BB Previdência: mercado, competição e diferenciação

Segundo Sandro Grando, o Brasil precisa discutir a baixa penetração da previdência privada na população.

328
Sandro Grando (foto BB Previdência)
Sandro Grando (foto BB Previdência)

Conversamos sobre a BB Previdência com Sandro Grando, diretor-presidente do fundo de pensão multipatrocionado do Banco do Brasil. Em dezembro de 2024, a BB Previdência, que possui mais de R$ 8,4 bilhões em ativos administrados, completará 30 anos de existência.

Como a BB Previdência se posiciona no mercado brasileiro de previdência privada?

Desde a posse da nova diretoria, nós decidimos ser referência aos nossos patrocinadores. Nós queremos sedimentá-los e segurá-los com um bom atendimento, uma boa referência, uma boa assessoria e uma boa consultoria. Como nós somos uma empresa multipatrocinada, administrada pelo Banco do Brasil, nós queremos ser referência aos clientes do banco quando se fala em previdência fechada.

Nesse primeiro momento, o foco são os clientes internos, mas também estamos focando, fortemente, no atendimento do setor público. Nesse mercado, o nosso posicionamento é muito claro: nós queremos ser a maior empresa de previdência fechada deste segmento. Já somos a maior em quantidade e vamos continuar com esse trabalho.

Como a BB Previdência avalia a competição nesse mercado?

Esse é um mercado muito competitivo, com mais de 200 empresas de previdência fechada altamente qualificadas. Como o processo de transferência de fundos é complexo e lento, com o andar do tempo haverá uma seleção natural dessas empresas, pois o custo precisa ser, cada vez mais, menor para que o participante tenha um valor acumulado e uma rentabilidade muito maior no futuro.

Espaço Publicitáriocnseg

Por mais que a BB Previdência queira ser referência para os clientes do Banco do Brasil, ela não está de portas fechadas a nenhum cliente, tanto que mantemos uma equipe de novos negócios que sempre está à disposição de clientes interessados em nos ouvir.

Além desse ambiente ser muito competitivo, ele também é muito regulado. As transferências, como disse, são processos lentos que precisam de um grande investimento para que se consiga ganhar um cliente que esteja com essa disposição. Assim, os fundos têm uma proximidade com as patrocinadoras, o que as tranquiliza. Nesse meu início como presidente da BB Previdência, além de ver um mercado muito competitivo, eu vejo um mercado de pouca movimentação.

Como um fundo de previdência se diferencia nesse mercado? Apenas pela rentabilidade?

O mais visível de um fundo é a rentabilidade, mas eu diria que existe uma outra característica muito importante: a solidez no cumprimento das suas políticas macroeconômicas. Por exemplo, nós temos uma programação de papeis que nos dá tranquilidade para o pagamento das aposentadorias no longo prazo, com aplicações até 2050 que garantem o atuarial dos nossos participantes. Para isso, nós temos uma equipe muito profissional que olha o mercado todos os dias sempre buscando as maiores rentabilidades.

Além da segurança e da liquidez organizada para que possamos honrar os nossos compromissos, nós temos uma parceria muito forte com a BB Asset, que é a maior asset da América Latina, o que nos dá um suporte muito grande para sempre estarmos ligados a nossa política macroeconômica, aproveitando as melhores oportunidades existentes. Nós também contamos com consultorias externas, mas a Asset é o nosso grande apoio.

A rentabilidade é um diferencial muito grande, mas nós temos outras características que nos ajudam muito quando vamos vender uma previdência complementar fechada para uma empresa, pois nós fazemos uma gestão focada na aposentadoria dos participantes. Como nós trabalhamos no médio e longo prazo, isso sempre traz boas oportunidades e rentabilidades.

A BB Previdência atende apenas clientes do Banco do Brasil?

Hoje, o foco principal são os clientes do Banco do Brasil, principalmente do segmento do setor público. O nosso plano BB Prev Brasil já tem 268 entes (estados e municípios) que optaram pela BB Previdência. Atualmente, esse é o nosso maior foco, mas nós estamos atendendo também muitas demandas de empresas do segmento Large Corporate do banco. Inclusive, como as nossas portas estão abertas, nós temos consultas iniciais de empresas que não são clientes e que não chegaram por indicação do banco, mas que querem ser parceiros da BB Previdência.

Como se ganha e se mantém um cliente nesse mercado?

Como esse é um casamento de longo prazo, na minha visão a conquista e a manutenção de um cliente são baseados em dois pontos, sendo o primeiro a solidez. A BB Previdência carrega a solidez do Banco do Brasil. Todos os participantes e patrocinadores olham primeiro para ela, pois isso significa que depois de 30 anos de depósitos, todo o investimento realizado será usufruído.

O segundo ponto é a rentabilidade que está sendo apresentada pelos fundos, mas aqui é importante dizer que quando se fala de previdência, não dá para se olhar a rentabilidade de um mês ou de cinco meses. É preciso abrir mais o leque, olhar uma rentabilidade de 10 anos e compará-la com índices importantes. Numa análise de 10 anos, a BB Previdência tem uma rentabilidade superior ao nosso índice atuarial (INPC + 4,10% ao ano), ao CDI e à Poupança. 

Além da solidez e da rentabilidade, é preciso ter equipes especializadas que possam dar o atendimento a todos os segmentos de previdência complementar, como as equipes de cálculo atuarial, atendimento, cadastro, pagamento, recebimento, tesouraria e tecnologia. Nós temos todos os profissionais necessários para termos tranquilidade e fazermos uma boa gestão, com um bom atendimento e, principalmente, uma boa consultoria previdenciária aos nossos participantes.

Você tocou num ponto super interessante que é a análise mais longa. Eu digo isso, pois vejo muito pouco esse tipo de análise no mercado brasileiro como um todo. Eu não estou falando de vocês, que fazem análises longuíssimas, mas de empresas e pessoas que fazem análises muito curtas, com prazos que não pegam uma série de anos.

Você não tem ideia da quantidade de explicações que temos que dar porque esse ano está sendo difícil. Hoje, com o mundo globalizado, crise nos Estados Unidos, crise na Europa, tudo tem interferência. Veja que a maior parte dos investimentos da BB Previdência, cerca de 80%, está em títulos de renda fixa. Por exemplo, em maio, nós fizemos a aquisição de títulos NTN-B com vencimento em 2035 e IPCA + pouco mais de 6%. Mas aí tem a tal de curva de juros. Se a curva abrir, e se nós fôssemos vender esses títulos hoje, eles valeriam menos do que pagamos. Só que nós não vamos vendê-los, pois temos uma política de investimentos e todo um planejamento de liquidez, então nós vamos carregá-los até o final. Mesmo assim, todos os meses nós temos que explicar o motivo pelo qual a rentabilidade desse investimento não foi a que se esperava.

Se o participante e a empresa forem falar de previdência todos os meses, eles vão ficar doidos, pois há muita volatilidade. Agora, quando se olha um prazo mais longo, como 10 anos, você aproveita bases boas e ruins, e se você consegue demonstrar que está tendo uma boa rentabilidade, você mostra que houve uma boa política de investimentos. Nesse acompanhamento de 10 anos, a BB Previdência fez uma bela política de investimentos. Com essa consolidação, nós podemos olhar para a frente já sabendo que estamos garantindo a inflação + 4,10% ao ano.

Na época em que a Selic era 2% ao ano, era difícil bater o atuarial, mas quando a Selic foi para 13,75% ao ano, era fácil batê-lo. É por isso que não adianta olhar num mês em que está tudo ruim, achando que a casa desmoronou, e nem num mês em que está tudo bem, achando que a casa virou um castelo, a coisa mais maravilhosa do mundo. Quando se fala em previdência, é preciso olhar um prazo maior. Se não for assim, não há como fazer um comparativo dos investimentos e dos profissionais que estão fazendo a gestão.

Como a BB Previdência controla a governança da sua política de investimentos?

Nós temos estudos feitos por parcerias externas e estudos das necessidades de liquidez dos nossos planos, já com o apoio do atuarial da própria BB Previdência. Nós temos toda uma política de necessidade de recursos e fazemos as aplicações com prazos mais longos para aproveitarmos as boas oportunidades existentes. 

Além de termos uma equipe especializada que faz todo esse trabalho, nós temos o apoio de uma empresa de consultoria externa. Na hora dos investimentos, quem também nos apoia muito é a BB Asset. Como nós seguimos toda a regulamentação do segmento, nós temos tetos máximos de investimento, mas sempre deixamos uma banda para fazermos a gestão e aproveitarmos os melhores momentos.

Basicamente, nós temos como objetivo a entrega do atuarial, cuidando para que tenhamos a liquidez necessária, sem excesso ou falta, para que possamos aproveitar as boas oportunidades que o mercado financeiro tem proporcionado.

Como você avalia a taxa de penetração da previdência privada no Brasil?

A taxa de penetração é muito pequena. Eu diria que o segmento de previdência privada ainda precisa ser muito discutido no Brasil. Trata-se de um mercado complexo onde o conhecimento não está no dia a dia das pessoas. No caso da previdência fechada, principalmente com patrocinadoras, nós temos um número muito pequeno de empresas que veem os benefícios que uma previdência pode trazer na retenção e na valorização dos seus funcionários. Nós estamos aproveitando a parceria com o Banco do Brasil para levarmos esse assunto para muitos clientes e empresas, mas quando se fala de patrocinadores, nós temos uma penetração muito pequena no Brasil.

Abrindo um pouco o escopo, falando tanto da aberta quanto da fechada, com a aberta sendo gerida pela Brasilprev e a fechada pela BB Previdência, que são duas empresas distintas trabalhando com segmentos distintos, nós precisamos entender que a velhice chega e a capacidade laboral diminui. Se um jovem não se interessa por uma previdência quando ele estaria no melhor momento para começar a sua poupança previdenciária, ele vai chegar lá na frente e ter uma necessidade de recursos quando se está na terceira idade, o seu laboral fica menor e suas necessidades, principalmente médicas, ficam maiores. Se esse jovem tivesse falado de previdência na juventude, ele chegaria na fase da aposentadoria com uma situação financeira muito melhor.

Recentemente, eu fiz uma visita a uma empresa onde perguntei a um diretor, que tinha um rendimento muito bom, qual era a sua previdência para o pós laboral. Isso porque se ele se aposentasse pelo INSS, sua renda de “x” seria “x” – 90%. Daí ele me disse que havia trabalhado para ter ganhos de aluguel, que é uma renda maravilhosa. Ele se programou de outra forma, mas quantos se programam para terem outra renda? Poucos, até porque o endividamento das famílias brasileiras têm crescido. Mas aqui fica a questão: como uma pessoa vai fazer a sua manutenção só com a previdência pública?.

É por isso que é preciso falar de previdência cada vez mais, mas esse é um assunto meio que místico quando falado de forma aberta. É pequeno o percentual de pessoas que têm interesse em entender o que é uma previdência. Nós vemos, claramente, que esse é uma tema que não está na prioridade dos brasileiros.

Aqui, eu vou me citar como exemplo. Eu entrei no Banco do Brasil aos 14 anos, como menor aprendiz, e aos 18 anos passei a ser funcionário e aderi à Previ, a previdência dos funcionários do banco. Em abril deste ano, eu completei 38 anos de BB com pouco mais de 34 anos de Previ. Eu tenho a minha poupança previdenciária que vai me dar uma tranquilidade na manutenção do meu padrão de vida na hora em que decidir me aposentar daqui a alguns anos. O meu próprio exemplo demonstra que quando se começa cedo e quando chegar a minha hora de tomar a decisão de deixar espaço para outros colegas conduzirem a BB Previdência, ou onde eu estiver no banco, eu vou poder ir para o pós laboral de forma bem mais tranquila.

É preciso discutir mais esse assunto a nível de país, mas, claro, também é preciso ter uma boa organização financeira para que se tenha uma parte dos recursos separados para pensar lá na frente. O problema é que isso não é fácil pelos nossos momentos de vida, pois quando se é jovem as prioridades são outras, mas esse é um bom tema para ser discutido  pela sociedade brasileira.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui