Avaliação sobre a inflação de 0,56% de março de 2025

Segundo Luciano Rostagno, embora a inflação de março tenha desacelerado na margem, a leitura das suas aberturas indica que ainda existem pressões inflacionárias importantes.

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Luciano Rostagno
Luciano Rostagno

Conversamos sobre a inflação de março de 2025, que fechou em 0,56%, com Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos. No ano, o IPCA acumula alta de 2,04%, e nos últimos 12 meses, 5,48%.

Segundo o último boletim Focus, divulgado no dia 7, o mercado financeiro tem a expectativa de que a inflação de 2025 feche em 5,65%, e 2026, em 4,5%. Cabe ressaltar que a meta de inflação é de 3%, com um teto de 4,5% e um piso de 1,5%.

Qual a sua avaliação sobre a inflação de março de 2025?

Embora a inflação de março tenha desacelerado na margem, a leitura das suas aberturas indica que ainda existem pressões inflacionárias importantes. Alguns grupos de preços ainda proporcionam um cenário desafiador para o Banco Central, como Serviços, que continua bastante pressionado, rodando em patamares bem acima da meta, e Alimentação, que acelerou em março e continua indicando um ambiente difícil para a população, principalmente de baixa renda. Com relação aos núcleos de inflação, eles ainda sugerem a permanência de uma pressão disseminada de preços na economia.

Quais são as principais características do atual processo inflacionário?

O atual processo é decorrente do excesso de demanda. O governo tem promovido uma expansão fiscal que tem contribuído para manter o mercado de trabalho apertado, com a massa salarial crescendo em níveis que indicam pressão sobre os preços. Além disso, uma parte da inflação é decorrente da pressão de custos gerada pela desvalorização do real contra o dólar, o que causa uma alta dos preços dos insumos para as empresas. Isso pode ser observado nos índices de preço no atacado, tanto do setor agrícola quanto do setor industrial.

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A inflação está sob controle?

Parcialmente sim, principalmente em função da atuação do Banco Central, que tem adotado uma postura bastante responsável de continuar subindo os juros para sinalizar que vai fazer o que for necessário para trazer a inflação de volta para o centro da meta. O problema é que nós temos o Banco Central trabalhando duro para controlar a inflação, enquanto o governo, no âmbito das políticas fiscal e parafiscal, trabalha para estimular o mercado de crédito, o que dificulta o trabalho da autoridade monetária para controlar a inflação. Com isso, nós temos uma política econômica onde o Banco Central coloca o pé no freio, e o governo, no acelerador, mas é possível prever, obviamente, que se os juros forem mantidos no atual nível por um período prolongado, a tendência é que a inflação arrefeça nos próximos anos.

O que demanda mais atenção por parte do atual governo e do Banco Central no combate à inflação?

Por parte do governo, a condução da política fiscal, que tem sido bastante expansionista e que tem mantido o consumo aquecido via aumento do salário mínimo acima da inflação e programas de transferência de renda no âmbito do mercado de crédito. Como disse, isso traz um desafio para o Banco Central, já que reduz a potência da política monetária.

Além disso, é importante mencionar o contexto global. Nós temos visto uma volatilidade muito alta nos mercados em função da política tarifária que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, anunciou recentemente. Como está havendo muita incerteza, ninguém sabe exatamente qual vai ser a resultante dessa política para a inflação no país.

Se a economia mundial entrar em recessão, isso pode ajudar o Banco Central na tarefa de trazer a inflação de volta para a meta. Por outro lado, se as divergências em torno das tarifas de importação forem resolvidas, o dólar pode se manter apreciado com a economia mundial crescendo de forma mais robusta, o que faria com que o cenário para o controle da inflação fosse mais desafiador, com a economia interna respondendo de forma mais plena aos estímulos promovidos pelo governo.

Como a inflação deve se comportar nos próximos meses?

No curto prazo, a tendência é que a inflação permaneça pressionada, já que o mercado de trabalho continua aquecido. Por mais que já existam alguns sinais incipientes de uma perda da força do mercado de trabalho, ainda não dá para concluir que a economia vai desacelerar de forma mais pronunciada no curto prazo. Com o atual nível de juros, e a expectativa de que o Banco Central continue subindo a Selic, nós devemos começar a ver sinais mais evidentes de desaceleração da economia a partir do segundo semestre. Ainda assim, a expectativa para o ano como um todo é que a inflação termine acima do teto da meta.

A inflação está alta ou a meta de inflação é que está baixa?

As duas coisas. Quando houve a discussão acerca da redução do centro da meta, eu achei que isso era um pouco prematuro, já que o Brasil não estava preparado para ter uma meta de inflação mais em linha com as metas de países que já têm arcabouços institucionais mais confiáveis e estabelecidos para ajudarem os seus bancos centrais a atingirem suas metas de inflação.

Como o Brasil tem um histórico de governos gastadores, nós não temos um arcabouço fiscal que garanta uma responsabilidade nos gastos por parte do Executivo. Dessa forma, a atual meta está se provando ambiciosa demais para o país. Ao mesmo tempo, mudar a meta agora poderia causar danos ao país que repercutiriam por muito tempo, já que isso traria uma piora na confiança no regime de metas de inflação.

O melhor a se fazer é justamente avançar nas reformas para melhorar as instituições e estabelecer um ambiente econômico de maior confiança, de forma a que possamos, efetivamente, colocar a inflação na meta e mantê-la ao seu redor. O problema é que o governo está mais preocupado em manter a inflação rodando no teto da meta, o que traz desafios ainda maiores para o Banco Central, que tem como objetivo trazer a inflação para o centro da meta.

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