A comparação feita recentemente por certo jornalista entre as possíveis consequências da troca de brasileiros por japoneses no sentido da construção do futuro brasileiro –parecer divulgado nas mídias que alcançam o povo – foi uma infeliz, porém reveladora, manifestação equivocada de um cérebro que entendemos bem limitado, seja no contexto histórico, seja no antropológico.
Quem conhece um pouco da história japonesa, mormente a mais antiga e a da primeira metade do século XX, identifica um povo submisso a lideranças dominadoras bárbaras que o levaram a atrocidades e total desrespeito ao exercício da solidariedade para com os demais povos. Que diga a história dos vizinhos asiáticos antigos e a do período que antecedeu 1945…
Desamor para com o brasileiro e
sua cultura, rotulando-o como incapaz
Por outro lado, negar a capacidade benfazeja desse caráter de submissão, que foi capaz de reerguer – depois da tragédia nuclear mutiladora – uma nação destroçada, cuja natureza não lhe premiou com a água essencial nem com as riquezas eleitas pela ambição do ser humano, seria – semelhantemente àquela manifestação – um rompante de extrema ignorância dos fatos. Porém, valer-se do valor do caráter daquela cultura para espezinhar as qualidades positivas do povo brasileiro é maldade que esconde outras intenções, daí o caráter revelador da manifestação.
Nas rodas populares – sem apelar para a ciência de um Suassuna – o povo brasileiro é reconhecido como um povo bom, capaz de proezas nos campos sociais e humanos e, em que pesem suas inúmeras diferenças regionais agravadas pelo despreparo educacional e intelectual produzido pelos desgovernos, alcança destaque também no campo tecnológico do desenvolvimento, com exemplos que nos reservaremos deixar para comentar em outros trabalhos.
E para que tal omissão momentânea não gere um vazio nessa nossa atual consideração, lembremos somente dos feitos da Petrobrás, reconhecidos em todo o mundo e premiados exaustivamente por segmentos idôneos da Ciência Universal.
Naquele jornalista, de passado bem conhecido dos tempos nos quais transitava na mídia dominadora e subserviente do poder excepcional, jamais ficou oculta uma tendência intelectual no trato das coisas de interesse nacional, o que, por si só, já o identificara como alguém de pensamento excludente, para cujo raciocínio não cabia levar em conta pensamentos libertários que tangenciassem, pelo menos, teorias de cunho mais social.
Seu compromisso – fiel ao da empresa jornalística que o acolhia à época e ao regime de censura prevalecente – pintava com uma máscara de sobriedade um mundo maravilhoso de Brasil democrático (!), de crescimento exponencial e de vida justa aos seus filhos.
Hoje, em intervenções que lhe são garantidas pela mídia pós-moderna e por patrocinadores capazes de mantê-lo, torna público o seu tradicional desamor para com o povo e sua cultura, rotulando-o diretamente como incapaz de tratar de seu futuro, salvo se transformações de caráter cultural intercontinental – como as de um milagre de metamorfose japonesa – forem processadas.
Por ora, ficamos na simples consideração do comentário esdrúxulo, mas vamos permanecer atentos na busca do que tenha sido a intenção do jornalista. Sabemos que há um propósito por trás da infelicidade da manifestação. Sabemos que ela é ofensiva e desmoralizante. Sabemos que os lobos se travestem de cordeiros. Sabemos que os adversários do povo prevalecem-se dos momentos propícios para fingir que estejam trocando de camisa – às vezes, até pedindo perdão – assumindo com atitudes demagógicas o perfil de nacionalistas a partir de gestos que venham servir de suporte às futuras entregas de caráter alienígena.
Essa gente sempre foi e continua perigosa…
Edson Monteiro
Engenheiro, professor e escritor, é conselheiro do Clube de Engenharia.