BC de Lula sobe juros e ameaça subir novamente

Comunicado do Copom fala em pausa, mas admite seguir aumentando os juros; 7 dos 9 diretores do BC foram indicados por Lula

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Integrantes do Copom, do Banco Central do Brasil, BCB, à mesa de reuniões
Integrantes do Copom (foto de Raphael Ribeiro, BCB)

Mesmo com sinais de que os preços estão caindo e com a manutenção da taxa de juros nos EUA, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica dos juros brasileiros (Selic) em 0,25 ponto percentual (pp), para 15% ao ano. O aumento foi aprovado de forma unânime; 7 dos 9 diretores do BC, inclusive o presidente, foram indicados pelo presidente Lula.

“O ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica”, justifica o BC.

O Comitê, se confirmado o cenário esperado, de queda da inflação provocada pela retração da economia, “antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, disse em nota.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho, segundo o comunicado, “ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”.

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As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, segundo o Comitê, situando-se em 5,2% e 4,5%, respectivamente. “A projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência.”

Aprofundamento do desemprego e da pobreza

Em nota, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, lamentou a decisão do Copom: “Ao aumentar a Taxa Selic em patamares estratosféricos de 15% ao ano, o Copom (…) demonstra irresponsabilidade social e coloca mais amarras na produção e geração de empregos no país. Os tecnocratas do Banco Central precisam entender que juro alto é veneno que mata a produção e o consumo.  Juros altos são um convite à especulação e proporcionam excelentes rendimentos ao setor bancário em detrimento da indústria e comércio.”

Torres afirma que, com a atual política de juros altos do Copom, a tendência será de aprofundamento do desemprego e da pobreza. “O Brasil que queremos é um país com distribuição de renda, justo socialmente e soberano. Um país forte na solidariedade, na igualdade social e com direitos para todos. Precisamos urgente de uma queda drástica dos juros. Em nome do desenvolvimento, da produção, da geração de trabalho decente e da distribuição de renda!”, finaliza.

Juros a 15% até o final do ano

Marcelo Bolzan, planejador financeiro CFP e sócio da The Hill Capital, acredita que foi uma decisão que já era guardada. “O mercado estava dividido, tinha argumentos aqui tanto para manter quanto para subir. Eu entendo que a subida foi um tom bastante positivo. Eles já deixam aqui um guidance, ou seja, uma sinalização dos próximos passos de uma interrupção do processo de subida de juros. Se tudo continuar como está, eles vão parar de subir juros e fazer uma pausa. Eles não falam aqui de um encerramento de ciclo, mas entendo que de fato é isso sim.”

“Minha expectativa aqui é que depois dessa subida de 15%, que a Selic continue nesse patamar até o final do ano, mesmo o Banco Central deixando em aberto. Acredito que é um fechamento realmente com chave de ouro. Os diretores do Banco Central poderiam já ter parado de subir juros até porque o mercado estava dividido, e eles optaram por fazer esse novo aumento. Então, sem dúvidas, vejo um tom hawkish [pessimista]”, complementa Bolzan.

Como ficam os investimentos com a alta de juros pelo BC

Leonardo Araújo, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, analisa como ficam os investimentos: “Com a Selic tendo uma alta pontual, os títulos públicos seguem oferecendo um retorno muito interessante. Quando a taxa básica está nesse patamar, o custo de oportunidade de investir em outras classes como ações ou fundos multimercado, aumenta bastante. Isso não significa que devemos abandonar o restante da carteira, mas sim que faz sentido olhar com mais carinho para a renda fixa pública neste momento. Para quem está mais conservador ou quer evitar grandes oscilações, aumentar a exposição a esses papéis pode ser uma boa escolha. Ainda assim, manter a diversificação continua sendo importante.”

Araújo acrescenta que o Boletim Focus aponta que a Selic pode cair para algo em torno de 10,50% nos próximos dois anos. “Ou seja, quem trava hoje um título prefixado a 14% ao ano está garantindo um belo prêmio em relação ao que o mercado projeta para frente. Nesse contexto, títulos vinculados a Selic fazem mais sentido para prazos curtos e médios, principalmente para quem quer liquidez e segurança. Nos prefixados, o indicado é para médio e longo prazo e para quem deseja fixar a rentabilidade agora e levar até o vencimento. IPCA+ também é mais adequado para o médio e longo prazo, além de funcionar como proteção contra a inflação.”

“Se a ideia for garantir um rendimento mais previsível ao longo dos anos”, afirma o sócio da GT, “o prefixado é uma ótima pedida. Já o Selic cumpre bem o papel de reserva ou parte da carteira mais tática, pois permite flexibilidade para aproveitar outras oportunidades que podem surgir. Os títulos atrelados à inflação são fundamentais no Brasil pois vivemos em um país com histórico inflacionário. Ter IPCA+ na carteira é uma forma de proteger o poder de compra no longo prazo.”

Matéria atualizada às 21h45 para inclusão de comentários sobre a decisão do Copom.

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