltou que mudar a meta de inflação não dá flexibilidade, podendo ter um efeito negativo e que a autonomia do Banco Central é importante. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, disse que a autonomia do BCB é uma conquista importante, mas salientou que é preciso promover a redução gradativa da taxa Selic e que o Senado deve ter a maior rapidez possível para votar o novo arcabouço fiscal.
Ótima terça-feira!
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Nicolas Borsoi
Economista-chefe da Nova Futura Investimentos
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