Ata da reunião do Copom mostra tom mais duro

Piora do mercado internacional dá o tom na ata da reunião do Copom de novembro

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reunião do copom
Reunião do Copom (foto Raphael Ribeiro, BCB)

O Banco Central divulgou nesta terça-feira a ata da reunião do Copom da semana passada, que decidiu pela redução da taxa de juros básica (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 12,25% ao ano.

“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, conforme o documento.

Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, a ata da reunião do Copom de novembro “mostrou um tom bem mais coeso e um pouco mais hawkish [pessimista] do que o observado nas duas reuniões anteriores, com uma sinalização clara da necessidade de cautela diante da incerteza do cenário internacional”.

Goldenstein destaca os seguintes pontos:

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  • a caracterização do ambiente externo como mais adverso e volátil, com seus mecanismos de transmissão sobre a economia doméstica (como os efeitos sobre a rolagem da dívida e a taxa de câmbio) devendo ser incorporados na tomada de decisão;
  • a evolução do cenário doméstico (trajetória de desinflação e de arrefecimento da atividade) em linha com o esperado;
  • o esgotamento de algumas fontes de desinflação, mas em linha com o antecipado;
  • a permanência da preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação;
  • o aumento das projeções de inflação no horizonte relevante devido principalmente à alteração da estimativa de preços administrados para 2024 e a um hiato do produto mais apertado;
  • o recado de que, apesar do progresso desinflacionário relevante, há ainda um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta;
  • a menção ao aumento do prêmio de risco devido à maior incerteza em torno da meta fiscal;
  • a exclusão do trecho que citava os fatores que poderiam levar a uma intensificação do ritmo de ajuste monetário.

“Nesse sentido, o conteúdo da ata deu um grande peso ao ambiente de incerteza, com destaque para o cenário global, o que demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. Além da sinalização de manutenção do ritmo de queda de 50 bps nas próximas reuniões caso se confirme o cenário esperado, fica claro que saiu do radar do Copom, pelo menos neste momento, a possibilidade de aceleração do ritmo”, conclui o estrategista-chefe da Warren.

como o copom decide os juros; ata da reunião do copom
Como o Copom decide os juros (elaboração BCB)

Piora da economia global não afetou câmbio, diz ata da reunião do Copom

Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, classificou a ata da reunião do Copom de novembro como rígida, “porque abriu-se um debate de um dos membros sobre a piora do balanço de riscos mesmo com inflação para 2023 e 2024 mantidas. Essa piora é em relação ao mercado internacional com aumento dos riscos pelo aperto monetário prolongado nos EUA”.

Em relação à situação interna, Saadia avalia que o documento usa um tom diferente para falar do fiscal. “Antes o Banco Central levantava dúvidas sobre o cumprimento da meta. Dessa vez, o comitê levanta a uma incerteza adicional se a própria meta vai ser alterada.”

A ata ainda desdobra os impactos da piora da economia global no Brasil que não surtiu efeito sobra a taxa de câmbio, se manteando estável por conta da forte balança comercial. “Todo o impacto foi absorvido na forma de taxas de juros brasileiras mais altas”, analisa Saadia.

A ata da reunião do Copom de novembro descreve o ambiente externo como “adverso”, em função da “elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas”. “O Comitê avalia que o cenário exige atenção e cautela por parte de países emergentes”, complementa o Copom.

“No âmbito doméstico, o conjunto de indicadores recentes de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração esperado pelo Comitê. Nota-se uma desaceleração nos dados de atividade referentes a agosto, em particular em serviços. Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem”, destaca a ata.

Inflação segue trajetória ‘benigna’

Sobre a inflação ao consumidor, “segue a trajetória esperada de desinflação, com uma composição benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação. Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta”, analisa o Copom.

Sobre a decisão de reduzir a Selic em 0,50 ponto percentual, a ata da reunião do Copom destaca que “sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, conclui a ata da reunião do Copom de novembro.

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