Areia, Paraíba, uma grata surpresa

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A melhor maneira de verificar o grau de descentralização da atividade científica no Brasil é visitar as dezenas de centros científicos criados a partir de 2003, quando esta descentralização se tornou marca da atuação de Roberto Amaral à frente do então Ministério de Ciência e Tecnologia.

Esta importante ação de descentralização teve continuidade nas administrações seguintes, sempre contando com o apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), sobretudo com os recursos do CT-Infra, criado para permitir a criação e consolidação da infraestrutura científica do país. Infelizmente, alguns membros do governo atuam para finalizar o FNDCT ou transformá-lo em instrumento para execução dos caprichos dos ministros de plantão.

Recentemente, tive o prazer de visitar o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, localizado na pequena e encantadora cidade de Areia. Sua população é de cerca de 23 mil habitantes, estando localizada a 618 metros de altitude, no topo da Serra da Borborema, com clima tropical úmido, muito diferente da região do semiárido que se encontra próxima.

 

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Exemplo de sucesso da política de

descentralização da atividade científica

 

A cidade se orgulha e reverencia seus filhos ilustres, entre os quais destacamos Pedro Américo e José Américo de Almeida. O primeiro obteve um doutorado em Ciências Naturais na Bélgica e se destacou como pintor de obras importantes, como Independência ou Morte (Museu Paulista), A Batalha de Avaí (Museu de Belas Artes), Fala do Trono (Museu Imperial), entre outros. O segundo destacou-se como romancista (A Bagaceira), tendo sido Membro da Academia Brasileira de Letras, ministro no governo de Getúlio Vargas e um dos fundadores da Universidade da Paraíba (UFPB).

O Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPB tem longa história, uma vez que se originou da Escola de Agronomia da Paraíba em março de 1934, que formou centenas de técnicos agrícolas para todo o Nordeste, transformou-se em um Curso Superior de Agronomia em 1937, formando, em 1940, seus primeiros engenheiros agrônomos. Logo, constitui o primeiro curso superior da Paraíba.

Com a criação da Universidade Federal da Paraíba em 1955, o CCA foi a ela integrado em 1968. Atualmente o CCA conta com 1.320 alunos de graduação nos cursos de Agronomia, Zootecnia, Ciências Biológicas, Química e Medicina Veterinária. Conta ainda com cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Zootecnia, Agronomia, Ciência do Solo e mestrados em Manejo e Conservação do Solo e Água, Ciência Animal e Biodiversidade.

São cerca de 540 alunos de pós-graduação que, junto aos de graduação, alcança a soma de 1.860 alunos que ajudam a transformar a pequena cidade em um ambiente noturno agradável e festivo, típico de cidades universitárias. Destaco ainda que o município conta com 117 engenhos, alguns produzindo cachaça de excelente qualidade.

Digno de nota é a excelente infraestrutura física e laboratorial do CCA, que soube aproveitar muito bem dezenas de casas mais antigas, mantendo sua arquitetura original. Os laboratórios de pesquisa estão bem equipados para estudos microbiológicos, químicos e físicos do solo, da água e de materiais, contando com equipamentos especializados, inclusive um sequenciador Ilumina, utilizado intensamente em estudos genômicos, inclusive em projetos em colaboração com grupos do exterior.

A presença de jovens pesquisadores bem formados em instituições do país e do exterior, aliado à presença de estudantes altamente estimulados e motivados, asseguram o sucesso da CCA da UFPB, certamente um dos mais produtivos de uma universidade que vem crescendo em produção científica, incluída entre as 20 universidades mais importantes do país. Espero retornar em breve a Areia, quando da inauguração do seu microscópio eletrônico, concedido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Wanderley de Souza

Professor titular da UFRJ, é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.

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