Conversamos sobre o Banco Pine com Noberto Nogueira Pinheiro Jr e Clive José Vieira Botelho, diretores executivos da instituição financeira focada no atacado de médias e grandes empresas e no varejo colateralizado.
Como o Pine está sentindo o mercado de crédito?
Noberto – Do ponto de vista macro, nós tivemos um 3T23 bem desafiador. Ele teve uma influência externa extremamente negativa, com a curva de juros da economia americana num patamar estressante. Há muitos anos que não se via a taxa de juros americana acima de 5%, com o juros real batendo em 2,5%. Ao mesmo tempo, a economia chinesa emitiu sinais de fraqueza, principalmente no setor imobiliário. O 3T23 teve uma volatilidade imensa do setor externo que afugentou os investidores estrangeiros. No Brasil, tivemos uma inquietação com relação a agenda do Congresso.
Com relação ao 4T23, está tudo melhor. Nos Estados Unidos, os índices de inflação e o mercado de trabalho estão demonstrando uma desinflação. As taxas de juros mais longas melhoraram. O ambiente de risco nos Estados Unidos também melhorou, assim como na China. No Brasil, a agenda do Congresso andou e, a despeito das exceções, a aprovação da reforma tributária foi positiva. A desinflação no Brasil continua, o que vai permitir ao Banco Central reduzir a Selic para um patamar abaixo de 10% em 2024.
Clive – Parece que agora, com os números recentes de inflação nos Estados Unidos, nós iniciamos um novo ciclo, que já estava contratado no Brasil com os cortes de 0,5%. A discussão passa a ser de quando será o corte de juros lá fora. Essa é uma inversão de ciclo que é extremamente benéfica para a nossa operação de atacado, pois estamos muito restritivos no crédito para empresas há algum tempo.
Noberto – Do ponto de vista de crédito, a tendência é sermos mais positivos daqui para a frente, pois a condição financeira tende a, gradativamente, ser aliviada. A queda da Selic ajuda na desinflação e no alívio dos orçamentos das famílias. Foi difícil para elas enfrentarem uma Selic que saiu de 2% para 13,75% com uma inflação de dois dígitos, o que lhes tirou bastante renda. O Desenrola também ajudou as pessoas físicas.
O cenário para pessoas físicas e jurídicas está melhor. Essa é a nossa visão do macro chegando ao crédito.
Como o Pine está vendo a competição no mercado de crédito?
Noberto – O Brasil tem uma forte concentração bancária, com cinco grandes bancos dominando pouco mais de 80% do mercado de crédito. Além desses bancos, as empresas precisam de bancos ágeis que tenham condições de atender suas necessidades de A a Z, como capital de giro, trade finance, derivativos de proteção, seguros, operações no mercado de capitais, e, caso esse mercado esteja fechado, possa fazer uma ponte para atendê-lo. É aqui que o Pine se encaixa. Nós não somos o banco principal de nenhuma empresa, mas somos reconhecidos pelas alternativas e pela capacidade de responder rápido.
Como o mercado de capitais não se abriu da forma como se imaginava, as empresas voltaram para os bancos. Com relação aos FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) e as assets voltadas para crédito, eles não tiveram a mesma volúpia, pois se depararam com um ambiente muito desafiador e levaram alguns reveses. É por isso que nós não sentimos tanto a concorrência.
Clive – Daqui para a frente, nós vamos ter uma melhora do mercado de capitais e do ambiente como um todo. Se por um lado isso piora a concorrência, por outro nos permite expandir o portfólio de crédito, operações estruturadas, mercado de capitais e mesas.
Noberto – No Brasil, o bom é ter alternativas. Em jun/2022, a carteira de crédito expandida do Pine estava mais focada em empresas e somava R$ 4,6 bilhões. Em set/2023, essa carteira somava R$ 9,2 bilhões, só que esse crescimento se deu muito mais no varejo colateralizado que nas empresas. Mesmo nas empresas, nós tiramos o pé das médias e focamos mais em setores resilientes.
Clive – No varejo, nós também buscamos essa diversificação através de dois negócios. Nós temos o negócio da carteira, com a qual originamos crédito consignado, e o investimento na BYX, onde temos uma participação, em média, de 30%*.
Qual a importância da BYX para a operação e para os resultados do Pine?
Noberto – É bom lembrar que o Pine foi o primeiro banco médio a abrir capital em 2007. Quando isso aconteceu, o banco era diversificado, com a vertical de empresas e de varejo colateralizado, sendo que a partir de 2009 o foco passou a ser mais as empresas.
Há quase dois anos, nós dissemos que estava na hora de voltarmos a ser diversificados, pois o varejo colateralizado é uma joia que só existe no Brasil. Para que você tenha uma ideia, o Brasil tem R$ 930 bilhões de crédito pessoal, sendo que, aproximadamente, R$ 650 bilhões são de varejo colateralizado, que é o crédito para pessoa física com garantia do provento do aposentado, do salário do funcionário público ou do lastro do FGTS.
Clive – O retorno ao varejo colateralizado tem muito a ver com o ambiente de juros. Nós já chegamos ao final do ciclo de alta da Selic, mas há pouco mais de dois anos, quando decidimos retornar a esse mercado, nós víamos uma inclinação positiva da curva de juros muito grande. Nós queríamos diversificar o nosso negócio para deixá-lo menos cíclico e menos exposto aos movimentos da taxa de juros. O varejo colateralizado tira essa ciclicaridade do nosso balanço, pois o negócio de atacado, composto por médias e grandes empresas, está mais exposto aos ciclos de juros.
Noberto – Nós escolhemos a BYX porque queríamos voltar ao varejo colateralizado de uma maneira mais inteligente. Em vez de contratarmos times das áreas comercial, de produto e de conciliação, nós decidimos procurar no mercado uma fintech especializada que prestasse serviço para o Pine, como localização de bons portfólios, conciliação de portfólios, eleição dos melhores critérios de elegibilidade e services para termos as células anti-fraude. Através da BYX, nós temos uma excelência de monitoramento e de gestão nessa vertical.
Como o Pine está utilizando o Open Finance?
Noberto – Através da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), os bancos que não são S1 sempre lutaram para que a informação fosse simétrica, pois quanto mais a informação for assim, mais as instituições serão assertivas na alocação de capital e melhor será a produtividade do sistema financeiro, seja para as empresas, seja para um banco como o nosso.
O Open Finance vai propiciar que as informações sejam mais simétricas, pois hoje um banco S1 tem muito mais informação que os demais bancos. Essa simetria permitirá a criação de análises mais profundas que possibilitarão as instituições serem mais assertivas nos spreads.
*BYX Capital, 30% de participação; BYX Produtos, 40% de participação, e BYX Originação, 30% de participação.