Se a CPI da Covid tem o mérito de escancarar o projeto do Governo Bolsonaro de espalhar a pandemia para o maior número de pessoas, tem como efeito colateral, pior do que a cloroquina, oferecer palco para governistas divulgarem suas versões descoladas da realidade. Faltam aos senadores maior apoio dos assessores para rebater os argumentos falsos.
Nesta terça-feira, um senador, provocando Randolfe Rodrigues (Rede-AP) repetiu que no Amapá menos se morreu por Covid no Brasil, e que isto ocorreria devido ao uso da cloroquina (e temos aqui uma “meta fake news”: que dados sustentam que a cloroquina teve efeito positivo lá, só lá, e em mais nenhum lugar do País ou do mundo?).
Vamos aos números, do Ministério da Saúde. Mas, antes, a definição. Segundo a Secretaria de Saúde de Minas, “taxa de mortalidade = número de pessoas que morrem por uma causa específica dividido pelo número total de pessoas na população”.
Nesse caso, o Amapá, com 213 mortes/100 mil habitantes, não é o menos pior nem na região Norte; o Acre tem taxa menor (213/100 mil). No País, a menor taxa continua sendo no Maranhão (124), seguido por Alagoas (154) e Bahia (156) – estados que convocaram especialistas para liderar o combate à pandemia.
Outro indicador seria a taxa de letalidade. De acordo com a Secretaria de MG, “mede a porcentagem de pessoas infectadas que evoluem para óbito”. Também não deu razão ao senador. No Amapá, a letalidade é de 1,56%, superior à de Roraima (1,55%). No caso da letalidade, há influência da detecção da doença. Se o estado fez o dever de casa e aplicou muitos testes, haverá muitos infectados e, proporcionalmente, menos mortos.
Exemplo chinês
Crítico voraz do lockdown e defensor não assumido da imunidade de rebanho, o deputado bolsonarista Osmar Terra citou a China como justificativa para ter errado, por margem de 250 vezes, a previsão do número de mortos no Brasil. Faltou perguntar: como os chineses fizeram para limitar a 4,6 mil a quantidade de óbitos no país? Com um severo lockdown em Wuhan.
Assim caminha a humanidade
Argumento de autoridade do eleitor brasileiro, 2003-2016: “Li na Veja”; 2017–presente: “Vi no Zap”. Evoluímos?
Rápidas
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