A incerteza sobre a inflação nos serviços, a resistência da atividade econômica e um mercado de trabalho com aumentos salariais foram as alegações do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para ameaçar reduzir o ritmo da queda dos juros, o que afetaria a recuperação da economia.
A avaliação consta da ata da reunião realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual (pp) para 10,75% ao ano. Com base nessas preocupações, os membros do Copom discutiram a possibilidade de desacelerar o ritmo dos cortes, passando de 0,5pp para 0,25pp.
A ata do Copom antecipa uma redução de meio ponto percentual apenas para a próxima reunião, diferentemente da ata anterior que indicava um processo mais longo de flexibilização da taxa de juros.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, confirma que o principal destaque da ata do Copom de março é a explicitação de que o cenário de maior incerteza quanto ao processo desinflacionário local e global requer maior flexibilidade para a condução da política monetária.
“Cabe ressaltar que fica claro que isso não representa uma indicação de desaceleração do ritmo de ajuste, apesar de alguns membros terem argumentado que, caso a incerteza prospectiva permaneça elevada, pode ser apropriado um ritmo mais lento”, salienta Goldenstein.
A avaliação da Área de Estratégia da Warren é de que a ata foi mais dura, apontando diversos sinais amarelos, em particular o comportamento da inflação nos EUA e, internamente, a dinâmica da inflação de serviços, a permanência da desancoragem das expectativas e a evolução da atividade, do mercado de trabalho e do hiato do produto.
Apesar da ata, a Warren segue “com o call de Selic de 9% ao fim do ciclo. A taxa básica de juros ainda está em patamar bem contracionista, e a projeção de inflação do BC para o ano de 2025 (foco da política monetária e que já incorpora uma Selic de 9% em 2024 e de 8,5% em 2025) está apenas ligeiramente acima da meta. Acreditamos que ocorrerão mais 2 cortes de 0,5pp (…), com o ritmo caindo para 0,25pp (mais 3 cortes) após a Selic chegar ao patamar de 1 dígito em 9,75%. O nosso cenário alternativo é de uma Selic terminal de 9,50%, caso a inflação de serviços continue apresentando surpresas altistas.”
André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, lembrou que, logo após a divulgação da ata, tivemos o IPCA-15 (prévia da inflação oficial), que avançou 0,36% em março, acima dos 0,30% esperados pelo mercado. “A média do núcleo da inflação avançou 0,21%, em linha com as estimativas. Porém, os serviços subjacentes avançaram 0,4% no mês, levemente acima da projeção, e a média móvel de 3 meses avançou para 5,9% em março, frente a 5,6% em fevereiro”, destacou Meirelles.
“A dinâmica da inflação de serviços, favorece um tom mais cauteloso para política monetária, o que contribuiu para o avanço dos juros em todos os vértices, com destaque para o DIF27”, enfatizou o diretor da InvestSmart XP.
O Banco Central projetou nesta terça-feira uma inflação de 3,75% no final de 2024 e de 3,51% para 2025, em ambos os casos dentro da meta oficial (3%, com margem de tolerância de 1,5pp para cima ou para baixo).