Conversamos sobre o resultado do 3T24 do Banco ABC Brasil com Ricardo Moura, diretor de Relações com Investidores, M&A Proprietário e Estratégia do banco.
Como o Banco ABC Brasil avalia o seu resultado do 3T24?
O 3T24 foi um trimestre de continuidade, onde tivemos um retorno sobre patrimônio de 16,2%, e um crescimento saudável de carteira, que cresceu quase 15% no ano contra ano, que é a faixa mais alta do guidance que temos para o ano, que previa um crescimento total da carteira de 10% a 15%.
Outro destaque foi a disciplina na parte de custos. Nós temos um guidance de crescimento de custos entre 7% e 12%, comparando dez/2024 com dez/2023, mas, dependendo da forma com que olhamos essa despesa, nós estamos abaixo desse guidance. Na comparação do 3T24 com o 3T23, nós estamos por volta de 4,5% abaixo, e na comparação do 9M24 com o 9M23, nós estamos pouco abaixo de 7%.
Com relação a inadimplência, o índice das grandes empresas está extremamente baixo e comportado. O segmento middle continua com uma tendência de queda, mesmo em um cenário macro com desafios. No consolidado, foi um resultado que nos deixou satisfeitos, mas, obviamente, almejamos mais.
Além disso, existem duas marcas que nos deixaram felizes. A primeira é que ultrapassamos R$ 50 bilhões de carteira expandida. A segunda é que estamos com mais de 5 mil clientes, que são grupos econômicos, ativos atendidos pelo banco.
Como o Banco ABC Brasil avalia o desempenho do seu banco de investimento?
O banco de investimento teve mais um bom trimestre. Obviamente, o carro chefe é a renda fixa, cujo mercado está muito pujante. Para que você tenha uma ideia, nos 9 primeiros meses de 2024, nós já fizemos mais receita do que no ano inteiro de 2023 e no ano inteiro de 2022. Assim, tudo leva a crer que caminhamos para mais um ano recorde no banco de investimento.
Isso é fruto de um mercado que tem ajudado, obviamente, mas também é fruto da ampliação da atuação do banco. Por exemplo, o banco passou a fazer instrumentos na renda fixa que ou não fazia ou fazia pouco no passado, como CRAs, CRIs, operações estruturadas e FIDCs. Isso sem deixar de fazer as debêntures de infra.
Nós ampliamos o portfólio, o que ajuda a trazer tanto volume de operações quanto receita. Esse portfólio mais diversificado nos traz uma receita mais resiliente, já que alguns produtos ou linhas de emissão acabam sendo ou mais sazonais ou mais cíclicos, pois são produtos que acabam tendo uma destinação específica em determinadas condições de mercado. Assim, nós ficamos menos, entre aspas, sujeitos a uma volatilidade específica de algum instrumento específico.
Essa é ainda uma linha volátil, pois essa é a sua natureza, mas com um portfólio mais amplo, nós trazemos um pouco menos de ciclicalidade para ele.
Como o Banco ABC Brasil avalia o impacto do novo ciclo de alta da Selic no crédito, principalmente no seu segmento Middle? Nesse tipo de situação o Middle exige mais cuidados que os segmentos Corporate e C&IB (Corporate & Investment Bank).
O aumento da taxa de juros, com certeza, aumenta o serviço da dívida. Se a taxa de juros aumenta e o índice de uma empresa não for fixo, e sim baseado no CDI, é fatal que esse serviço aumente e ela tenha que direcionar mais caixa da companhia para pagá-lo, seja ela uma empresa pequena ou grande.
De modo geral, as empresas pequenas acabam tendo spreads maiores que as empresas grandes. Além disso, as empresas grandes acabam acessando mais o mercado de capitais, seja porque elas acabam tendo, na média, notas de crédito melhores, o que lhes facilita fazer isso, seja porque elas têm tamanho, já que a emissão precisa de um tamanho mínimo para que seja viável e economicamente factível para fazer frente a todos os custos atrelados à emissão.
As empresas grandes acabam tendo esse benefício, e isso está acontecendo muito agora. Nesse ambiente, elas não só conseguem captar com taxas menores, como captam com taxas menores do que tempos atrás. Além disso, essas empresas estão alongando seus passivos com prazos mais longos. Em uma questão de crédito, isso é muito saudável, pois os vencimentos ficam mais espaçados ao longo do tempo, o que reduz o risco de liquidez dessas companhias. A empresa que consegue ter um passivo mais diversificado e mais longo, e com uma taxa mais barata, tem menos chance de sofrer um evento de crédito.
Quando se tem um aumento da taxa de juros, as empresas menores, fatalmente, vão sofrer mais pela questão do maior spread e por terem um passivo mais curto e mais concentrado. Nós olhamos com muito carinho todo o segmento de clientes, mas além de se olhar o tamanho, o que faz muito sentido, nós também olhamos o setor. Por exemplo, setores de capital intensivo sofrem mais, pois como as estruturas de capital das companhias desses setores ficam mais expostas, elas usam mais dívida devido aos seus modelos de negócio. De uma forma geral, nós estamos olhando para as empresas middle de uma forma mais tática e com mais atenção, assim como o Corporate e o C&IB, já que as empresas reagem de formas diferentes, pois possuem estruturas de capital diferentes.
O que essa taxa de juros acaba trazendo para nós e para o sistema como um todo, é que a velocidade de crescimento da carteira se dá de uma forma um pouco mais lenta do que se tivéssemos uma taxa menor. A história já nos mostrou isso e é assim que vemos essa questão. Nós temos que ser um pouco mais táticos para que possamos fazer um crescimento sustentável. Isso porque dar dinheiro é muito fácil. O duro é pegar de volta. Em um ambiente de taxa de juros crescente, a sustentabilidade desse crescimento e a visibilidade que você tem da capacidade das empresas de repagarem, de servirem as suas dívidas, é reduzida.
Quando eu converso com analistas de mercado, alguns deles costumam dizer que, independente dos juros crescerem ou diminuírem, um banco sempre ganha. Na visão do Banco ABC Brasil, essa visão está correta?
Eu diria que nós ganhamos quando os nossos clientes ganham. Por exemplo, no momento em que há uma subida de taxa de juros, um banco tem uma receita que se beneficia disso, pois uma parte da liquidez do banco está aplicada em títulos públicos que passam a render mais, o que gera, obviamente, uma receita maior nessa linha específica. Por outro lado, a velocidade de crescimento da própria carteira, muito provavelmente, vai ter uma redução por uma questão de conjuntura de mercado e de apetite a risco. Além disso, há uma força adicional para que haja um aumento de atraso.
Então, não necessariamente, uma taxa maior acaba ajudando o resultado dos bancos. Eu diria que pode haver um ponto ótimo dessa taxa, mas, definitivamente, uma taxa abaixo de 10% seria melhor para os nossos clientes e para o nosso negócio.
Em 2019, o Banco ABC Brasil iniciou um trabalho de diversificação de soluções. Passados cinco anos, como esse trabalho impactou os números do banco?
Eu vou responder essa pergunta colocando três pontos. O primeiro é que nós conseguimos crescer a receita. Como ela tinha um determinado escopo, as novas áreas conseguiram fazer com que a receita pudesse crescer de uma forma mais rápida. O segundo ponto é que com um mix mais diversificado de receitas, se alguma área, algum produto específico, não performar tão bem naquele trimestre, nós temos outras áreas e produtos, não necessariamente correlacionados, que são mais independentes e que podem acabar ajudando. Isso suaviza movimentos de vales e picos, o que reduz a ciclicalidade do negócio, sendo que todo negócio que tem menos ciclicalidade é mais previsível, e todo negócio que é mais previsível vale mais.
O terceiro ponto é que nós conseguimos aumentar a rentabilidade estrutural do banco. Por exemplo, antes da pandemia, o banco tinha um retorno sobre patrimônio entre 12% e 13%. Hoje nós estamos conseguindo colocar resultados de uma forma consistente entre 16% e 16,5%, sendo que já colocamos resultados de até 17%. Ao longo desses anos, nós conseguimos aumentar essa rentabilidade, não só no valor absoluto, mas também na sua qualidade, já que hoje ela é mais diversificada, seja em segmentos de cliente, seja em produtos.
Outro ponto é que as concentrações que tínhamos em clientes específicos também foram reduzidas. Isso pode ser visto através do ticket médio por cliente, que foi reduzido. Se pegarmos a concentração dos 10 maiores clientes, hoje ela é menor do que já foi no passado. Isso também vale para os 50 maiores e para os 100 maiores. Como nós conseguimos diversificar a exposição ao risco, em termos de concentração, isso é muito saudável para o gerenciamento da carteira.
Como o Banco ABC Brasil vê as suas perspectivas para o 4T24 e já para 2025?
Historicamente, o 4T24 é um trimestre mais dinâmico para o mercado como um todo. Se pegarmos séries de vários anos para trás, existe um padrão. Enquanto o primeiro trimestre é mais suave por causa de uma economia menos ativa, com menos dias úteis e férias, o último trimestre tende a ser mais dinâmico. Só isso já traz uma expectativa maior em relação ao quarto trimestre, desde que ele siga o padrão dos últimos 25 anos.
Outro ponto é que nós continuamos com a nossa estratégia de diversificar e aumentar a nossa base de clientes em todos os segmentos e o número de produtos. Hoje, nós temos uma infraestrutura preparada para atendermos uma volumetria e um número de transações maior do que temos dentro de casa. Isso quer dizer que à medida que conseguimos crescer, nós conseguimos crescer a receita mais rápido que o custo e a despesa. Nós estamos atrás dessa captura de alavancagem operacional para tornar o banco mais eficiente e para que ela contribua para o aumento de rentabilidade. Obviamente, isso não é uma garantia, mas esse é o plano que procuramos fazer olhando para 2025 e para a frente.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
Nós aproveitamos esse momento do mercado, em que as empresas estão conseguindo emitir dívidas a preços atrativos, para emitirmos uma dívida subordinada nível 1, que é chamada de dívida perpétua, pois ela não tem um prazo específico de vencimento. Em março deste ano, nós fizemos uma emissão de R$ 500 milhões e voltamos a fazer em outubro outra emissão de R$ 500 milhões. Essa emissão não está refletida no balanço de setembro, pois ela foi um evento subsequente, mas sendo ela aprovada pelo Banco Central para fazer parte do nosso capital regulatório, nós estamos falando de um efeito de adição de capital nível 1, que faz parte da Basileia, de aproximadamente 100 pontos base.
O segmento C&IB (Coporate & Investment Banking) é composto por empresas com faturamento anual acima de R$ 4 bilhões, podendo incluir clientes dos setores de infraestrutura, energia e private equity com faturamento abaixo dessa faixa. Já o segmento Corporate é composto por empresas com faturamento anual de R$ 300 milhões a R$ 4 bilhões.