As causas do desemprego

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Muitos analistas econômicos e o próprio governo têm se surpreendido com os “alarmantes” índices de desemprego existentes no Brasil. A Comissão de Economia, Banking e Finanças da Anefac, há algum tempo, já vinha apontando em suas análises para o crescimento do desemprego no Brasil.
Estas análises apontavam vários fatores que provocariam o aumento do desemprego que atingiu 7,82% no primeiro semestre, o maior índice desde 1983, segundo o IBGE. (início da série). Em nossas análises, dentre as principais causas pelo “previsível” aumento do desemprego, a mais óbvia é a política econômica do governo, com contenção do crescimento. O aperto recessivo emergencial em 1999, por conta de políticas monetárias e fiscais massacrantes devido a um setor público anacrônico e perdulário, além da crise asiática/russa e nossa dependência externa.
Mas mais preocupantes são os fatores estruturais, cujos efeitos ainda se farão sentir. Os mais importantes são a modernização tecnológica que elimina setores inteiros, a privatização que enxuga as antigas empresas estatais e a reorganização produtiva em setores importantes (como o automobilístico ou o bancário), onde as fusões e aquisições exigem racionalização e demissões.
A mesma tecnologia que destrói setores ou reduz empregos em fábricas que se modernizam tem sido um fator de desenvolvimento de novas oportunidades. As tecnologias da informação e da automação, por exemplo, reclamam cada vez mais a incorporação de trabalhadores mais qualificados.
Se o sistema educacional brasileiro for reformado rapidamente, essas exigências de qualificações poderão ser atendidas, abrindo oportunidades de emprego.
O emprego deve reduzir-se nas estatais privatizadas, mas outras empresas privadas ocupam espaços novos, criados por novos investimentos (novos complexos industriais automobilísticos, por exemplo).
As absurdas taxas de juros praticadas tanto pelo governo (TBC – 19,50% ao ano) inviabilizam investimentos e novos empregos, bem como as taxas de juros praticadas pelo comércio e sistema financeiro (200% ao ano) provocam esgotamento da capacidade de compras, transferindo a renda e aumentando a inadimplência. Este aumento da inadimplência coloca fora do mercado de consumo estes consumidores, provocando queda das vendas, da produção e aumento do desemprego.
Outros fatores preponderantes foram a abertura comercial imprudente; a valorização cambial; os custos trabalhistas que oneram demasiadamente as folhas de pagamento das empresas em virtude de leis ultrapassadas; o aumento de pessoas buscando novos empregos, principalmente mulheres para complementar renda familiar; trabalhadores permanecendo mais tempo no trabalho adiando aposentadoria; o elevado déficit público esgota a capacidade do estado de investir em infra-estrutura, reduzindo assim a oferta de emprego, e provocando um baixo volume de investimentos que atinge 17% do PIB quando já foi de 25%; a falta das reformas; o custo Brasil fazendo que os produtos brasileiros percam competitividade no mercado externo, e a possibilidade de aumentar vendas e empregos.
Vale ressaltar que a prioridade do governo tem sido a estabilidade da moeda. Entretanto, apesar da importância desta estabilidade, de nada adianta se as pessoas não podem trabalhar, ganhar e comprar e isto só resolveremos definitivamente quando voltarmos a crescer 6% ao ano, o que deve demorar.
Enquanto isso e tendo em vista que crescer aos níveis de 6% ao ano a curto prazo é inviável seja pelas reformas não realizadas, seja pela dependência de financiamentos externos que provoca uma necessidade de praticar taxas de juros estúpidas, seja pelo elevado déficit público, etc. etc. etc., que tal baixar os juros (ou carga tributária das aplicações financeiras para), flexibilizar as leis trabalhistas (redução da jornada de trabalho, contratação sem encargos, vínculo empregatício, redução da carga fiscal sobre o emprego, criação de cursos vocacionais e educação e treinamento suplementares etc.), reduzir os encargos sobre consumo (IOF) e investir em treinamento de desenvolvimento profissional?

Miguel José Ribeiro de Oliveira
Presidente da Ribeiro de Oliveira Consultores e vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

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