Argentina divulga hoje sentença de processo sobre Operação Condor

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A Argentina juntou provas suficientes para concluir, nesta sexta-feira, o histórico processo sobre a Operação Condor – a aliança dos anos 70 entre seis ditaduras sul-americanas para reprimir e eliminar opositores aos regimes militares. Foram 17 anos de investigação e mais três de audiências, para ouvir 222 testemunhas – metade das quais vive no exterior.
No banco dos réus estarão 16 argentinos e um uruguaio, acusados de terem formado uma “associação ilícita” para cometer crimes de lesa-humanidade contra 105 pessoas: 45 uruguaios, 22 chilenos, 14 argentinos, 13 paraguaios e 11 bolivianos.
O Brasil também participou da Operação Condor. Nenhum brasileiro integra a lista de vítimas desse processo – mas haverá outro, disse à Agência Brasil a advogada Luz Palmas Zaldua, do Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels).
– A morte do ex-presidente João Goulart, por exemplo, ainda está sendo investigada.
A sentença será transmitida ao vivo às 17h  (horário argentino) em Buenos Aires e nos consulados argentinos em seis cidades da América do Sul, entre elas São Paulo e Porto Alegre. Os promotores pediram sentenças de 20 anos. Nenhum dos 17 réus está em liberdade: a maioria está em prisão domiciliar por causa da idade. Para Luz Palmas Zaldua, “o julgamento é histórico” porque tem alcance regional.
– É a primeira vez que julgamos um sistema criminal, armado para fazer desaparecer pessoas, em vários países.
Entre as vítimas está Norberto Habegger – um dos três argentinos que desapareceram no Rio de Janeiro. O filho de Norberto, o cineasta Andrés Habegger, tinha 9 anos em 1978, quando o pai dele viajou do México (onde ele vivia com a mãe no exílio) ao Brasil (para uma reunião com do grupo guerrilheiro argentino Montoneros).
– Ele desembarcou no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e desapareceu, sem deixar rastro – conta Habegger, que nos últimos anos tem tentado reconstruir os últimos dias do pai, cujo corpo jamais foi encontrado. Ele prestou depoimento na Comissão da Verdade do Brasil e obteve mais documentos, provando a cooperação de militares brasileiros e argentinos no desaparecimento do pai.
Este ano, Andrés vai lançar o documentário “El impossível Olvido” (O Impossível Esquecimento).
– Mais cedo ou mais tarde, o passado reaparece –  e só vamos poder seguir adiante quando conseguirmos armar o quebra-cabeça, sem esquecer nenhuma peça – disse ele.

Agência Brasil

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