Sem surpresa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aprovou novo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa de juros Selic, que sobe para 14,75% ao ano. A elevação foi aprovada por unanimidade. Com isso, segundo a MoneYou, a taxa real (descontada a inflação) vai para 8,65% anuais, a terceira maior do mundo, atrás apenas da Turquia (10,47%) e se aproximando da Rússia em guerra (9,17%).
Em comunicado, os diretores do BC alegam que “o ambiente externo mostra-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos”. Em relação ao cenário doméstico, “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado dinamismo”, mas o Copom comemora que “observa-se uma incipiente moderação no crescimento”.
Sobre os preços, diz o comunicado que “nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,5% e 4,5%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o ano de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência”. Nenhuma menção aos sucessivos erros da pesquisa Focus, que só acertou 1 projeção em 20 feitas nos últimos quatro anos.
“O Copom decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 14,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.”
Para a próxima reunião, o Copom enxerga “cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados”, o que “demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.
“O Comitê se manterá vigilante, e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, analisam os diretores do BC, que aprovaram o aumento em votação unânime.
Para Renan Diego, consultor financeiro e especialista em investimentos, o aumento expressivo da taxa tem alterado o comportamento de consumo dos brasileiros e impactado diretamente suas finanças pessoais. “O consumo entre a população tende a diminuir, já que o aumento dos preços reduz o poder de compra. Muitos brasileiros passarão a priorizar gastos considerados essenciais, como alimentação, medicamentos e o pagamento de contas básicas, como luz, aluguel e gás. Já itens supérfluos, como roupas e eletrônicos, devem ser deixados em segundo plano”. Segundo Renan, o cenário impacta não apenas o orçamento das famílias, mas também a economia nacional, que pode enfrentar um período de desaceleração nos próximos meses.
A Força Sindical classificou como perversidade a decisão do Comitê de Política Monetária de aumentar a taxa básica de juros em 0,5% a.a. “É uma irresponsabilidade social. A decisão quer levar o País para a recessão econômica”, disse a entidade em nota.