Betty Faria chega aos 80 anos esbanjando charme e talento

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Betty Faria (foto divulgação)
Betty Faria (foto divulgação)

Em plena forma, cheia de vitalidade, alegre como sempre e generosa com todos que a cercam, a atriz Betty Faria continua esbanjando charme e elegância e está comemorando 80 anos de vida e 60 anos de carreira. Cheia de planos e desejos, a artista diz que é saudável por não mais fumar um cigarro sequer e que sua alma quer muito rock n’roll. Símbolo sexual nas décadas de 70 e 80, ela viveu por anos no imaginário dos homens, já que, no auge da sua beleza, protagonizou belos ensaios nus, para a Playboy. Vários dos seus papéis, vividos no cinema e na televisão, encarnaram mulheres sedutoras.

Filha única de Elza da Silva Faria e do general do Exército Marçal Moura de Faria, Betty, moradora do Leblon, é mãe da também atriz Alexandra Marzo, do casamento com o saudoso ator Claudio Marzo, e de João de Faria Daniel, da união com o diretor Daniel Filho. Solteira há tempos, segue solitária, sem sofrer resquícios da solidão, pois sabe preencher seu tempo com bons livros, filmes os quais assiste com assiduidade, muita música e, quando a pandemia permite, mergulhos no mar. A ginástica, sobretudo a dança, estão à margem nesse momento, por conta do coronavírus. Ela, ainda, vem se dedicando à reciclagem das línguas estrangeiras.

Versátil e disciplinada, Betty tem seu lugar no panteão das grandes atrizes brasileiras, ao lado de uma constelação de grandes estrelas, dentre elas, como Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, Nathalia do Valle, Regina Duarte, Sonia Braga, Gloria Menezes, Nathalia Thimberg, Marilia Pera, Suzana Vieira, Vera Fisher e Glória Pires.

Apaixonada por balé clássico desde pequena e sempre incentivada pela mãe, Betty estudou com Marie Makarova, Pierre Kleimou e Eugênia Feodorova. Depois partiu para o balé moderno, com Nina Verchinina, e para o jazz, com Jennie Dall e Jo Jo Smith. No começo, não foi muito bem aceita no teatro, pois era conhecida como aquela moça que dançava. Precisou mostrar talento e estudar com afinco dramaturgia para conquistar o seu lugar na carreira.

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Como bailarina, estreou na Globo o musical Dick e Betty 17, com o veterano Dick Farney, e Alô, Dolly, ambos produzidos pela dupla Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, e do seriado TNT, produzido e dirigido por Haroldo Costa. Já a estreia como atriz se deu na TV Rio, na novela Acorrentados (1969), de Janete Clair, com direção de Daniel Filho.

Contratada pela Globo, nesse mesmo ano, atuou em A Última Valsa, de Glória Magadan, e acabou estourando como grande estrela da televisão, nos anos 1970.

Logo em seguida, trabalhou em A Rosa Rebelde e Véu de Noiva, ambas de Janete Clair, com direção de Daniel Filho. Véu de Noiva foi a primeira novela contemporânea da Globo, marcando o fim da era Glória Magadan. Na trama, Betty era Irene, que tentava impedir a união do par romântico vivido por Cláudio Marzo, seu marido na realidade, e Regina Duarte. Esteve em outras novelas da autora, como O Homem que Deve Morrer (1971), Pecado Capital (1975) e Duas Vidas (1976).

Também com Dias Gomes, Betty fez novelas memoráveis. Viveu a assaltante Lazinha Chave de Cadeia, em O Espigão (1974), papel que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte.

A década de 1970 foi intensa para a atriz. Além de novelas de Janete e Dias Gomes, atuou também em Pigmalião 70 (1970), de Vicente Sesso; A Próxima Atração (1970), primeira novela de Walther Negrão, na Globo; em Bofe (1972), de Bráulio Pedroso; e em Cavalo de Aço (1973), também de Walther Negrão.

Mesmo com tantos papéis em novelas, Betty, que não se considera uma atriz, mas uma artista, jamais deixou de encarar desafios. No final da década de 1970, participou do programa musical Brasil Pandeiro (1978), dirigido por Augusto César Vannucci, e que apresentava esquetes de humor intercalados com números musicais, bem ao estilo do teatro de revista.

Em 1979, participou do filme Bye, Bye, Brasil, de Cacá Diegues, um marco do cinema nacional que concorreu no Festival de Cannes, de 1980. Ainda em 1980, participou do seriado Plantão de Polícia, no papel da personagem principal do episódio A História de Lili Carabina, de Aguinaldo Silva.

Depois de interpretar a professora de dança Joana Lobato, em Baila Comigo (1981), de Manoel Carlos, Betty voltou a trabalhar com Aguinaldo Silva. Em 1983, foram dois especiais e uma minissérie assinados pelo autor: Adeus, Marido Meu e Hora do Carrasco e a minissérie Bandidos da Falange.

Em 1984, uma obra de Aguinaldo, agora com Gloria Perez, fez sucesso em Partido Alto, vivendo a porta-bandeira Jussara, protegida do bicheiro Célio Cruz (Raul Cortez). Nesse mesmo ano, a atriz voltou às novelas como Lígia, de Água Viva, de Gilberto Braga. Em 1986, trabalharia em outra trama de sucesso de Gilberto Braga, que conquistou o público nacional, como Glória, da minissérie Anos Dourados.

Em 1989, Betty atuou em duas novelas seguidas no mesmo horário, o que raramente acontecia na Globo: em O Salvador da Pátria, de Lauro César Muniz, no papel da determinada Marina Sintra, e em Tieta, adaptada por Aguinaldo Silva do livro de Jorge Amado. Na adaptação, Betty viveu a personagem-título. O sucesso de Tieta ultrapassou as fronteiras do país e atravessou os tempos. Em 2020, quando foi lançada no Globoplay, chegou ao 5º lugar no ranking de audiência do serviço de streaming.

Ela esteve presente nas tramas de A Indomada (1997), Suave Veneno (1999) e Duas Caras (2007), além de O Campeão (1996), escrita por Aguinaldo, para a TV Bandeirantes.

Com Gloria Perez, a atriz viveu personagens marcantes. Interpretou a submissa Antônia, em De Corpo e Alma (1992), e integrou o elenco de América (2005), interpretando a vilã Djanira Pimenta. Depois interpretar Madalena em Boogie Oogie (2014), de Rui Vilhena, a atriz conquistou o público com a personagem Elvira, em Força do Querer (2017). Viveu magistralmente a cafetina Hanna, na minissérie indicada do Emmy Internacional Se Eu Fechar os Olhos Agora (2018), baseada na obra de Edney Silvestre e escrita por Ricardo Linhares.

Entre o final dos anos 1990 e o início dos anos 2000, Betty se dedicou a projetos fora da Globo, o que não a impediu atuar em várias produções na emissora. Esteve na minissérie Incidente em Antares (1994), adaptada por Nelson Nadotti e Charles Peixoto da obra de Érico Veríssimo, no papel de uma prostituta decadente; participou de episódios em seriados de humor, como Sai de Baixo, A Grande Família e Sob Nova Direção; e viveu a Laura em Pé na Jaca (2006), de Carlos Lombardi. Em 2012, o que seria apenas uma participação em Avenida Brasil, como Pilar, acabou sendo integrada à trama e ficou até o final da novela.

Betty voltou a ganhar novamente o público como Cornélia de A Dona do Pedaço (2019), de Walcyr Carrasco. No ano passado, quando a pandemia da Covid-19 fez com que a Globo interrompesse a produção das novelas e programas de entretenimento, a atriz fez uma participação como ela mesma, ao lado de Ary Fontoura, em Salve-se Quem Puder, de Daniel Ortiz.

Fora da televisão, Betty acumulou numerosos sucessos de público, de crítica e de bilheteria. Dentre eles, A estrela sobe (1974), Bye Bye Brasil (1979), de Cacá Diegues, que concorreu em Cannes, e o filme Anjos do Arrabalde (1986), de Carlos Reichenbach, que lhe rendeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado, de 1987.

A atriz também participou dos filmes Um Trem para as Estrelas (1987), de Cacá Diegues; Lili Carabina, A Estrela do Crime (1988), de Lui Farias; e Romance da Empregada (1988), de Bruno Barreto. Por esse último, ganhou os prêmios de melhor atriz nos festivas de Huelva (Espanha) e Cuba.

Sua passagem pelo cinema inclui ainda O Beijo (1963), de Flávio Tambellini; Amor e Desamor (1965), de Gerson Tavares; Na Onda de Iê-Iê-Iê (1966), de J.B. Tanko; A Lei do Cão (1967) e As Setes Faces de um Cafajeste (1968), ambos de Jece Valadão; Piranhas do Asfalto (1970), de Neville de Almeida; Os Monstros do Babaloo (1970), de Eliseu Visconti; A Estrela Sobe (1974), de Bruno Barreto, pelo qual Betty Faria ganhou o Prêmio Air France de Melhor Atriz; O Casal (1975), de Daniel Filho; O Cortiço (1978), de Francisco Ramalho Jr.; O Bom Burguês (1983), de Oswaldo Caldeira; Jubiabá (1985), de Nelson Pereira dos Santos, no qual Betty Faria foi também a produtora-executiva; Perfume de Gardênia (1991), de Guilherme de Almeida Prado, pelo qual ganhou o Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília; For All, O Trampolim da Vitória (1996), de Luís Carlos Lacerda e Buza Ferraz, que rendeu à atriz o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Punta Del Este; Sexo, Amor e Traição (2003), de Jorge Fernando; Chega de Saudade (2007), de Laís Bodanzky; e Casa da Mãe Joana 2 (2013), de Hugo Carvana.

No teatro, Betty participou de trabalhos, estudos de peças e oficinas de ator nos anos 1960. Em 1965, estreou no teatro como atriz na peça Os Inocentes do Leblon, de Barrilet Gredy, dirigida por Antonio Cabo. Em 1966, atuou em Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, encenada pelo Grupo Oficina, dirigida por José Celso Martinez Correa. Ainda em 1966, fundou, junto com Cláudio Marzo e Antônio Pedro, o Teatro Carioca de Arte. A companhia chegou a encenar as peças O Bravo Soldado Schweik, de Juroslav Hasek, e A Falsa Criada, de Marivaux, ambas em 1967.

Ela trabalhou também em João, Amor e Maria (1966), dirigida por Kleber Santos; Calabar (1973), peça de Chico Buarque e Ruy Guerra, que foi censurada na véspera da estreia; Putz (1976), dirigida por Osmar Rodrigues Cruz; Amor Vagabundo (1982), com direção de Domingos Oliveira; Camaleoa (1994), dirigida por Marília Pêra; e Um Caso de Vida ou Morte (1998), peça de David Mamet, Elaine May e Woody Allen, dirigida por Flávio Marinho e Gilberto Gawronski; o monólogo Shirley Valentine (2009), do original da inglesa Pauline Collins, dirigido por Guilherme Leme; e A Atriz (2015), comédia de Peter Quilter, produzida por Marcus Montenegro.

Betty Faria é uma atriz de talento múltiplo e, mesmo com a chegada aos 80 anos, continua a encantar o Brasil com seu charme, alegria e dignificando principalmente a arte de bem representar no cinema, no teatro e na televisão. Ao comemorar suas oito décadas de vida e seis décadas de atuação, merece continuar recebendo os nossos mais entusiasmados aplausos e desejos para que possa, com sua vitalidade, continuar a fazer a alegria dos brasileiros, com suas brilhantes e densas interpretações.

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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