Ativos problemáticos de crédito devem continuar a crescer

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A recessão tem afetado a economia brasileira, mas o quadro não tem se propagado no sistema financeiro. A avaliação consta do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) divulgado pelo Banco Central. “As consequências desse período turbulento não têm se propagado de forma tão acentuada para o sistema financeiro”, cita o documento. O BC reconhece que há riscos no horizonte, mas o sistema financeiro segue resiliente.
A retração da economia afetou especialmente os setores da economia voltados para o mercado interno, cita o BC. “Como consequência, por exemplo, os requerimentos de recuperação judicial em 2016 foram recordes na série iniciada em 2012. Esse cenário contribuiu para deterioração na carteira de crédito a empresas não financeiras nos últimos doze meses”, reconhece o BC.
De acordo com o relatório, o estoque de crédito no Brasil deve continuar em declínio no curto prazo, com os “ativos problemáticos” em ascensão. Mas, segundo o diretor de Fiscalização do BC, Anthero Meirelles, o sistema bancário apresenta sólidos índices de capitalização e baixa alavancagem, tanto em relação à regulação atual quanto àquela prevista para 2019.
Segundo o BC, o risco ganhou corpo principalmente no crédito concedido a grandes corporações. Esses ativos problemáticos representavam cerca de 4% do crédito concedido a empresas em dezembro de 2014 e, no final de 2016, atingiram mais de 8%.
“O aumento de requerimentos de recuperação judicial e o volume de operações com empresas em dificuldade financeira reforçam a percepção de que o risco de crédito a corporações permanecerá elevado no curto prazo”, trouxe o documento do BC.
Apesar desse cenário, em meio à fraca atividade econômica, o BC mostrou que a provisão para cobertura desses ativos “tem aumentado e está compatível com o perfil de risco dessas carteiras, o que minimiza a possibilidade de dano à estabilidade do sistema”. A queda da taxa básica de juros também ajudará as empresas não financeiras, bem como a melhoria das perspectivas econômicas.
Para pessoas físicas, acrescentou o BC, os ativos problemáticos da carteira atingiram o maior nível desde 2013, embora com ritmo de crescimento marginal decrescente, o que sugere que o pico de materialização de risco está próximo.
“Contudo, há perspectiva de estabilização para a rentabilidade em 2017, fruto da recuperação da margem de crédito”, afirmou o BC.
A reação na margem de lucro do crédito deve prevalecer no curto e médio prazo “pela redução do custo de captação, pelo arrefecimento da necessidade de novas provisões e pela maior rentabilidade do estoque de crédito, fruto do aumento da participação das operações concedidas a taxas mais elevadas nos últimos dois anos”. O BC também cita o efeito positivo da queda das despesas administrativas, incremento das tarifas com seguros e cartões e eventual redução na trajetória contracionista do crédito.
O BC cita ainda que, apesar desse cenário econômico desafiador, “a percepção do mercado é que houve redução significativa na probabilidade de ocorrência de um evento de alto impacto no sistema financeiro tanto no curto quanto no médio prazo”.
Os resultados dos testes de estresse, ainda segundo o relatório, mostraram que o sistema bancário está “resiliente para absorver choques” e que eventual “necessidade de capital para reenquadramento regulatório seria relevante apenas em cenários extremamente severos”.

Liquidez

A autoridade monetária disse ainda que a liquidez dos bancos não é motivo de preocupação. “O colchão de liquidez dos bancos, formado principalmente por títulos públicos federais, é robusto para suportar eventuais choques no curto prazo. Os ativos de longo prazo vêm sendo integralmente financiados por recursos estáveis, o que mantém o equilíbrio estrutural”, diz o texto.
O chamado Índice de Liquidez do sistema bancário, segundo o BC, foi de 2,36 na segunda metade do ano passado, o maior desde 2012.
“Em uma simulação de corrida bancária, temos o valor mais alto da série. Ou seja, para cada um ativo que poderia sair em uma situação de corrida bancária, os bancos possuem 2,36 para fazer frente”, disse Meirelles. A autoridade monetária listou uma série de adversidades enfrentadas pelo sistema financeiro nacional no segundo semestre do ano passado.
“A materialização do risco de crédito a empresas tem sido desafiadora para a estabilidade financeira no período recente. A queda do crescimento da carteira aprofundou­se com o declínio da atividade econômica, as altas taxas de juros e a maior seletividade por parte das instituições financeiras”, considerou o BC no texto.

Lava Jato

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Ainda sobre as empresas, o documento cita que “quanto aos efeitos da Operação Lava Jato, a atualização das simulações de contágio mostra um resultado em linha com o apresentado no Relatório de outubro de 2015”. No documento, o texto cita que as simulações indicam que nenhuma instituição ficaria insolvente.
O relatório nota ainda que o sistema financeiro tem exposição aos governos regionais, cuja capacidade financeira agravou-se em 2016. Mesmo assim, o documento não cita preocupação e diz que os bancos estão “adequadamente preparados para suportar eventuais perdas”. “Além disso, ações reparadoras para as finanças dos Estados estão sendo discutidas com a União”, cita o documento.

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