Arrumando a casa

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Alvaro Bandeira (foto divulgação)
Alvaro Bandeira (foto divulgação)

Ontem foi dia de caminhão carregado descendo a ladeira sem freio nos mercados de risco do mundo. A Bovespa terminou o dia com queda de 2,33%, em 108.843 pontos, e fez mínima em 107.520 pontos. O dólar encerrou cotado a R$ 5,33 (+0,93%), mas fez máxima acima de R$ 5,377, e juros voláteis para todos os vencimentos.

Investidores buscaram proteção durante todo o dia, e as reações foram mínimas, exceto por pequena melhora no final dos pregões. O fato detonador foi a expectativa de a incorporadora chinesa Evergrande contaminar outros segmentos e risco financeiro de não pagar serviço da dívida que vence no próximo dia 23 (depois de amanhã), em montante estimado de US$ 83,5 bilhões. A busca foi por ouro treasuries e dólar pressionado na compra.

Hoje, aparentemente, o dia está sendo de arrumar a casa bagunçada de ontem, ainda com Xangai e Seul com feriados (paradas) e Tóquio voltando de feriado com queda de 2,16%, mas com Hong Kong recuperando alta de 0,51%. Europa começando o dia com boas altas e até acelerando, e o mesmo ocorrendo com os índices futuros do mercado americano. Aqui, há bastante espaço para recuperação em função das perdas recentes, e os ADRs da Vale subiam no pré-mercado mais de 3%. O mesmo acontecia com o ETF mais conhecido, o EWZ.

No exterior, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou suas projeções de crescimento do PIB em 2021 e 2022, com o PIB global crescendo 5,7%, EUA com redução para 6% (de 6,9%), China mantida em +8,50% e Zona do Euro com alta para 5,3%, de anterior em 4,3%. Para o Brasil, alta em 2021 de 5,2%, vindo de anterior em 3,7%.

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Nos EUA, os Democratas querem elevar o teto da dívida e retirar as amarras até o fim de 2022. Joe Biden declarou que, se o teto não for elevado, haverá default da dívida e o país poderá entrar em recessão. Mas os Republicanos não querem fazer acordo bipartidário.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 1,18%, com o barril cotado a US$ 71,72. O euro era transacionado em alta para US$ 1,173, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,33%. O ouro e a prata mantinham altas na Comex, e commodities agrícolas em recuperação das perdas de ontem na Bolsa de Chicago.

Aqui, teremos nova reunião dos presidentes da Câmara e do Senado sobre precatórios, que deve contar com a presença de Paulo Guedes, que não foi para Nova Iorque com Bolsonaro. Aliás, hoje, o presidente fala na abertura da Assembleia Geral da ONU, e vamos ter que avaliar seu discurso e desempenho. Até aqui, não foi bem por conta de não estar vacinado.

A agenda do dia está vazia de eventos importantes e, nos EUA, teremos as construções de residências em agosto e novas permissões. Mas a tensão continua com a Evergrande. Expectativa para o dia de Bovespa em recuperação, dólar mais fraco e juros menos pressionados.

Ninguém sabe muito bem como as coisas ocorrem e como são tratadas na China no que tange a economia e o sistema financeiro. Mas é fato que a situação da gigante incorporadora chinesa Evergrande está assustando todos os investidores desde a semana passada. Há quem diga que tem o mesmo poder de arrasto da situação, iniciada pela quebra da instituição centenária Lehman Brothers, mas achamos isso um exagero (mas também não temos certeza). Não vemos poder de arrasto nessa situação, apesar de que muitos sairão chamuscados. Ontem, os mercados refletiram isso desde a madrugada na Ásia, com o agravante de alguns mercados fechados por feriados, como Xangai, Tóquio e Seul. Em Hong Kong, as ações da Evergrande caíram mais de 13%. O efeito foi uma corrida por ouro, derivados, treasuries (ouro em alta e taxa de juros em queda) e investimentos em dólar. Os mercados acionários sentiram bastante e, aqui, passamos rapidamente pela zona de suporte de 110 mil pontos.

A segunda-feira até que esteve com noticiário mais tranquilo no exterior. Na Rússia, o partido de Putin manteve maioria ampla na votação, capaz mesmo de mudar a Constituição. Na Zona do Euro, ficou o alerta do Banco Central Europeu (BCE) de que na pandemia a compra de ativos é indispensável, acalmando e melhorando o nível de confiança. Mas os efeitos positivos podem se tornar negativos mais adiante. Já o BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais) afirmou que os efeitos da inflação são transitórios, mas que há desconforto na curva de juros.

Nos EUA, tivemos a divulgação da confiança do setor de construção (NAHB) de setembro, em alta para 76 pontos, quando o previsto era 75 pontos. Ainda por lá, questionado sobre o problema com a Evergrande, a resposta foi que o Tesouro, comandado por Janet Yellen, sempre monitora os mercados no nível global. Dirigentes do Fed mantiveram discurso para retirada de estímulos, mas alertam para o impacto da variante Delta da Covid-19.

No mercado internacional, ontem foi dia de petróleo WTI em queda de 1,67%, com o barril cotado a US$ 70,77. O euro era transacionado em leve alta para US$ 1,173, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,30%. O ouro em alta e a prata em queda na Comex, e commodities agrícolas com quedas na Bolsa de Chicago. O minério de ferro com novo desmanche de 8,8% em Qingdao, na China, com a tonelada já em US$ 92,98. Nos últimos seis pregões, o minério acumula queda da ordem de 30%, efeito também em boa parte da Evergrande.

A nova pesquisa semanal Focus, do BC, trouxe a inflação pelo IPCA novamente em alta para 8,35%, vindo de 8%, e 2022 subindo para 4,10%. A taxa Selic também evoluiu para 8,25%, equivalente a alta de 1% nas três últimas reuniões do ano, e 2022 com taxa de 8,50% (anterior em 8%). O PIB projetado para o fim do ano ficou estável em 5,04%, e o dólar em R$ 5,20. O saldo previsto de superávit para a balança comercial encolheu para US$ 70 bilhões, com 2022 estável em US$ 63 bilhões. Até a terceira semana de setembro, o superávit comercial está em US$ 54,5 bilhões. O déficit primário em 1% do PIB (queda) e o nominal estável em 6,10%.

Do lado político, os governadores expressaram que a gasolina é um problema nacional e não de alguns estados, que já subiu no ano mais de 40%, mesmo sem alta do ICMS. No segmento doméstico, dia de dólar em alta, vazando cotação de R$ 5,37, para encerrar o dia com +0,93% e cotado a R$ 5,33. No segmento Bovespa da B3, na sessão do último dia 16, os investidores estrangeiros sacaram recursos no montante de R$ 241,6 milhões, deixando o saldo de setembro novamente negativo em R$ 18,8 milhões e no ano de 2021 com ingresso líquido de R$ 437,1 bilhões.

No mercado acionário, dia de queda de 0,79% na Bolsa de Londres, Paris com -1,74% e Frankfurt com -2,31%. Madri com queda de 1,20% e Milão com perda de 2,57%. No mercado americano, dia de queda do Dow Jones de 1,78% e Nasdaq com -2,19%. Na Bovespa, na mínima do dia, chegamos aos 107.520 pontos, para encerrar com queda de 2,33% e índice em 108.843 pontos. Destaque negativo para Vale e siderúrgicas, mas não escapou quase nada.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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