Conversamos sobre o Banco ABC Brasil com Ricardo Moura, diretor de Relações com Investidores, M&A Proprietário e Estratégia do banco.
Como o Banco ABC Brasil avalia o seu resultado do 1T24?
Foi um resultado em linha, pois foi um trimestre onde tivemos alguns desafios e onde há uma sazonalidade no nosso negócio. Por exemplo, enquanto o último trimestre de cada ano tende a ser o mais dinâmico, o primeiro tende a ser o menos dinâmico. Isso vai muito em linha com a atividade econômica e com uma questão estrutural das empresas, que possuem muitas operações que chamamos de virada de balanço. Segundo o Banco Central, que divulga esse dado desde 2013, todos os meses de janeiro possuem carteiras menores que os meses de dezembro.
O primeiro trimestre começa com uma originação menos dinâmica, mas março já é um mês bem melhor. Nós estamos com uma originação que ainda está aquém do potencial de mercado como um todo, e não só o nosso. Nesse sentido, nós fomos em linha com o mercado. Isso também foi um pouco reflexo do que vimos em 2023, que foi um ano atípico no crescimento de carteira.
Agora, nós tivemos linhas que surpreenderam pelo lado positivo. Por exemplo, nós nunca tivemos um primeiro trimestre de banco de investimento tão ativo, com R$ 41,6 milhões de receita e com um ótimo pipeline para o segundo semestre. Nós também tivemos um ótimo controle de custos, que vieram com um crescimento de 6%, abaixo do guidance que temos para o ano na comparação anual. Com relação ao custo de crédito, que também é chamado de despesa de provisão, ele veio bastante comportado, com R$ 44 milhões no 1T24, o que é equivalente a 0,4% da nossa carteira expandida, número bastante confortável.
Além disso, vale destacar a questão de capital regulatório. Nós aproveitamos janelas de mercado para emitirmos títulos híbridos de capital, seja Nível I, seja Nível II, o que contribuiu para reforçarmos a base de capital regulatório e permitiu ao banco continuar seu crescimento com uma estrutura de capital otimizada.
Como o Banco ABC Brasil entende os seus números?
Nós tivemos um retorno de 15,1% sobre o patrimônio líquido. Como trabalhamos para atingir números maiores ao longo do ano, nós acreditamos que dá para perseguir um número maior. Nós temos uma capacidade instalada que está preparada para atender mais clientes e fazer uma volumetria maior. Fazendo isso, a ambição é aumentar o crescimento da receita e do top line de modo a capturar as alavancagens operacionais diluindo a infraestrutura que foi construída nos últimos anos.
Esse resultado foi gerado por um banco que hoje está preparado para atender mais clientes e processar mais transações com uma volumetria maior. Nós temos potencial para expandi-lo na medida em que conseguirmos imprimir uma velocidade maior no crescimento de receitas.
O Banco ABC Brasil deu bastante destaque ao desempenho do banco de investimento no 1T24. O que o banco de investimento tem feito?
O nosso carro chefe é a renda fixa local, que chamamos de DCM. Temos também a parte de assessoria para fusões e aquisições, o M&A (Mergers and Acquisitions), e Project Finance.
O que tem ajudado o banco a crescer nessa linha foi que no ano passado nós fizemos uma reorganização da área. Nós criamos uma estrutura de partnership, trouxemos membros novos para o time e estamos num movimento de ampliação de nichos de atuação. Por exemplo, na parte de renda fixa, nós começamos a fazer produtos mais estruturados, como FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), o que tem contribuído para aumentarmos o espectro de atuação.
Além disso, como o mercado de renda fixa foi muito bom no primeiro trimestre, obviamente que isso contribuiu para o nosso resultado.
Eu diria que esse resultado foi a soma de um trabalho de médio e longo prazo de ampliação de escopo em conjunto com um momento de curto prazo muito bom, principalmente para operações de renda fixa.
Como o Banco ABC Brasil avalia a transferência da redução da Selic para as linhas de crédito?
Em grande parte de 2023, o mercado viveu com uma taxa de juros de pico de ciclo, sendo que agora nós estamos num momento de redução paulatina desse pico. Obviamente, essa redução da taxa básica é imediatamente transferida para as operações de crédito.
Outro componente que acaba influenciando é o spread bancário. Nós estamos passando por um momento de ciclo de crédito onde as taxas de inadimplência, que no ano passado estavam a níveis maiores, começaram a mostrar redução, o que faz com que comece haver uma procura maior por originação. Em termos de spread, está havendo uma certa estabilidade, ou até uma redução em algumas linhas, o que é natural num momento em que há uma redução na percepção de risco.
Nós vemos essa transferência com as reduções na percepção de risco e nos índices de atraso, principalmente para as empresas dos segmentos onde atuamos, C&IB (Coporate & Investment Banking) e Corporate*. Ao mesmo tempo em que cai o atraso, nós vemos uma queda não muito pronunciada em termos de estresse.
Como o Banco ABC Brasil avalia o seu segmento middle?
Nós vemos o Middle como uma grande oportunidade para o banco. Dos segmentos onde atuamos, esse é o mais recente. Nele, nós temos por volta de 2,5 mil clientes que faturam de R$ 30 milhões a R$ 300 milhões anualmente.
Esse é um segmento que tem características distintas dos outros onde atuamos. Ao longo do tempo, nós estamos aprendendo a atuar no Middle e fazendo a expansão da grade de produtos, mas ele ainda é uma parcela pequena da carteira, entre 9% e 10%
No ano passado, o Middle sofreu mais na questão do crescimento, pois como essas empresas têm uma envergadura menor, elas acabam sofrendo um pouco mais num ambiente de juros mais altos. Nós temos a ambição de crescer e expandir o Middle, mas, obviamente, precisamos respeitar os ciclos de crédito para fazer com que esse crescimento se dê de forma sustentável.
Como se ganha um cliente no universo onde o Banco ABC Brasil atua?
O cliente é ganho com um conjunto de três elementos. O primeiro é que você precisa ter o produto que o cliente precisa. Falando em produtos bancários, muitas vezes eles estão atrelados à crédito ou a algum serviço atrelado à crédito. O segundo é que você precisa ter apetite de crédito para servir esse cliente. O terceiro é que o preço que você oferece tem que ser competitivo. Tendo produto, apetite a crédito e preço correto, você tem que ter qualidade de serviço.
Um dos nossos grandes diferenciadores é que estamos aqui para construirmos relacionamentos de longo prazo. O nosso objetivo não é, unicamente, a próxima transação, mas um relacionamento com esse cliente ao longo da sua vida para que possamos crescer junto com ele. Nós acreditamos muito nessa parceria onde tentamos nos diferenciar como o banco que está presente nos momentos bons e ruins, que vai oferecer algo a mais e que vai ter agilidade para conseguir antecipar as demandas dos clientes. É assim que tentamos ganhá-los.
No caso do ABC, o gerente de conta, que chamamos de officer, tem um papel fundamental nesse relacionamento diário com o cliente, seja para identificar as demandas, seja para entregar o que ele precisa na velocidade em que ele precisa.
Como o Drex deve gerar valor para o Banco ABC Brasil?
O Drex é uma iniciativa muito interessante do Banco Central. Só o fato de você pensar e discutir o Drex já traz uma série de efeitos colaterais, no bom sentido, de aplicações de soluções que são partes da construção do Drex, e que podem ser utilizadas por uma série de serviços bancários. Na hora em que você pensa em transferências de recursos e na tokenização de ativos, você pode expandir essa solução para uma série de produtos bancários, o que pode fazer com que se consiga reduzir o preço na hora de se oferecer uma solução para o cliente e o tamanho mínimo de transação, além de acelerar a velocidade e a frequência com que essas transações são realizadas.
Resumindo: com o Drex você consegue ampliar serviço, reduzir custo e acelerar a velocidade.
Como o Banco ABC Brasil avalia o desempenho das suas ações?
Para nós, o preço da ação é uma consequência. Nós somos da filosofia que precisamos entregar resultado, pois, uma vez que esse resultado seja entregue no médio prazo, isso vai ser refletido no preço das ações. No ano passado, nós tivemos uma performance bastante positiva nas nossas ações, mas, obviamente, o mercado é volátil. Existem eventos que estão relacionados a nossa performance, mas existem eventos exógenos que são relacionados com o mercado de uma forma geral, como eventos macroeconômicos relacionados ao Brasil ou ao exterior, sendo que isso, em algumas circunstâncias, também tem influência na performance das nossas ações.
A nossa cabeça está muito focada no que controlamos e na entrega de resultado, pois, de novo, a nossa crença é de que entregando resultado, nós estamos fazendo o nosso papel, e o preço das ações vai convergir para o que seria o preço que incorpore essa performance.
Como o Banco ABC Brasil avalia as suas perspectivas para 2024?
Nós temos uma perspectiva positiva para 2024. Se fizermos uma comparação com o ano passado, quando convivemos com uma taxa de juros a níveis mais elevados e com eventos de crédito muito mais relevantes no início do ano, o ano de 2024 já sai em vantagem. Por exemplo, nós acreditamos que esse será um ano muito melhor para o banco de investimentos, que no primeiro semestre de 2023 teve volumes muito menores. Com as informações que temos hoje, devemos ter menos eventos de crédito do que tivemos no ano passado, o que já traz uma perspectiva positiva.
Em relação à carteira, nós também acreditamos que num ambiente de queda de juros, deve haver uma recuperação no crescimento da carteira de crédito e de ativos. Nós começamos a ver essa recuperação nos dados divulgados pelo Banco Central. Como essa recuperação deve continuar, obviamente de forma gradual, nós devemos ter um ano com crescimento de carteira melhor do que tivemos em 2023.
*O segmento C&IB (Coporate & Investment Banking) é composto por empresas com faturamento anual acima de R$ 4 bilhões, podendo incluir clientes dos setores de infraestrutura, energia e private equity com faturamento abaixo dessa faixa. Já o segmento Corporate é composto por empresas com faturamento anual de R$ 300 milhões a R$ 4 bilhões.