As apostas online, conhecidas como bets, estão ganhando cada vez mais espaço no orçamento dos brasileiros e afetando diretamente o consumo de alimentos e bebidas. Segundo levantamento da Kantar, 13% do valor que antes era destinado a esses itens foi redirecionado para as plataformas de apostas no segundo trimestre de 2025.
O movimento é mais frequente entre as classes C, D e E. De acordo com dados do Ministério da Fazenda, o setor das bets registrou receita de R$ 17,4 bilhões entre janeiro e junho deste ano, com 17,7 milhões de apostadores ativos.
Para o especialista em gestão de supermercados Leandro Rosadas, o avanço das apostas digitais tem alterado os hábitos de consumo e pressionado o varejo alimentar.
É importante ressaltar que o dinheiro que é usado para jogar nessas casas de aposta seria utilizado para o consumo não só de itens essenciais, mas de supérfluos, esses que possuem um valor maior. Com isso, diversos supermercadistas vêm registrando uma diminuição da compra de itens básicos, mas também de itens considerados dispensáveis, como bebidas alcoólicas, iogurtes e biscoitos. O baixo consumo de itens básicos já proporciona um saldo negativo, porém, esses produtos considerados ‘supérfluos’ têm uma margem de lucro maior, gerando impacto no setor
explica.
As empresas de apostas online devem faturar cerca de R$ 22 bilhões no Brasil em 2025, segundo a consultoria internacional Regulus Partners, especializada nos setores de esportes e lazer. O volume coloca o país como o quinto maior mercado mundial de bets, atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Rússia.
“Os alimentos estão mais em conta, porém, os consumidores continuam saindo dos mercados com sacolas mais vazias e com a sensação de que gastam muito. Em contrapartida, uma parte significativa do dinheiro que antes ia para comida, agora está indo para apostas e aplicativos de games com recompensas. Isso acontece já que passam a sensação de ganhar dinheiro fácil, quem está numa situação apertada, precisando de dinheiro, acaba jogando para conseguir ter uma forma de renda extra”, afirma Leandro.
A pesquisa da Kantar também indica que os consumidores estão diversificando suas compras, com aumento de 10% no número de marcas adquiridas. Rosadas observa que, diante da renda mais apertada, o consumidor brasileiro tem adotado novas estratégias, como a substituição de itens por marcas mais baratas ou próprias dos supermercados.
“Uma estratégia que vem ganhando força entre os consumidores brasileiros é a escolha por marcas próprias de supermercados, que geralmente têm preço menor em relação a marcas tradicionais ou populares. Além de oferecerem uma boa qualidade, por serem mais em conta acabam fazendo uma grande diferença no valor final das compras, principalmente para famílias maiores e que consomem mais”, pontua Rosadas.
Para o especialista, programas de conscientização sobre o impacto das bets e ações promocionais no varejo podem ajudar a reduzir os efeitos negativos sobre o setor.
“Benefícios como descontos, prêmios e cashback são estratégias eficazes. Ter uma estratégia de marketing consistente, uso de redes sociais e tráfego pago e um bom atendimento são ações fundamentais para estimular o consumo e fazer propaganda do seu negócio”, finaliza o especialista em gestão de supermercados.
















