Índice P/L está em 7,3x. Última vez em que esse nível foi negociado foi em 2005.
Há uma discussão no mercado de capitais brasileiro sobre o verdadeiro preço das ações. Afinal, os papéis estão ou não baratos? A grande maioria dos analistas destaca que a bolsa brasileira está sim muito barata, mas o que eles estão levando em consideração para afirmar isso?
Em primeiro lugar, precisamos analisar os múltiplos, e os múltiplos da bolsa estão bem atraentes. O Ibovespa está sendo negociado a preços que correspondem a cerca de 7,3 vezes o lucro projetado de 12 meses das ações que o compõem, dois desvios-padrão abaixo dos níveis históricos desse múltiplo, sendo que a última vez que o Ibovespa negociou neste nível foi em 2005.
Mesmo removendo Petrobras e Vale, os preços permanecem baixos, com o índice em 8,8 vezes o Preço/Lucro (P/L) projetado de 12 meses, também dois desvios padrão abaixo da média ajustada.
Quando analisamos as ações sob a ótica dos setores, elas também se mostram baratas. A maioria dos setores que compõe o índice está abaixo ou próximo da respectiva média de longo prazo no critério P/L projetado de 12 meses.
Mas o que está por trás desse fenômeno sobre os preços dos papéis? Bom, há fatores tanto internacionais quanto nacionais que devem ser considerados.
Um dos motivos de ordem internacional é o início do ciclo de alta das taxas de juros promovido pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano, para combater a inflação. Além disso, pesam sobre o cenário inflacionário global a política de tolerância zero da China no combate ao coronavírus, cujos lockdowns para evitar a disseminação do vírus têm afetado a cadeia de produção global, e a guerra na Ucrânia, que continua afetando o preço das commodities agrícolas e de energia.
Já os motivos nacionais, para a aversão ao risco entre os investidores, são os crescentes riscos fiscais e eleitorais. Com a eleição chegando, os investidores avaliam as propostas dos candidatos e, após o anúncio do presidente eleito, seguirão atentos à implementação de sua política econômica. Como o futuro da situação fiscal do país está incerto, os investidores avaliarão com muita atenção o novo governo, principalmente no caso de uma transição de poder. Uma boa passagem de bastão pode influenciar positivamente o desempenho da bolsa.
Para o investidor focado no longo prazo, esta conjuntura é uma excelente oportunidade de compra, dado que encontramos diversas ações que estão sendo negociadas a preços atraentes e a tendência é que a conjuntura macroeconômica melhore no futuro próximo, quando o conjunto de incertezas associadas aos fatores retro mencionados diminua.
Assim, vale lembrar o conselho do megainvestidor Warren Buffet: “Os investidores devem ser medrosos quando os outros forem gananciosos e gananciosos quando os outros forem medrosos”. Em outras palavras, o momento parece ser favorável para aproveitar a conjuntura adversa e comprar empresas com fundamentos sólidos que estão sendo negociadas muito abaixo do seu valor justo.
Gabriel Augusto Mollo é analista de investimento do banco Daycoval.