Após nova alta de juros, mercado reduz previsão para o PIB e inflação

Expectativa para a expansão da economia cai de 1,99% para 1,98%; para especialista, 'aperto ainda não teve impacto suficiente para reancorar as expectativas do mercado'

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Banco Central (Foto: Luiz Kessler)
Banco Central (Foto: Luiz Kessler)

Após a taxa básica de juros ser elevada para 14,25% ao ano, as previsões do mercado financeiro para a expansão da economia e o índice de inflação em 2025 foram reduzidas, de acordo com dados do Boletim Focus, divulgados nesta segunda-feira, em Brasília. A pesquisa é divulgada semanalmente pelo Banco Central com a expectativa de instituições financeiras para os principais indicadores econômicos.

Para este ano, a estimativa para o crescimento da economia caiu de 1,99% para 1,98%. Para 2026, a projeção para o Produto Interno Bruto foi mantida em 1,6%. Para 2027 e 2028, o mercado financeiro estima expansão do PIB em 1,9% e 2%, respectivamente.

Em 2024, a economia brasileira cresceu 3,4%. O resultado representa o quarto ano seguido de crescimento, sendo a maior expansão desde 2021 quando o PIB alcançou 4,8%.

A previsão da cotação do dólar está em R$ 5,95 para o fim deste ano. No fim de 2026, estima-se que a moeda norte-americana fique em R$ 6.

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A estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – considerado a inflação oficial do país – caiu de 5,66% para 5,65% este ano. Para 2026, a projeção da inflação subiu de 4,48% para 4,5%. Para 2027 e 2028, as previsões são de 4% e 3,78%, respectivamente.

A estimativa para 2025 está acima do teto da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%.

Puxada pela alta da energia elétrica, em fevereiro a inflação oficial ficou em 1,31%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior resultado desde março de 2022 quando tinha marcado 1,62%, e o mais alto para um mês de fevereiro desde 2003 (1,57%). Em 12 meses, o IPCA soma 5,06%.

Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros, a Selic, definida em 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

A alta do preço dos alimentos e da energia e as incertezas em torno da economia global fizeram o BC aumentar mais uma vez os juros em um ponto percentual na reunião da semana passada, o quinto aumento seguido da Selic, em um ciclo de contração na política monetária.

Em comunicado, o Copom informou que a economia brasileira está aquecida, apesar de sinais de moderação no crescimento. Segundo o colegiado, a inflação cheia e os núcleos (medida que exclui preços mais voláteis, como alimentos e energia) continuam em alta. O órgão alertou que existe o risco de que a inflação de serviços continue alta e informou que continuará a monitorar a política econômica do governo.

Em relação às próximas reuniões, o Copom informou que elevará a Selic “em menor magnitude” na reunião de maio e não deixou pistas para o que acontecerá depois disso.

Além de esperada pelo mercado financeiro, a elevação em 1 ponto havia sido anunciada pelo Banco Central na reunião de janeiro.

Até o fim deste ano, a estimativa do mercado financeiro é que a taxa básica suba para 15% ao ano. Para 2026, 2027 e 2028, a previsão é que ela seja reduzida para 12,5% ao ano, 10,5% ao ano e 10% ao ano, respectivamente.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas. Assim, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.

Quando a taxa Selic é reduzida a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.

Para André Matos, CEO da MA7 negócios, “a batalha contra a inflação ainda não está vencida. A projeção para 2025 segue acima da meta.”

“Isso indica que o aperto monetário, embora necessário, ainda não teve impacto suficiente para reancorar totalmente as expectativas do mercado. A leve revisão para baixo na inflação não elimina a necessidade de cautela por parte do Banco Central, que deve continuar vigilante antes de qualquer mudança de rumo na política de juros. O cenário global, com a possibilidade de estabilização dos juros nos EUA, pode aliviar parte da pressão sobre o câmbio, mas o desafio interno persiste: sem sinais claros de desaceleração da inflação de serviços e alimentos, dificilmente o BC encontrará espaço para cortes na Selic no curto prazo.”

Já para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimento, “a estabilidade das projeções para a Selic em 15% e o leve recuo nas expectativas para o dólar mostram que o mercado ainda enxerga um cenário desafiador, mas sob controle. Não há espaço, neste momento, para discutir cortes já que a discussão está entre uma nova alta ou uma pausa técnica ainda em 2025, caso haja melhora relevante nas expectativas. No geral, o Focus confirma que o mercado ainda testa o compromisso do BC com a convergência da inflação. A próxima reunião será decisiva para sabermos se o aperto atual foi suficiente ou se o Copom terá que seguir subindo juros.”

Com informações da Agência Brasil

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