Após quatro meses de alta, produção industrial caiu 0,4% em junho

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Empilhadeira na indústria (Foto: Nino Sartria/Sxc.Hu)
Empilhadeira na indústria (Foto: Nino Sartria/Sxc.Hu)

A produção industrial brasileira apresentou queda de 0,4% em junho, depois de quatro meses consecutivos de números positivos. O último recuo tinha sido em janeiro: 1,9%.

O setor acumula redução de 2,2% no primeiro semestre e de 2,8% em 12 meses. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o estudo, incluindo o resultado de junho, o setor ainda está 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, e 18% abaixo do nível recorde em maio de 2011.

Para o gerente da pesquisa, André Macedo, mesmo com quatro meses de crescimento em sequência, período em que houve alta acumulada de 1,8%, a indústria não havia recuperado a perda de janeiro. Com o resultado de junho, há uma acentuação do saldo negativo no ano (-0,5%) quando comparado com o patamar de dezembro de 2021.

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Segundo ele, a taxa de juros elevada e a inflação que segue em patamares altos estão entre os fatores que têm influenciado negativamente a indústria quanto à demanda. Além disso, há, ainda, a diminuição de renda das famílias e o desemprego, apesar da taxa de desocupação em queda nos últimos meses. O contingente de desempregados no país é de aproximadamente 10 milhões.

“A característica dos postos de trabalho que estão sendo criados aponta para uma precarização do mercado de trabalho e isso é refletido na massa de rendimento, que não está crescendo. Todos esses aspectos são fatos importantes e ajudam a explicar esse saldo negativo do setor industrial” observou.

O recuo de junho em comparação a maio se espalhou pela maioria das atividades econômicas analisadas pela pesquisa. A maior influência foi registrada no segmento de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%), que, nos dois meses anteriores, acumulou alta de 5,3%.

Segundo Macedo, esse segmento tem uma volatilidade maior de taxas. “No início do ano, houve queda na produção dos produtos farmoquímicos e farmacêuticos e, em abril e maio, ocorreu essa alta. Com o crescimento acumulado, o segmento tinha uma base de comparação mais elevada, o que justifica essa retração de dois dígitos”, contou.

O setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que caiu 1,3%, foi também um impacto importante no resultado de junho. “Nessa atividade, os itens que mais impactaram negativamente foram o álcool e os derivados do petróleo. Mas, mesmo com a queda, esse segmento opera 4,5% acima do patamar pré-pandemia, ou seja, tem um comportamento distinto da média da indústria” concluiu.

As outras contribuições para o resultado negativo do setor foram as atividades de máquinas e equipamentos (-2%), metalurgia (-1,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e outros equipamentos de transporte (-5,5%).

Na comparação com maio, nove atividades se expandiram. Os destaques no resultado geral da indústria, no campo positivo, foram produção de veículos automotores, reboques e carrocerias (6,1%) e indústrias extrativas (1,9%).

Em relação às indústrias extrativas, o avanço compensa a perda do mês anterior. “Esse crescimento foi pressionado por um maior ritmo na extração do minério de ferro. Antes da queda de maio, o setor extrativo teve três meses de taxas positivas, acumulando expansão de 6,5%”, disse.

Também avançaram em junho os segmentos de celulose, papel e produtos de papel (4,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (7,1%), produtos alimentícios (0,6%) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (4,3%). Entre as quatro grandes categorias econômicas, três recuaram frente a maio. A maior queda ficou com o setor produtor de bens de capital (-1,5%), depois de avançar 7,5% no mês anterior. Pelo segundo mês consecutivo, o setor de bens intermediários teve recuo, agora de 0,8%, acumulando perda de 2,3%. Com a queda de 0,7%, os bens de consumo semi e não duráveis interromperam dois meses de crescimento. No período, acumularam alta de 2,8%. O único avanço em junho foi do segmento de bens de consumo duráveis (6,4%), que intensificou a expansão do mês anterior (4,1%).

Segundo Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, e Eduardo Vilarim, economista da mesma instituição, “é interessante notar que parte da perda de ímpeto da produção industrial brasileira também faz parte da contração industrial global. Notícias mais recentes mostraram que as fábricas dos EUA, Europa e Ásia lutaram têm lutado para manter os níveis de produção, ao passo que as regras nacionais chinesas tentam equilibrar o controle da Covid-19 e avanço da atividade, o que pode ser visto através das quedas nos indicadores de PMI industriais desses países. Portanto, é de se esperar que os choques nas cadeias globais não sejam aliviados tão rápido quanto esperado, já que a fabricação nos próprios países desenvolvidos sofre. Por outro lado, é fato que a indústria nacional tem perdido competitividade internacional nos últimos anos, inclusive perdendo participação no próprio PIB brasileiro (de 15% para 11%). A indústria de alta tecnologia atingiu a menor participação nas exportações em 20 anos, cedendo espaço para indústria extrativa, de menor valor agregado. Assim, a perda de sustentabilidade da indústria atrelada a juros mais altos e menor demanda em função da renda comprimida das famílias trazem um cenário desafiador a frente, e que pode se estender em 2023, com expectativas de commodities alimentícias e metálicas a menores patamares de preço.”

 

Com informações da Agência Brasil

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