Bactérias e vírus matam mais do que guerras

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As bactérias, vírus e outros micro-organismos já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terríveis, sangrentas e duradouras guerras, terremotos, maremotos, tsunamis e erupções de vulcões. O mundo já se deparou e enfrentou terríveis epidemias e pandemias, tendo causando a morte de centenas de milhares de pessoas, desde a Peste Negra, que se arrastou pela Europa e Ásia, por 18 anos, até a chegada do novo coronavírus – Covid-19 na China e de lá se alastrando pelos cinco continentes. Os dados apresentados têm como fonte a Organização Mundial de Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz.

A peste bubônica ganhou o nome de Peste Negra por causa da pior epidemia que atingiu a Europa, no século 14, entre os anos de 1333 a 1351. Ela foi sendo combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades, diminuindo a população de ratos urbanos. Matou 50 milhões de pessoas. A contaminação foi causada pela bactéria Yersinia pestis, comum em roedores, como o rato, e transmitida para o homem pela pulga desses animais contaminados. Os sintomas eram a inflamação dos gânglios linfáticos, seguida de tremedeiras, dores localizadas, apatia, vertigem e febre alta.

 

Nosso inimigo invisível não pode

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ser derrotado por um simples tiro

 

Conhecida desde a Antiguidade, a cólera teve sua primeira epidemia global em 1817. Desde então, o vibrião colérico (Vibrio cholerae) sofreu diversas mutações, causando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos, mas foi no período de 1817 a 1824 que a doença atingiu a centenas de milhares de mortos. A contaminação ocorre por meio de água ou alimentos contaminados. E, aqui, no Rio de Janeiro, em pleno século 21, tivemos graves problemas com a qualidade da água levada à casa dos cariocas e fluminenses. A bactéria se multiplica no intestino e elimina uma toxina que provoca diarreia intensa. O tratamento é à base de antibióticos, sendo a vacina disponível de baixa eficácia (50% de imunização).

Outra doença assustadora é a tuberculose, que matou, no período de 1850 a 1950, mais de 1 bilhão de pessoas no planeta. Sinais da doença foram encontrados em esqueletos de 7 mil anos atrás. O combate foi acelerado em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. Nas últimas décadas, ressurgiu com força nos países pobres, incluindo o Brasil, e como doença oportunista nos pacientes de Aids. É altamente contagiosa, transmite-se de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias, e ataca principalmente os pulmões. O tratamento, como nas demais doenças, é feito por meio de antibióticos, e o paciente é curado em até seis meses.

A varíola, que matou 300 milhões, entre 1896 a 1980, incluindo figurões como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II, da Inglaterra, e o rei Luís XV, da França, teve a vacina descoberta em 1796. Essa temida doença recebeu o apelido de “bixiga”. A contaminação se dava pelo vírus Orthopoxvírus variolae, transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias. Está erradicada do planeta desde 1980, após campanha de vacinação em massa.

A Gripe Espanhola, com 20 milhões de mortos, de 1918 a 1919, foi ocasionada pelo vírus Influenza, um dos maiores e mais temidos carrascos da humanidade. A mais grave epidemia foi batizada de Gripe Espanhola, embora tenha feito vítimas no mundo todo. Aqui, no Brasil, matou o presidente da República Rodrigues Alves. Ela era propagada pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros. O paciente sofria com fortes dores de cabeça e no corpo, calafrios e inchaço dos pulmões. O vírus está em permanente mutação, por isso o homem nunca está imune. As vacinas antigripais previnem a contaminação contra formas já conhecidas do vírus.

O tifo chegou em 1918 e se estendeu até 1922, causando 3 milhões de mortos, na Europa Oriental e Rússia. A doença é causada pelas bactérias do gênero Rickettsia. Como a miséria apresenta as condições ideais para a proliferação, o tifo está ligado a países do Terceiro Mundo, campos de refugiados e concentração, ou guerras. O tifo exantemático (ou epidêmico) aparece quando a pessoa coça a picada da pulga e mistura as fezes contaminadas do inseto na própria corrente sanguínea. Já o tifo murino (ou endêmico) é transmitido pela pulga do rato. Dor de cabeça e nas articulações, febre alta, delírios e erupções cutâneas hemorrágicas são alguns dos sintomas dessa moléstia.

Entre os anos de 1960 a 1962, a febre amarela deixou 30 mil mortos, na Etiópia. O Flavivírus, que tem uma versão urbana e outra silvestre, já causou grandes epidemias na África e nas Américas. A vítima dessa doença é picada pelo mosquito transmissor, que picou antes uma pessoa infectada com o vírus. Febre alta, mal-estar, cansaço, calafrios, náuseas, vômitos e diarreia são os sintomas e 85% dos pacientes recuperam-se em três ou quatro dias. Existe vacina, que pode ser aplicada a partir dos 12 meses de idade e renovada a cada dez anos.

O sarampo, que matava cerca de 6 milhões de pessoas até a década de 60, continua sendo preocupante, inclusive no Brasil. Essa doença era uma das causas principais de mortalidade infantil até a descoberta da primeira vacina, em 1963. Com o passar dos anos, a vacina foi aperfeiçoada, e a doença foi erradicada em vários países. Altamente contagioso, o sarampo é causado pelo vírus Morbillivirus, propagado por meio das secreções mucosas (como a saliva, por exemplo) de indivíduos doentes. Pequenas erupções avermelhadas na pele, febre alta, dor de cabeça, mal-estar e inflamação das vias respiratórias são os sintomas mais comuns. Existe vacina, aplicada aos nove meses de idade e reaplicada aos 15 meses

A malária, desde 1980, tem deixado um saldo de 3 milhões de mortos por ano. Em 1880, foi descoberto o protozoário Plasmodium, que causa a doença. A OMS considera a malária a pior doença tropical e parasitária da atualidade, perdendo em gravidade apenas para a Aids. O paciente é contaminado pelo sangue, quando a vítima é picada pelo mosquito Anopheles contaminado com o protozoário da malária. Esse protozoário destrói as células do fígado e os glóbulos vermelhos e, em alguns casos, as artérias que levam o sangue até o cérebro. Não existe uma vacina eficiente, apenas drogas para tratar e curar os sintomas.

A Aids, desde 1981, já matou 22 milhões de pessoas. A doença foi identificada em 1981, nos Estados Unidos, e desde então foi considerada uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde. O vírus HIV é transmitido através do sangue, do esperma, da secreção vaginal e do leite materno. Destrói o sistema imunológico, deixando o organismo frágil a doenças causadas por outros vírus, bactérias, parasitas e células cancerígena. Não existe cura, e os soropositivos são tratados com coquetéis de drogas que inibem a multiplicação do vírus, mas não o eliminam do organismo.

O novo coronavírus – Covid-19 chegou em uma cidade do interior da China e rapidamente se alastrou por todo o mundo, e causando milhares de mortes, sendo o país asiático, Espanha, Itália, Estados Unidos e Irã os que mais têm registrado baixas. No Brasil, até quarta-feira, o Ministério da Saúde registrara 241 mortes e 6.836 casos confirmados. Foi o segundo dia seguido que o país tem mais de mil novos pacientes de Covid-19 em 24 horas. O aumento é considerado normal para a evolução da pandemia e a maior disponibilidade de testes.

Dos 241 casos de vítimas fatais, 212 já tiveram a investigação concluída. As vítimas ainda são em sua maioria (89%) maiores de 60 anos de idade. Mais da metade (127 das 241) tinha problemas no coração. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é explícito em sua pregação diária de que não é hora de fraquejar, é hora de redobrar o cuidado.

A região Sudeste ainda é a que concentra mais diagnósticos positivos da Covid-19, com 4.223 casos (62% de todos os casos do Brasil). A região Sul tem 765 (11% do total).

Para que a situação do mundo possa ser ultrapassada, com maior velocidade, torna-se imprescindível que a população de todos os países se conscientize sobre os seus direitos e deveres e que, com responsabilidade, maturidade e verdadeiro comprometimento, fique isolada em suas casas e observe o que as autoridades sanitárias recomendam, como precauções e combate a esse terrível vírus.

Vivemos, assim, em uma guerra invisível, e o nosso inimigo não pode ser derrotado por um simples tiro, mas com cuidados pessoais e coletivos permanentes e com medicamentos poderosos, se necessários.

Paulo Alonso

Jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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