As prefeituras e o uso da Inteligência Artificial

Segundo Vitor Roma, o que vai fazer a diferença na utilização da Inteligência Artificial por parte das prefeituras, é a capacidade de usá-la para maximizar projetos.

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Vitor Roma (foto keeggo)
Vitor Roma (foto divulgação keeggo)

Tendo em vista as eleições municipais, conversamos com Vitor Roma, CEO da keeggo, sobre a utilização de Inteligência Artificial (IA) por parte das prefeituras.

Como as prefeituras poderiam utilizar a Inteligência Artificial?

Todas as empresas, instituições e organizações, inclusive os governos, deveriam estar atentos a adoção da IA e os seus ganhos de produtividade. Nós vivemos um momento de revolução tecnológica nunca antes visto. Nem o surgimento da internet foi nessa velocidade. Qualquer líder, seja empresarial ou governamental, deveria estar por dentro do que está acontecendo.

A IA deve ser utilizada na otimização do dinheiro público. Nós estamos falando em temas como educação, tráfego, segurança e saúde. Por exemplo, com relação à educação, a IA remodela toda uma capacidade de se gerar conteúdo para os alunos, sobretudo na geração de diferentes conteúdos voltados para alunos que aprendem de forma diferente, já que existem alunos que preferem aprender lendo, outros ouvindo e outros enxergando.

Com relação ao tráfego, nós temos uma série de problemas nas grandes cidades brasileiras, sendo que a IA pode ajudar na inteligência urbana, como a organização dos semáforos ou na mudança de sentido de vias. Ela também pode ser utilizada no transporte urbano para otimização de linhas de ônibus e de metrô em horários de pico. Na segurança pública, nós temos a questão das câmeras com reconhecimento facial e comportamental, que é tão importante quanto o facial. Com relação à saúde, a IA pode ser utilizada na previsão de diagnósticos, o que ajuda na prevenção de doenças.

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Tudo isso pode ser feito com um algoritmo de IA. Não utilizá-la em soluções urbanas reais é um desperdício de dinheiro, tempo e inteligência.

Se lá fora já existem cidades que estão voando nesse assunto, por que estamos tão atrasados aqui dentro?

O Brasil sempre careceu de intercâmbio cultural e um pouco de vontade de fazer. Por exemplo, fazendo uma alusão à vida empresarial, que é a minha especialidade, todos os dias eu me atualizo sobre o que está acontecendo lá fora. Eu pego um avião ou mando um engenheiro ou um técnico que trabalha comigo para ver o que está acontecendo. Os governos deveriam entender o que está acontecendo lá fora. Saindo do tema IA, o Rio tem problemas com ressacas, que muitas vezes invadem as ruas. A cidade de Amsterdan cuidou desse problema 100 anos atrás.

Deveria ser uma obrigação dos governos criar um intercâmbio cultural de aprendizado para trazer boas práticas para cá, mas isso não acontece. Em uma empresa, sempre se está falando em produtividade, competência e na entrega do melhor serviço possível para os seus clientes. Para fazer isso, a empresa tem que estar sempre atualizada. Um governo também deveria ser assim.

Quais são os casos de uso de IA em cidades do exterior que mais lhe chamaram a atenção?

Londres tem uma capacidade de desvendar questões relacionadas à segurança pública devido às câmaras interligadas ao seu serviço de inteligência. Com relação aos desafios climáticos, os Estados Unidos conseguiram melhorar muito a sua capacidade de antever problemas relacionados a tornados e furacões, que afetam muitas cidades no centro do país, com o uso de IA. Além disso, nós temos o uso de IA na ordenação do tráfego em cidades como Seul, Madrid e Barcelona. Até Istambul, capital da Turquia, que está no mesmo patamar do Brasil, já está fazendo isso.

A IA é um mar de oportunidades, mas ela não vai trazer a solução para todos os nossos problemas. O que vai fazer a diferença é a capacidade de usá-la para maximizar os nossos projetos.

Eu trabalho com tecnologia há 25 anos e já vi de tudo nesse mercado relacionado a novas ferramentas e novas metodologias. Eu costumo dizer que quem ganhou dinheiro de verdade com a corrida do ouro americana foi quem vendeu pá, picareta e calça jeans, pois poucos ganharam dinheiro achando ouro. A IA é a nova corrida do ouro. Eu vou a reuniões em que me perguntam o que eu tenho de IA.

Há muitos anos, a Gartner lançou um paper que dizia que 75% do dinheiro gasto em desenvolvimento de software vai para o ralo. Como todo mundo está falando de IA e na sua utilização, vai se jogar um monte de dinheiro fora. Isso vale para as prefeituras, pois elas deveriam ficar atentas para perder o menos possível de dinheiro no caminho. Isso porque uma coisa é gastar o dinheiro de uma empresa, e outra é o dinheiro público que poderia ir para um hospital, uma escola ou para a segurança.

Colocar recursos públicos em um projeto de IA  pode gerar um benefício, mas existe risco, e boa parte do investimento pode ir pelo ralo, pois é assim que funciona a curva de adoção de tecnologia. É por isso que é preciso ter muito cuidado, e aqui eu volto na questão do intercâmbio. Quanto mais as prefeituras verem o que já foi feito, maiores são as chances dos projetos darem certo. O que não pode é achar que se vai inventar a roda do zero.

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