Banco Daycoval: posicionamento, concorrência e perspectivas

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Ricardo Gelbaum (foto divulgação Daycoval)
Ricardo Gelbaum (foto divulgação Daycoval)

Conversamos com Ricardo Gelbaum, diretor de RI do Banco Daycoval, sobre o posicionamento do banco, concorrência, Open Finance e as perspectivas macroeconômicas para 2023.

 

Como o Daycoval está se posicionando no extremamente competitivo mercado bancário brasileiro?

O mercado bancário brasileiro sempre foi extremamente competitivo. Sempre. Seja com bancos públicos, bancos grandes e bancos estrangeiros, e agora com bancos de cooperativas, que possuem uma certa isonomia e entram no nosso mercado, fintechs, instituições de pagamento (IPs), certificadoras e registradoras.

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Na nossa visão, quanto mais competição, melhor. Quanto mais bancos e instituições financeiras o cliente do sistema financeiro brasileiro tiver, seja pessoa física ou jurídica, melhor. O problema é quando temos um ciclo recessivo, e nós estamos, aparentemente, às vésperas de um no mundo e no Brasil, e pouca oferta de crédito.

A combinação do Open Finance, Open Insurance, Pix, a Agenda BC+, e, agora, a Agenda BC# faz com que o cliente tenha mais possibilidade de acesso ao crédito. Isso é muito bom para o sistema como um todo, porém, o crédito no Brasil não é para principiantes. É muito bom ter fintechs, mas o mercado, apesar de ser competitivo, é muito pequeno.

A taxa atual de 13,75% ficará longa por um bom tempo. Com esse cenário de instabilidade por causa de reformas, taxa de juros, questão fiscal, novo governo e transição, não são robôs e algoritmos que vão fazer com que o mercado fique mais, ou menos, competitivo. Como disse, o mercado brasileiro é competitivo há muitos anos.

Se nós olharmos o balanço do Daycoval nos últimos 5 anos, vemos que o banco performou muito bem, já que temos a característica de surfarmos muito bem quando o mar está adverso.

 

Como o Daycoval tem visto as perspectivas do mercado de empresas e de empréstimo consignado?

As perspectivas são positivas. Se não fosse assim, não estaríamos no mercado de empresas há 50 anos e no mercado de crédito consignado há 20 anos, desde o seu princípio. Porém, um ano não quer dizer que o próximo será a mesma coisa. Em 2019, o Bruno Henrique disse que o Flamengo estava em outro patamar. Nos últimos 3 anos, o Daycoval vinha com um retorno sobre o patrimônio acima de 25%. No 3T22, o resultado veio ligeiramente abaixo, já que é difícil se manter em outro patamar.

Hoje nós temos a terceira geração de uma família de banqueiros, que já atuavam no Oriente Médio concedendo empréstimos para empresas e pessoas físicas. É por isso que, de uma carteira de R$ 50 bilhões, 80% é constituída por crédito para empresas e 20% por crédito consignado para o setor público e financiamento para veículos usados.

 

Como o Daycoval tem controlado a concessão de crédito de forma a administrar a inadimplência? Por exemplo, como vocês estão fazendo isso nas parcerias com o Mercado Livre e a OLX para concessão de crédito para veículos usados?

São duas coisas completamente distintas. Com relação ao crédito para empresas, de um universo de mais de 3,3 mil colaboradores, nós temos 500 officers de crédito espalhados pelo Brasil (50 agências) para concessão desse tipo de crédito, que é o core do banco. O banco possui esteiras digitalizadas para checagem de garantias e comitês de crédito de acordo com o setor e tamanho da empresa.

Com relação às parcerias com Mercado Livre e OLX, elas estão na mesma linha das inúmeras que temos com correspondentes bancários no caso do consignado. Não é nada diferente do que já fazemos. Na nossa carteira de R$ 10 bilhões de consignado para INSS, funcionários federais, estaduais e municipais, 80% são concedidos por correspondentes bancários, e 20% são feitos por uma empresa própria. Em veículos, 100% da originação é feita com parcerias.

 

Como o Daycoval tem visto a concorrência de fintechs e bancos digitais?

Em 2017, quando eu assumi a presidência da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), a primeira coisa que fiz foi mudar o estatuto para permitir a entrada como associados de bancos digitais, da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs) e de IPs, justamente para que os bancos não digitais convivessem com essa nova turma e entenderem o que vinha pela frente. Como disse, essa concorrência é ótima.

Nós já tivemos bancos digitais que performaram muito bem, outros que performaram muito mal, e uma época em que era moda dizer quantos clientes se tinha, mas não o resultado que se dava. Parece que agora o mercado internacional caiu um pouco na racionalidade.

No Brasil, crédito não é para iniciantes. É preciso entender o que é operação por operação e setor por setor, e não achar apenas que é o fato de ser digital. O Daycoval é um banco clássico na forma de aprovar o crédito, mas isso não quer dizer que não seja digital na forma de chegar mais rápido ao cliente e de checar mais rápido a garantia, seja no consignado, veículos ou empresas. Tudo é uma adequação para se jogar de acordo com o adversário.

 

Como o Daycoval pretende utilizar o Open Finance?

Boa pergunta. O Open Finance se dividiu na segmentação seguida pelo Banco Central: S1 são os bancos grandes, públicos e privados; S2 e S3 são os bancos de médio e menor porte, e S4 são as IPs e Fintechs. Tudo isso tem um cronograma.

Eu não tenho a menor dúvida de que o Open Finance brasileiro será o maior do mundo. Ela já é maior que o Open Finance do Reino Unido, e está caminhando para ser maior que o australiano e italiano.

Na mesma linha da minha resposta anterior, o Daycoval vê o Open Finance como uma excelente oportunidade para que o nosso cliente possa ter visibilidade de como está o sistema, como estão as taxas na concorrência e se ele pode acessar outro banco. Mas não é por causa disso que nós vamos entrar agressivamente no Open Finance para sermos o primeiro ou o segundo banco a interoperar ou para ser transmissor ou receptor de dados.

O Daycoval está seguindo exatamente o cronograma do Banco Central. Outros colegas optaram por agredir, positivamente, o Open Finance e conquistar mercado, mas no nosso caso, achamos que tudo tem que ser feito de acordo com o seu tempo.

 

Como o Daycoval tem visto as perspectivas macroeconômicas para 2023?

Essa pergunta não é nem de US$ 1 milhão. Até o fechamento do capital em 2016, nós nunca dávamos guidance. Nós sempre dissemos que não gostamos de adivinhar o futuro, mas de viver o presente, fazendo a sua materialização através de conversas com os nossos clientes.

Dado isto, eu responderia, sem minerar e sem ser abstrato, que estamos vivendo um cenário internacional extremamente conturbado, de inflação e taxa de juros em alta, seja nos Estados Unidos ou na Europa, e às vésperas de um inverno (no hemisfério Norte) com o leste europeu e parte da Ásia com uma guerra que ainda não se encerrou.

No cenário interno, acabamos de passar por uma eleição onde o atual governo ainda não saiu, mas está meio sumido, e o novo governo está em fase de transição. Em termos de equipe, técnicos de transição e ministérios, nós ainda não temos nada concreto.

Como 2023 será um ano com taxa de juros no Brasil de, pelo menos, dois dígitos no primeiro semestre e de uma taxa de juros subindo nos Estados Unidos, que poderá bater até 6%, com certeza ele será de menor crescimento e de mais volatilidade.

O Daycoval está com uma base de capital extremamente capitalizada, com 14% de Basileia. Com volume de provisões de R$ 1,7 bilhão há mais de dois anos, o que representa um índice de cobertura acima de 200% do que é requerido pelo Banco Central. Extremamente líquido, com mais de dois patrimônios em caixa, quase R$ 10 bilhões. Extremamente casado em passivo e ativo, e com muito investimento em capital humano e em processos de digitalização em nossas esteiras. Tudo isso para estarmos preparados para qualquer cenário, sem tentarmos adivinhar o que Brasília e Washington vão fazer.

Nas divulgações dos balanços de bancos como Bradesco, Santander, Itaú, ABC, Banco do Brasil e Caixa, nós tivemos como common sense a preocupação de que o Brasil consiga, nos seus desafios de um novo governo, estabelecer suas metas fiscais para que a política monetária possa ser mais flexível. Taxas de juros altas e superávit primário sendo colocado em xeque, não é bom para ninguém.

Se olharmos os últimos resultados do Daycoval, a nossa inadimplência está estável, mas isso não quer dizer que nós garantimos que ela permanecerá estável. Numa economia que não vai crescer muito, com uma taxa de juros alta, a inadimplência sempre aparece.

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