Banco Daycoval: resultado do 3T24, diversificação e disciplina

Segundo Paulo Saba, o resultado do 3T24 está em conformidade com a trajetória e os resultados apresentados pelo banco nos últimos anos.

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Paulo Saba (foto Banco Daycoval)
Paulo Saba (foto Banco Daycoval)

Conversamos com Paulo Saba, diretor de Tesouraria e Relações com Investidores do Banco Daycoval, sobre o resultado do 3T24 da instituição.

Como o Daycoval avalia o seu resultado?

Mais uma vez, o Daycoval entregou um forte resultado, em conformidade com a sua trajetória e com o que o banco tem entregue nos últimos anos. Esse resultado reflete a nossa disciplina na concessão de crédito e na diversificação das nossas carteiras, seja de crédito, seja de serviços. Ele também reflete o nosso conservadorismo na gestão do balanço, tanto do ponto de vista do risco de crédito quanto do risco de mercado e de liquidez, que são riscos importantes para serem geridos por um banco.

Como o banco entende o seu resultado?

O resultado trouxe muita qualidade. Mesmo em um ambiente de crédito ainda complexo, os créditos vencidos acima de 90 dias estão em um patamar bastante confortável, se você considerar que há um ano nós estávamos vivendo uma crise de crédito relevante no mercado brasileiro.

A margem financeira voltou para a casa dos 9%, reflexo do trabalho de gestão de ativos e passivos do banco (ALM, Asset Liability Management), que envolve práticas mais modernas de gestão que estamos desenvolvendo há pouco mais de 5 anos, e do funding do banco.

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A disciplina na concessão de crédito, olhando bastante para a sua qualidade e o seu retorno, aliado a uma redução no custo de funding, que também está sendo percebido no sistema financeiro, ou seja, não é uma exclusividade nossa, trouxeram qualidade para a margem, o que fez com que mudássemos de patamar em todos os sentidos.

O Daycoval possui uma carteira de crédito muito diversificada. Como o banco decide trabalhar com um tipo de crédito e como ele faz para administrá-lo?

O nome do jogo é diversificação. Isso é muito similar ao que aprendemos nos livros na gestão de grandes portfólios, cujo sucesso está diretamente relacionado à diversificação, à diluição de riscos. Isso não é diferente no Daycoval, já que essa diversificação gera valor e qualidade para o nosso balanço.

Nós decidimos iniciar um negócio sempre buscando agregar valor ao todo. Nós não desenvolvemos uma linha de produtos ou de negócios exclusivamente pelo cross-sell, só para aumentar o atendimento ao cliente. O negócio tem que fazer sentido e tem que parar de pé por si só. Esse é o primeiro ponto.

Segundo ponto: nós não temos pressa. No Daycoval, muitos negócios começaram pequenos, como pilotos, e foram sendo testados e desenvolvidos ao longo do tempo. Em outros negócios, nós testamos e efetivamente desistimos, mas isso foi tão pequeno e irrelevante face ao todo, que não mexeu nos ponteiros dos nossos balanços.

Nós temos muita disciplina em entender o negócio e caminhar um dia após o outro, vendo se ele tem valor ou não, quais são seus riscos e testando na prática a sua  efetividade.

Como o banco avalia o impacto do novo ciclo de alta da Selic no crédito?

Ruim. Como o mercado já trabalha com um arrasto financeiro das companhias bastante elevado e ainda se coloca mais pressão nessa rubrica dos seus balanços, isso é super punitivo. Em um mercado de crédito que já estava complexo, nós devemos passar por um período de eventual deterioração pelo eventual aumento de custo desse crédito para os nossos clientes.

Quando eu converso com analistas de mercado, alguns deles costumam dizer que, independente dos juros crescerem ou diminuírem, um banco sempre ganha. Na visão do Daycoval, essa visão está correta?

Não, não está. Como disse, juros mais altos fazem com que o arrasto financeiro para as companhias fique pesado, o ambiente de crédito muito mais pantanoso, e a alavancagem dos tomadores de crédito se deteriore devido ao mero arrasto do passivo que está sendo carregado. Então isso não é verdade. Em um mercado onde você tem juros mais normais ou em padrões internacionais, você tende a ter um ambiente de crédito muito mais saudável.

Como o banco avalia as perspectivas da sua área de DCM (Debt Capital Market)?

A área de DCM começou pequena, explorando a nossa base de clientes, sendo que depois nós começamos a participar de grandes transações de mercado. Aqui, nós temos dois vetores. Pelo lado dos emissores, uma alternativa bastante confiável, com o desenvolvimento de uma área de distribuição mais robusta para o posicionamento desse emissor perante o mercado de capitais brasileiro, que é sim um mercado que vem se desenvolvendo fortemente nos últimos anos, e que se torna um bolso alternativo para ser acessado pelos nossos clientes.

Pelo lado do público investidor, nós temos sentido que existe uma confiança muito grande na franquia de crédito do Daycoval, que é reconhecido por ter crescido em torno de pilares de crédito sustentáveis. Como essa franquia traz confiança quando levamos uma transação ao mercado, mesmo que seja um novo emissor, ele olha com muito mais carinho quando o Daycoval leva essa operação. Justamente porque o Daycoval faz a curadoria de crédito, que é um dos pilares de sustentação do banco.

Como esse segmento já é estabelecido, como o Daycoval está abrindo mercado para a sua área de DCM?

Ótima pergunta. Para os emissores, a lógica é relativamente simples. O banco possui 56 anos de história apoiados em pilares de crédito muito robustos. Por muito tempo, o banco esteve ao lado dos seus clientes para cobrir gaps, atender capital de giro e descontar duplicatas, ou seja, para efetivamente fazer o seu suporte de crédito, sempre preservando a relação com eles, o que faz com que vejamos a recorrência desses clientes. No momento em que passamos a atuar no mercado de capitais, é natural que haja um reconhecimento, por conta desse relacionamento, e que esse cliente nos traga, seja  acomodado dentro de um grupo, seja em um mandado solo, operações de mercado de capitais.

Mas isso não anda sozinho. O banco tem que mostrar que tem capacidade de distribuição e capilaridade junto aos públicos alvo daquele tipo de emissão. Por exemplo, se for uma emissão incentivada, o público são as pessoas físicas, mas se for uma emissão não incentivada, o público é institucional. E isso nós temos, seja pelos canais próprios, através das nossas áreas de distribuição internas, seja pelo próprio relacionamento institucional.

Como esse público institucional sempre foi investidor da casa, ele sempre reconheceu, como disse, a franquia de crédito do Daycoval e nos dava crédito, então na hora em que levamos uma transação de crédito de uma emissor que é nosso cliente, esse investidor institucional reconhece que o banco teve um cuidado muito grande com a operação.

Como o banco avalia as perspectivas da sua corretora?

A corretora é um caso interessante. Como se trata de uma retomada, já que o banco atuava com corretagem de bolsa até a década de 1990, isso nos traz um pouco de nostalgia, mas agora a corretora virá em um formato bastante diferente, pois estamos colocando muita energia para desenvolvermos o nosso mundo de investimentos e de mercado de capitais.

Como o Daycoval tem DCM e mesas de distribuição de crédito privado, atua no secundário do crédito privado e tem serviços de administração e custódia para fundos, com R$ 140 bilhões sob esses serviços, a corretora se acopla nesse ecossistema oferecendo mais uma solução para o público investidor, seja ele institucional, dentro da base que já trabalhamos, seja a pessoa física que já opera com o banco e que terá mais uma alternativa para manejar os seus investimentos. Essa é a lógica da corretora nesse ecossistema.

Como esse segmento também já é estabelecido, como o Daycoval está abrindo mercado para a sua corretora?

O desenvolvimento da base de clientes vai ser dentro do próprio ecossistema.  O banco não pretende ter uma corretora gigante e super atuante. Ele quer prestar um bom serviço para o cliente que já está embarcado dentro do seu ambiente de negócios. Por exemplo, no mundo institucional, nós temos cerca de mil fundos de um pouco mais de uma centena de assets, que estão debaixo da nossa operação de serviços fiduciários, compostos pela administração e custódia de fundos. Alguns desses clientes são grandes, possuem atuação até mesmo global e estão muito bem servidos. Outros, não.

Uma vez que prestamos um bom serviço de administração e custódia, esses clientes buscam dentro do nosso ecossistema, um bom serviço de corretagem. Esses são os clientes que podemos explorar.

No nosso mundo de varejo, além dos 250 mil clientes na nossa plataforma digital que compram emissões do Daycoval, nós temos uma base de pessoas físicas de alta renda que não são atendidas pelo canal digital, mas sim de forma pessoal, e que exploram a nossa emissão bancária e o nosso crédito privado, como a colocação de debêntures, CRIs, CRAs e afins. Esses clientes, que já operam em Bolsa, vão ter mais uma alternativa para transacionar o mundo de listados dentro do nosso sistema. É por aí que nós vamos iniciar o desenvolvimento, mas, mais uma vez, sem pressa, pois o que queremos é prestar um bom serviço e ter um relacionamento de longo prazo com os nossos clientes.

O banco fechou seu capital há quase 10 anos, mas manteve uma estrutura como se ainda tivesse ações em Bolsa. Duas perguntas: o banco considera a possibilidade de reabrir o seu capital; se sim, vale a pena reabrir o capital para sofrer pressão do mercado?

Essa resposta tem dois pontos de partida. O primeiro é que não temos necessidade de abertura de capital. No 3T24, nós entregamos uma Basiléia de 14,8%, sendo que no mês a mês ela passa dos 15% e chega até 16%. Além disso, o retorno que o banco apresenta, na faixa dos 20% aos 25%, ajuda a alimentar a base capital. Assim, o negócio, por si só, é perene e sustentável no longo prazo, o que leva, imediatamente, à não necessidade de acessar esse mercado.

O segundo é o ponto de vista do próprio mercado. Hoje, não existe múltiplo, pois não existe demanda, e não existe demanda, pois não existe múltiplo, ou seja, não existe profundidade junto ao mercado de ações no Brasil para a colocação de um IPO de banco. Nós não vemos espaço e nem vontade do mercado para absorver uma transação bancária. Pelos dois lados, não há planos. É óbvio que monitoramos o que existe, mas esse plano é inexistente dentro das nossas discussões.

Contudo, eu gostaria de responder a sua segunda pergunta. De fato, lidar com as pressões de mercado, quando você é uma empresa listada, é muito complexo. Quando o banco era listado, nós não dávamos guidance e não nos submetíamos às pressões de crescimento. Na época, e até hoje, havia essa vertente do growth, onde todo mundo tinha que crescer, mas quando nós não vemos ambiente para crescer, nós não crescemos. Nós queremos crescer com segurança, com substrato suficiente para trazer sustentação de longo prazo ao negócio. Crescer por crescer para atender os anseios de mercado, não funciona. Pelo menos na nossa visão.

Com relação ao disclosure e o nível de informação, o mundo não é feito apenas de equity. Nós temos stakeholders, credores e investidores locais e internacionais que demandam informação e transparência. A transparência, mais do que a informação, ou seja, se está ruim, está ruim, se está bom, está bom, cria confiança de longo prazo. Como o Daycoval se baseia nisso, nós mantemos todos os disclosures como se fôssemos listados.

Você pode nos contar sobre o trabalho que o banco tem feito que tem resultado na melhora do seu rating?

Isso é reflexo do próprio trabalho do dia a dia. Da disciplina na concessão de crédito, na diversificação de carteira e de produtos, no aumento da receita de serviços, que tem se tornado cada vez mais relevante, na diversificação das fontes dos instrumentos de funding, na própria alavancagem e no ALM funcionando. Enfim, tudo o que abordamos reflete no nosso rating.

Em paralelo, a nossa área de RI tem feito um trabalho muito próximo das agências de rating, dando os disclosures que eles acham necessários e as informações em cortes que eles utilizam para tomada de decisão. Tudo isso é feito para que essas informações se reflitam nos seus comitês da forma mais transparente e clara possível.

Todo o desenvolvimento do banco, em todos os aspectos que falamos, e o fato de estarmos próximos das agências dando os disclosures necessários, resultaram na nossa evolução de rating.

Como o banco vê as suas perspectivas?

Não à toa que o Banco Daycoval está há 56 anos na estrada, crescendo organicamente, com poucos pontos de M&A na sua história, com uma lógica de relacionamento de longo prazo, e agregando, cada vez mais, valor aos seus produtos e serviços. É assim que olhamos para a frente.

Nós estamos aqui não só para os momentos bons, mas também para os momentos complexos dos nossos clientes. O banco tende a ter uma continuidade desse crescimento robusto, com qualidade, entregando resultado e protegendo seus stakeholders, ao mesmo tempo em que entregamos um bom produto e um bom serviço para a nossa base de clientes.

Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?

Eu gostaria só de lembrar que o varejo também está presente no Daycoval. O banco é um player importante no mundo de crédito consignado, com uma carteira de cerca de R$ 16 bilhões, e, diferente de outros players, nós temos pulverização de entes consignantes, ou seja, nas entidades que abrem as suas folhas de pagamento para que o Daycoval opere a consignação em folha. Dessa forma, além do INSS, do SIAPE (Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos) e das Forças Armadas, nós estamos em vários governos estaduais e  municipais. Isso gera um efeito interessante, já que o consignado é um produto anticíclico, pois ele não tem alta frequência, já que ele segue uma evolução.

Nós também estamos nos mundos de financiamento de veículos e de home equity. O financiamento de veículos, que está retomando o seu crescimento, é um produto que tem margem bastante adequada para o segmento que transacionamos, o que é curioso, pois nós estamos em um mercado de veículos usados onde o nosso comprador é uma pessoa que precisa do veículo para trabalhar.

A carteira de home equity, que vem crescendo devagar, mas que já está em algumas centenas de milhões de reais, também é uma forma de atuação no varejo. Nós também já estamos no câmbio-varejo e no mundo de investimentos de pessoa física. O banco está muito diversificado dentro dos seus ângulos e portfólios de produtos e serviços.

Outro ponto que gostaria de destacar está relacionado ao uso da tecnologia. Nós originamos transações de crédito de várias formas. No mundo de pessoas jurídicas, isso é feito, majoritariamente, de forma analógica, e no mundo de pessoas físicas, há uma mix de digital e analógico, mas com toda a formalização digital.

Para nós, o importante do uso da tecnologia está da porta para dentro. Isso se reflete na navegação das propostas de crédito por dentro do banco; na tomada de decisão de crédito através da utilização de bases de dados disponíveis no mercado, e até de inteligência artificial, e na forma como controlamos o banco por dentro. Isso porque entendemos que o uso da tecnologia da porta para dentro é essencial para o contínuo crescimento e multiplicação de valor dentro do banco.

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