O ambiente externo adverso, especialmente a política monetária nos Estados Unidos e a inflação em diversos países, foram as alegações dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) para interromper o ciclo de cortes na taxa de juros Selic. Assim, sem nova queda, a taxa permanece em 10,5% ao ano (aa), o que mantém o Brasil em segundo lugar no ranking de maiores juros reais (descontada a inflação) do planeta, com 6,54%, atrás apenas da Rússia, que trava um conflito com a Ucrânia e sofre sanções dos Estados Unidos e tem taxa real de 7,79%, segundo o MoneYou.
Diante das pressões do mercado financeiro, que aposta contra o real no mercado futuro, a decisão foi unânime. Votaram Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
“Tragicamente, também em nosso País, estamos reféns dos poderosíssimos interesses dos rentistas. A manutenção da taxa em 10,5% aa é um verdadeiro desastre para a economia do País”, protestou Miguel Torres, presidente da Força Sindical, em nota.
O comunicado do Copom ressalta que a política monetária “deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Assim, não se deve esperar retomada da trajetória de baixa dos juros na próxima reunião. O mercado financeiro aposta na manutenção da elevada taxa até o final de 2024.
O Copom entende que a manutenção da Selic “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”. Traduzindo, frear o já fraco crescimento da economia.

“O aperto monetário do Banco Central está asfixiando não só a atividade econômica, a produção industrial e a geração de novos postos de trabalho, mas também compromete o consumo das famílias. Vale destacar que juros altos sangram o País e inviabilizam o desenvolvimento, restringindo o enorme potencial de crescimento do Brasil, bem como os investimentos em educação, saúde e infraestrutura, entre outros”, alerta a Força Sindical.
“Enquanto isso, os banqueiros lucraram R$ 26 bilhões só no último trimestre. Baixar os juros é fundamental para a retomada do crescimento sustentável, com inclusão do povo trabalhador na economia para além da mera subsistência. Essa nefasta política, adotada pelo atual presidente do Banco Central, Campos Neto, resulta em queda da atividade econômica, deteriora o mercado de trabalho e a renda, aumenta o desemprego”, afirma Miguel Torres.
Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, não há qualquer explicação racional para o fato da taxa de juros estar ainda acima dos dois dígitos, quando temos uma inflação anual de menos de 4%. “Da maneira como está sendo conduzido, o Banco Central não é independente, não serve aos interesses do povo brasileiro, porque está sendo utilizado a serviço dos rentistas, daqueles que ganham dinheiro, tornando ainda mais difícil a vida do trabalhador”, comenta Décio.
Ele avalia que já passou da hora do país mudar essa política de juros. “A manutenção da Selic nessas bases prejudica não só o governo, que tenta recuperar a economia. Ao manter elevados os juros da dívida pública, o BC atinge também os consumidores e as empresas, principalmente os micro e pequenos negócios, porque o crédito fica mais caro”, acrescenta.
















