A bem do bom jornalismo e do respeito ao leitor, as informações sobre o ágio obtido nas bacias de petróleo leiloadas ontem pela ANP têm de vir acompanhadas de complemento indispensável: todo e qualquer ágio pago poderá ser integralmente abatido pelas empresas na declaração de Imposto de Renda. A revelação, feita pelo próprio secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, em seu revelador depoimento à CPI dos Bancos, vale para todas as privatizações.
Baratinho II
A compra dos blocos de petróleo em áreas já descobertas pela Petrobras pode ser considerada, por seus compradores, um dos maiores negócios do século. O bloco mais barato, da Bacia de Potiguar, foi oferecido por R$ 85 mil, valor mais em conta que um apartamento de dois quartos na Zona Sul do Rio. E o preço pedido pelo bloco mais caro, a apetitosa Bacia de Campos (R$ 270 mil), não chega à metade do pago por Ronaldinho por sua Ferrari: US$ 320 mil (R$ 576 mil).
Esfacelado
O edificante e esclarecedor bate-boca entre ACM e Michel Temer teve seu primeiro assalto, coincidentemente, no mesmo dia em que o presidente FH reunia, pela segunda vez em duas semanas, integrantes do seu Ministério. Além dos problemas políticos que trouxeram, as caneladas entre os dois desmoralizou as versões docilmente reproduzidas pelo jornalismo “chapa branca” sobre a suposta dura que FH teria dado nos ministros exigindo unidade na defesa do governo.
Gogó
ACM deu mais uma contribuição a sua imagem de fanfarrão. Apesar de ameaçar disparar novas denúncias contra Temer, o senador pefelista deu a briga por encerrada pouco após o deputado peemedebista afirmar que, por dominar o setor elétrico desde a ditadura, ACM é que era “especialista em nomeações nebulosas”. Conhecedor do fanfarronismo de ACM, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) já previra pouco antes de o senador enfiar a viola no saco que, “daqui a uma hora o senador vai dar um abraço no Temer”.
Antevisão
“O oficialismo….está carcomido pelas lutas chamadas intestinas..” O dignóstico não foi feito por nenhum líder da oposição atual, mas pelo oposicionista de então FH, em entrevista, em janeiro de 1982, ao Pasquim. Republicada no primeiro número da irreverente Bundas, a entrevista de FH impressiona pela, digamos, releitura que propicia.
Abandonado
Alguém na Prefeitura deve ter feito um convênio com alguma oficina especializada em suspensão de automóveis. Só isso para entender por quê deixaram dois buracos atravessando toda a pista de alta velocidade do Aterro do Flamengo (sentido Zona Sul), sem nenhuma sinalização e sem as tradicionais placas de aço. O motorista menos atento pode acabar danificando seriamente seu carro.
Kafkaniano
Uma vítima da flexibilização tarifária ligou para a Telemar para desligar sua segunda linha telefônica. Foi informado, porém, que, embora a linha fosse desativada, teria que continuar bancando a tarifa básica, que, a partir do mês que vem, saltará para quase R$ 20. Revoltado, o assinante está pensando em parar de pagar a conta, para ver se a companhia corta a linha.
Dilema
Uma dúvida assalta os mais tímidos: Qual seria o jeito, digamos, mais polido, de pedir ao jornaleiro a recém-lançada revista Bundas?
Vencidos
Com entusiasmo jornais brasileiros seguem a imprensa norte-americana para proclamar a vitória da Otan na guerra com a Iugoslávia. Estranha vitória em que o acordo de paz acabou sendo muito próximo – muito mesmo – do que a nação agredida oferecia antes dos bombardeios. Mais estranho é ver EUA e cia. negociando com Milosevic, por eles mesmos indiciado por crimes de guerra. Algumas críticas, porém, começam a passar pela barreira pró-Otan: até o Washington Post reconhece que a estratégia na Iugoslávia é um exemplo de como não conduzir uma guerra. Detalhe: segundo o jornalista Newton Carlos, em artigo no Correio da Cidadania, a coligação que atacou a Iugoslávia tinha poderio militar 150 vezes superior e poderio econômico 500 vezes maior.
Onipotência
Previsto pela Lei 9.784, que acabou, há cinco anos, com o monopólio estatal do petróleo, o Conselho de Política Energética (CPE) até hoje não saiu do papel. Pela Lei, caberia ao CPE – composto por membros do governo e especialistas indicados pelo presidente da República – deliberar sobre a política do setor a ser executada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Com a não implantação do CPE, a ANP delibera e executa a seu bel prazer a política para o setor petrolífero.