Exame realizado a pedido de pesquisadores do Instituto Butantan confirmou que um bicho-barbeiro, encontrado no prédio Lemos Monteiro, que fica no complexo do Instituto, na Zona Oeste da capital, estava contaminado com protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. O inseto, que tem hábitos noturnos, foi localizado às 15h30, em uma escada interna de acesso à copa dos funcionários, em 31 de outubro do ano passado. Após um mês, outro inseto vivo foi encontrado no mesmo local e também foi confirmada a contaminação pelo parasita.
A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) teve acesso ao laudo do Labfauna, Laboratório Municipal de Saúde Pública, ligado à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo que confirmou a contaminação.
“No dia em que os técnicos da vigilância em saúde da prefeitura vieram fazer uma vistoria para procurar o foco da infestação, eles nos informaram que outros 10 bichos-barbeiros haviam sido localizados em outra área do instituto e que dois destes estavam contaminados por Trypanosoma cruzi”, afirma Patricia Clissa, membro da diretoria da APqC.
Além do Instituto Butantan, casos confirmados também foram registrados no Campus da Universidade de São Paulo (USP), em novembro de 2023. Desde 2019, a região do zoológico, na Zona Sul da capital, também tem enfrentado casos de bicho-barbeiro infectado.
“É de conhecimento da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) ligada à Secretaria de Estado da Saúde que há a presença de animais reservatórios do parasita, os saruês ou gambás, infectados com o Trypanosoma cruzi na periferia de São Paulo, mas não estamos vendo providências para alertar a população do entorno sobre medidas educativas e de prevenção de acidentes”, comenta Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC.
As confirmações ocorrem ao mesmo tempo em que a estrutura de laboratórios da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), extinta em 2020, aguarda a devida reestruturação dentro da composição administrativa do Instituto Pasteur, da Secretaria de Estado da Saúde, para que possa voltar a realizar suas atividades da forma eficiente que vinham sendo realizadas.
“Já se passaram mais de quatro anos desde que o Estado tomou a decisão irresponsável de extinguir a Sucen e, até agora, mais de 10 laboratórios seguem sem um CNPJ, comprometendo gravemente a realização de pesquisas. Equipes de vigilância e pesquisa foram separadas, sendo direcionadas para órgãos diferentes, impactando diretamente o papel do Estado na coordenação do controle de endemias, como é o caso da doença de Chagas, transmitida pelo bicho-babeiro”, afirma Lutgnes.
Apesar de ser uma região com histórico de casos de bicho-barbeiro infectados, conforme os pesquisadores ligados à APqC, o surgimento de insetos pode estar relacionado aos impactos ambientais provocados pela expansão imobiliária na Zona Oeste de São Paulo.
“O próprio Instituto Butantan fez uma supressão importante de árvores para sua expansão, enquanto no entorno há uma verticalização gigantesca, com a construção de prédios no lugar de casas, com supressão de vegetação e isso tudo acaba alterando o ambiente, deslocando os saruês de seu habitat natural e favorecendo o contato do bicho-babeiro com os humanos. O que mais nos preocupa é que se nenhuma atitude for tomada pela Secretaria da Saúde, no que diz respeito a alertar a população e reestruturar as atividades da Sucen para que voltem a ser conduzidas de forma articulada junto às vigilâncias municipais, isto pode resultar em infecções de seres humanos, se é que já não estão ocorrendo”, diz a presidente da APqC.
Para tentar reativar as atividades que eram desenvolvidas pela Sucen, no começo do ano passado o promotor de justiça Arthur Pinto Filho se reuniu com representantes da Secretaria de Estado da Saúde, da APqC e do Instituto Pasteur, para onde foram realocados os pesquisadores da Sucen. Um procedimento foi aberto para acompanhar o caso, mas não houve avanços.
Em dezembro, em ofício ao procurador-geral de Justiça do Estado, Paulo Sérgio de Oliveira Costa, a deputada Beth Sahão (PT) solicitou informações sobre o procedimento. Além da doença de Chagas, a Sucen monitorava, coletava e pesquisava outros vetores causadores de doenças graves, como febre amarela, dengue, chikungunya, zika, malária, dentre outras.
Em outubro de 2020 foi aprovada a Lei 17.293/20 que extinguiu a Sucen. Em abril de 2022 foi publicado o Decreto 66.664/22 que efetivou a extinção, a desocupação do prédio da Cardeal Arcoverde em Pinheiros, a realocação dos mais de 800 servidores, entre outras medidas. No prédio da Cardeal Arcoverde se centralizavam as ações de recebimento dos bicho-barbeiros infectados para análise do conteúdo intestinal e realização de exames sobre infecção e coleta de material para verificação da fonte alimentar, para verificar se algum inseto havia picado um humano, permitindo uma ação rápida para a prevenção da Doença de Chagas, que deve ser realizada nos primeiros 60 dias após a infecção. Esta atividade não está mais sendo realizada por nenhum órgão do estado devido à extinção da Sucen.
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