As Big Techs são racistas?

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Unidos contra o racismo
Unidos contra o racismo (foto de Claudio Centonze, CE)

The Intercept, uma publicação na forma de jornal online independente lançada nos Estados Unidos em fevereiro de 2014 pela First Look Media, se interrogou: “As Big Techs são racistas?” A dúvida – ou melhor, a verdadeira reclamação – foi apregoada pelo The Intercept, que relançou a história de uma mulher afro-americana que, tendo respondido a um pedido de contratação no Facebook, disse que se encontrava num labirinto kafkiano, com esperas intermináveis, entrevistas de emprego inescrutáveis, apenas para serem descartadas com muitos elogios à sua inteligência, mas não adequada para a tarefa exigida.

Em particular, a jovem afirmou que os seus interlocutores eram todos brancos, aliás que a única pessoa negra que conheceu, nas suas idas e vindas, no labirinto em questão, foi uma “recepcionista”.

“A reclamação – se lê no jornal dos EUA – torna-se evidente, constatando que grandes empresas do Vale do Silício não estão diversificando suas forças de trabalho, predominantemente brancas e asiáticas, com rapidez suficiente, particularmente em funções técnicas e gerenciais bem remuneradas.”

E o jornal segue: “O último relatório de diversidade do Facebook, lançado em julho passado, relatou que apenas 3,9% dos seus funcionários norte-americanos são negros e 6,3% são hispânicos. Por sua vez, o Google afirmou que, em 2020, seu quadro de funcionários nos EUA era 5,5% de negros e 6,6% de latinos e, assim como o Facebook, tem enfrentado repetidas acusações de práticas racistas.”

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O vento mudou de direção, e é provável que as coisas mudem, talvez, em breve. As denúncias de “racismo sistemático” também foram dirigidas à Amazon, que lançou uma investigação interna e expressou solidariedade à acusadora.

Se relatamos essas notícias, é porque parece um tanto irônico que essas mesmas empresas estivessem na vanguarda da denúncia do racismo dos partidários de Trump, durante a última campanha presidencial. Em suma, verifica-se que aqueles setores que denunciavam o racismo alheio eram profundamente racistas!

Uma pesquisa da revista Forbes, do ano passado, informa que apenas 7, entre 614 bilionários americanos, são negros, ou seja 1,14%. Nos Estados Unidos, os afro-americanos representam 13% da população. Porém, é ainda mais significativo percorrer a lista desses 7: praticamente, apenas dois vêm do mundo das finanças e dos setores das novas tecnologias; os outros 5 vêm do mundo dos esportes e do entretenimento: Michael Jordan, Oprah Winfrey, Kanye West, Jay-z, além do menos conhecido autor e produtor cinematográfico Tyler Perry.

E isso não apenas nos níveis altos! The Intercept fez um pequeno experimento, replicável por todos: inserindo as palavras “broker wall street” na janela de pesquisa do Google, pode-se verificar quantas pessoas negras surgirão nas “imagens” encontradas.

Dito isto, a questão racial continua sendo apenas uma das muitas problemáticas em jogo. Enquanto o problema está sendo tratado, neste momento, permanece, no entanto, o fato de que esteja sendo silenciada a maior desigualdade atual, aquela relativa à distribuição da riqueza, que está se acumulando, cada vez mais, nas mãos de poucos, às custas das multidões (com um processo acelerado durante o pandemia).

Nada se fala sobre isso na grande mídia, a não ser, de vez em quando, o mero registro dos dados; nenhuma política séria foi posta em prática no Ocidente para remediar esta deriva escandalosa e desastrosa, tanto economicamente, quanto em relação à manutenção da democracia, uma vez que as oligarquias tendem a se perpetuar e aumentar seu poder.

Ao contrário, tem-se a impressão de que agitar os demais problemas, do racismo à emergência climática, às vezes, ou muitas vezes, tem essa função (além da boa-fé de quem, felizmente, para todos, se dedica a ela): a de dirigir a atenção e as demandas a outros planos e não àquele em que o futuro da humanidade está realmente em jogo.

O resultado seria o de um planeta mais limpo, no qual brancos e negros andem de mãos dadas, tornando-se, apenas, um planeta dedicado ao uso e consumo exclusivo de poucos eleitos, que reinariam sobre uma multidão de escravos, aos quais nem mesmo caberia o mero direito de operadores, no que diz respeito ao destino real da res publica global. No máximo, o povo poderia ter um assento como espectador no teatro montado para ele pela grande mídia.

Previsão excessivamente catastrófica? Talvez, mesmo que muito desse futuro já exista. Se pensarmos que, 30 anos atrás, alguém escreveu que “26 indivíduos possuem a riqueza de 3,8 bilhões de pessoas” (jornal italiano Sole24 Ore) e que tivesse previsto que o ano da pandemia seria “um ano maravilhoso para os homens mais ricos do mundo” (EuropaToday, site italiano de informações, especializado em assuntos relativos à União Europeia), este alguém facilmente teria sido apontado como um propagador louco de fake news.

 

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.

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