Atuação do BC para conter alta do dólar é vista como positiva pelo FMI

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Professor da FGV diz que as incertezas devem deixar a moeda brasileira mais fraca em relação aos fundamentos

 

“O Brasil não tem questões preocupantes relacionadas a vulnerabilidades externas, mas tem desequilíbrio fiscal”. A afirmação é do

diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para as Américas, Alejandro Werner, que comentou sobre a política do Banco Central, até agora, de tentar controlar a alta do dólar somente com os leilões de swaps cambiais. Segundo o dirigente, que participou de uma coletiva do FMI nesta sexta-feira (8) para detalhar o acordo fechado na quinta-feira entre o fundo e a Argentina, que colocará US$ 50 bilhões a disposição do país durante 36 meses, a decisão do BC de que não utilizará a política monetária para controlar a alta do dólar é adequada. “Para administrar, suavizar e evitar condições desordenadas nos mercados financeiros, como no de câmbio, há outros instrumentos”, ressaltou Werner. Para algumas correntes econômicas, no entanto, as incertezas devem deixar a moeda brasileira mais fraca em relação aos fundamentos.

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O Centro de Estudos de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) acredita que o movimento na direção de uma depreciação mais acentuada indica uma piora na percepção de risco soberano brasileiro por conta das incertezas advindas do processo eleitoral que se inicia. “Os componentes dos fundamentos de longo prazo da taxa de câmbio real efetiva permaneceram relativamente estáveis, ou seja, sem tendência definida, corroborando a tese de que os movimentos recentes estão mais associados a alterações na percepção de risco do que com movimento dos fundamentos”, explicou em nota o professor e coordenador do Centro de Estudos de Macroeconomia Aplicada, Emerson Marçal.

 

Segundo o professor, o movimento de apreciação recente do dólar frente a cesta relevante para os Estados Unidos influenciou marginalmente o processo de valorização da moeda brasileira. As grandes incertezas estão relacionadas às políticas fiscais e monetárias do próximo governo brasileiro que podem gerar impactos sobre a taxa de inflação, crescimento e contas externas deteriorando os fundamentos da economia brasileira.

Para Marçal, as grandes incertezas estão relacionadas às políticas fiscais e monetárias do próximo governo brasileiro que podem gerar impactos sobre a taxa de inação, crescimento e contas externas deteriorando os fundamentos da economia brasileira.

De acordo com a nota elaborada pelo professor para o Centro de Estudos, todos os modelos indicam que a taxa de câmbio real brasileira vem se depreciando desde março de 2018, mês em que um dos modelos já apontava para um pequeno desalinhamento negativo – depreciação frente aos fundamentos. Os dados de abril mostram um reforço da tendência de depreciação do real frente aos fundamentos, com todos os modelos mostrando valores negativos de desalinhamento. “Provavelmente esta tendência foi mantida ou acentuada no mês de maio, embora todos os dados necessários para o cálculo do desalinhamento deste mês ainda não estejam disponíveis”, destacou a nota.

 

Desequilíbrio fiscal brasileiro

Quando questionado se o Brasil estaria entre o grupo de países vulneráveis, o diretor do FMI para as Américas afirmou que o país não tem questões preocupantes relacionadas a vulnerabilidades externas, como problemas em conta corrente. “É uma economia que não tem uma necessidade de financiamento externo grande”, afirmou.

Ainda assim, o diretor comentou o desequilíbrio fiscal brasileiro e a importância de discutir o tema durante as eleições deste ano. “Nos últimos anos, o Brasil passou a enfrentar um desafio fiscal muito importante, e esse desafio é muito grande e já está presente no debate político com as discussões da reforma previdenciária”, disse.

 

 “A agenda do Brasil, para os próximos anos para poder consolidar sua situação econômica está muito clara e isso estará presente no processo eleitoral, e o próximo governo dará os sinais importantes para ver se estes pontos avançam ou não”, concluiu Werner.

Taxa Selic

Na quinta-feira, o presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, disse que não iria usar a taxa básica de juros, a Selic, para interferir no câmbio. Ele assegurou que a política monetária continuará sendo utilizada para controlar a inflação, sua função principal. Goldfajn também afirmou que até o final da semana que vem ocorrerão leilões adicionais de contrato de swap cambial no valor total de US$ 20 bilhões. “Cremos que, em termos gerais, são os princípios adequados à condução da política monetária e financeira do Brasil. Claramente, o movimento das moedas dos países desenvolvidos tem impacto sobre os países emergentes”, afirmou o diretor do FMI. Segundo ele, há mercados emergentes vulneráveis, mas também há um grupo de emergentes que tem setor financeiro sólido “que vão permitir enfrentar muito bem a situação”.

Com Agência Brasil

 

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