Banco Inter (INBR32): resultado do 1T25, modelo e perspectivas

Segundo Julio Vieria, por mais que o resultado do Inter no 1T25 tenha sido neutro, o banco possui um grande potencial para crescer ao longo do ano.

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Júlio Vieira (foto divulgação TC)
Júlio Vieira (foto divulgação TC)

Conversamos sobre o resultado do 1T25 do Banco Inter com Júlio Vieira, gestor e contribuidor do TC.

Qual a sua avaliação sobre o resultado do Inter no 1T25?

No geral, o resultado do 1T25 foi neutro quando comparado à expectativa. O Inter possui um modelo de crescimento de fintech aliado à prudência operacional dos “bancões”, diferentemente do Nubank. Por essa ótica, a geração de valor vem aparecendo no lucro, no ROE (Return on Equity) e na inadimplência através de um crescimento sustentável.

A receita líquida de juros teve o impacto positivo da reprecificação de carteiras; uma maior originação com spreads mais altos e de uma alocação, mais eficiente, de recursos excedentes em títulos públicos federais e privados. O ROE consolidado foi de 13,6%, mas quando pegamos o target do banco, esse ROE precisaria ter sido um pouco mais elevado, pois ele está abaixo do Plano 60/30/30 para 2027 (60 milhões de clientes, índice de eficiência de 30% e ROE de 30%)

Com relação a Basileia, ela caiu para 14,7%, um pouco abaixo do guidance, mas esse recuo foi muito mais puxado pelo crescimento da carteira de crédito e da melhora da margem livre de juros do que, de fato, por uma piora na inadimplência, tanto que o RWA (Risk-Weighted Assets) do banco vem crescendo de forma eficiente.

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Dessa forma, por mais que o resultado do banco tenha sido neutro, ele ainda possui um grande potencial para crescer ao longo do ano.

Quais são os números do Inter que mais chamam a sua atenção?

O principal ponto do Inter é a sua eficiência, sendo que o Índice de Eficiência do banco caiu de 62,4% no 1T23 para 48,8% no 1T25. As pessoas, geralmente, confundem, mas quanto menor o Índice de Eficiência, mais eficiente o banco, pois isso sinaliza uma melhor geração de receita por cliente ativo.

Onde o Inter tem feito o seu resultado?

O principal ponto de inflexão do Inter é a maior originação de crédito de forma eficiente. O banco cresceu muito em nichos como FGTS e Home Equity, sendo que o spread dentro desse mix vem crescendo ano após ano de forma bastante eficiente. Fazendo um contraponto, o Inter pode crescer menos que o Nubank, mas cresce de forma mais sustentável.

Onde o Inter poderia render mais como banco?

Por mais que a alavancagem da base esteja sendo feita de forma eficiente, eu acredito que há espaço para aumentá-la para que se possa correr um pouco mais de risco nessa ponta, aumentando a carteira e, consequentemente, a rentabilidade do banco.

Qual a sua avaliação sobre a qualidade dos clientes que o Inter tem colocado para dentro da sua base?

O Inter vem de quatro trimestres consecutivos de crescimento no seu ARPAC (Average Revenue Per Active Customer), que fechou em R$ 50, o que mostra que o banco sabe captar clientes de forma barata e rentabilizá-los bem.

Para que você tenha uma referência, o ARPAC do Inter está acima dos ARPACs dos “bancões”. Isso porque o Inter consegue rentabilizar muito os seus clientes por conta da sua escala operacional, que é muito maior que as escalas dos “bancões”.

O aumento da Selic favorece, atrapalha ou é indiferente a um banco como o Inter?

Como o Inter vem entregando uma alocação eficiente de liquidez em títulos públicos federais e privados, boa parte do seu resultado no 1T25 veio dessa linha. Dessa forma, o aumento da Selic não impactou de forma negativa o resultado do banco.

Qual a sua avaliação sobre a evolução do lucro líquido e do ROE do Inter?

O lucro líquido do banco vem evoluindo de forma bem positiva. Com relação ao ROE, o Inter teve um resultado neutro. O banco teve uma melhora muito positiva devido à alavancagem operacional e ao crescimento da margem financeira e da margem com o mercado, mas quando comparamos o ROE com o target implícito no Plano 60/30/30, pressupõe-se um ROE de 20%, o que mostra que o ROE de 13,6% ficou um pouco abaixo disso.

Qual modelo de banco digital você considera melhor: Inter ou Nubank?

Boa pergunta. O Inter possui uma diversificação maior em termos de originação de crédito em relação ao Nubank, que possui um crédito muito associado ao crédito pessoal. Como o Inter consegue extrair spreads melhores, nós conseguimos ver um crescimento muito mais sustentável do seu formato de operação de crédito. O Nubank cresce mais nesse momento, mas o risco associado ao tipo de crédito que ele trabalha é muito maior quando comparado ao Inter. Dessa forma, o potencial de provisionamento do Nubank tende a ser maior nos próximos anos, o que pode cessar o seu crescimento no longo prazo. No Inter, a inadimplência e as provisões vêm em queda, enquanto o crescimento da sua rentabilidade vem sendo bem fundamentado.

Como disse, o Inter possui um crescimento de fintech da mesma forma que o Nubank, mas com prudência operacional. É por isso que eu prefiro o modelo de negócio do Inter.

Qual a sua avaliação sobre a política de pagamento de proventos do Inter?

A política do Inter ainda deixa a desejar, mas em algum momento o banco deve trazer uma política mais interessante em relação ao seu payout e ao seu yield. Eu não vejo esse dividendo sustentável aparecendo agora, já que o banco está em uma vertente de crescer a rentabilidade e trazer a sua alavancagem operacional para o resultado de forma consistente, justamente para que no futuro ele possa ter uma política mais firme de dividendos para os investidores.

Como você tem visto o desempenho das ações do Inter?

O Inter tem um gap gigantesco de valuation em relação aos seus pares, pois, por mais que o banco esteja entregando eficiência, o mercado ainda não paga por isso. O banco está muito barato, mas ele entrega um crescimento acima de 30% na originação de crédito. Mesmo que o banco entregasse um resultado 20%, 30% abaixo do seu guidance, ele deveria ter uma valorização que eu não vejo o mercado pagando.

Na sua visão, valeu a pena o Inter ter migrado suas ações para a bolsa americana, deixando recibos no Brasil?

Eu acredito que sim. No Brasil, vira-e-mexe, nós temos uma distorção maior entre o que as empresas entregam de resultados e a precificação de mercado. Quando o Inter levou as suas ações para os Estados Unidos, ele levou essa distorção negativa e o potencial de longo prazo que isso traria para o banco. Na minha visão, isso foi muito positivo, pois outras empresas que listaram lá fora fecharam esse gap de valuation. Nós temos exemplos de empresas que fizeram isso e que, quando entregaram resultados, o mercado começou a pagar na frente de forma mais eficiente, o que não acontecia aqui no Brasil em um prazo mais curto. Olhando o longo prazo, eu vejo o movimento do Inter como positivo.

O Nubank e o Inter levaram as suas ações para os Estados Unidos, sendo que o Nubank possui uma operação em vários países enquanto o Inter segue com uma operação muito concentrada no Brasil. Isso não acaba fazendo com que o Nubank tenha mais apelo frente a um investidor americano que o Inter?

Existe esse contraponto, mas ao longo do caminho o banco passa a ter um acesso maior ao capital internacional, facilita potenciais M&As (Mergers and Acquisitions), barateia um pouco o seu funding, ganha uma atratividade maior para investidores institucionais e captura um valuation com um múltiplo mais alto devido a reprecificação das suas ações.

Como você tem visto as perspectivas do Inter para o restante do ano?

O Inter tem apresentado um crescimento bem sustentável, uma monetização de base muito forte e um ROE caminhando para acima de 20%. O crescimento muito forte da base de clientes aliado à eficiência de custos são muito positivos para um ROE sustentável de longo prazo. Esses pontos fazem do Inter um banco vencedor no longo prazo.

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