Biden e Kamala no comando dos Estados Unidos

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Joe Biden e Kamala Harris (fotos da Casa Branca)
Joe Biden e Kamala Harris (fotos da Casa Branca)

O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 78 anos, tomou posse na última quarta-feira, sob um forte esquema de segurança, anunciando medidas de fortalecimento da agenda climática e ambiental. Para o agronegócio brasileiro, um dos maiores exportadores do mundo, isso pode significar uma pressão maior para que o setor reforce medidas de combate ao desmatamento.

Além disso, os dois países disputam o maior cliente do agronegócio no mundo, a China – e a guerra comercial entre os EUA e a potência asiática acabou beneficiando as exportações do Brasil. Mas a expectativa é de que Biden tenha um relacionamento menos tenso com os chineses do que seu antecessor, Donald Trump, que se despediu da Casa Branca, dizendo “tenham uma boa vida. Nós nos veremos em breve”.

Prestigiados pelos ex-presidentes Barack Obama, Bill Clinton e George W. Bush – o ex-presidente Jimmy Carter, de 96 anos, preferiu não enfrentar o frio de Washington DC e a demorada cerimônia de posse – Joe Biden e Kamala Harris se mostraram sempre serenos e, ao mesmo tempo, pelas entrevistas que deram, vivamente dispostos a reconstruir os Estados Unidos, ambos fazendo questão de frisar que governarão para todos os norte-americanos.

Diferentemente de Trump, Biden é mais comprometido com a agenda ambiental e, por isso, especialistas avaliam que ele pode pressionar mais para que o Brasil e, consequentemente, o agronegócio, fortaleçam políticas nessa área. O novo presidente chegou a citar o Brasil em debate com Trump durante a campanha eleitoral, em setembro, dizendo que haveria “consequências econômicas significativas” se o país não parasse de destruir a floresta.

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Enquanto diversos países criticaram as queimadas no Pantanal e o desmatamento na Amazônia, Trump se manteve em silêncio. Biden já chega com uma agenda ambiental e climática forte.

Biden também apresenta uma posição diferente de Trump em relação ao multilateralismo e, por isso, ele deve voltar a fortalecer a Organização Mundial do Comércio. Uma de suas funções é estabelecer regras para os mercados internacionais, como penalizações, se um alimento está contaminado, por exemplo. Hoje não existe nenhuma regra na OMC em relação a produtos que venham do desmatamento.

Apesar da expectativa de que Biden direcione esforços para acordos multilaterais, é pouco provável que ocorra alguma penalização ao Brasil via OMC em relação a questões ambientais.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, mas as vendas da agropecuária representaram apenas 5,7% do total das exportações para aquele país, enquanto a indústria de transformação detém 86% desse volume, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Kamala Harris é a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente dos EUA e sucedeu a Mike Pence, vice de Donald Trump, que fez questão de estar presente à posse.

A escolha de Kamala Harris para integrar a chapa democrata foi vista como um aceno do partido às minorias, sendo ela mulher, negra e filha de imigrantes. A opção por Harris foi fundamental para a eleição de Biden porque funcionou como um chamariz para convencer eleitores negros a votar no pleito de 2020.

Nos Estados Unidos, o vice-presidente também atua como presidente do Senado, então ela deverá desempenhar um papel decisivo nos próximos anos. Como a composição da casa legislativa está dividida igualmente entre democratas e republicanos, a vice-presidente deve ter a responsabilidade de desempatar diversas votações.

Senadora pelo Estado da Califórnia, desde 2017, Harris chegou a se apresentar como pré-candidata à Casa Branca e liderou algumas das pesquisas internas do Partido Democrata. No entanto, foi perdendo apoio até deixar de vez a corrida presidencial. Formada em direito e ex-procuradora do distrito de San Francisco e do Estado da Califórnia, a agora vice-presidente ganhou projeção nacional ao questionar duramente, em sabatinas no Senado, indicados por Trump para cargos de juiz da Suprema Corte e de Secretário de Justiça.

Harris nasceu numa família de imigrantes: a mãe dela é indiana, e o pai, jamaicano. Os dois tiveram vidas marcadas pela narrativa do “sonho americano”. A mãe, que morreu em 2009, se tornou uma notável pesquisadora de câncer e ativista de direitos civis. O pai, hoje com 82 anos, foi professor de Economia. Os pais se divorciaram quando Harris tinha apenas sete anos.

Em 2013, Harris conheceu o advogado Douglas Enhoff, com quem se casaria um ano depois. Ele, divorciado, tinha filhas crescidas de outro casamento, que chamam Kamala de “Momala”.

Trump não participou da cerimônia de posse e deixou a Casa Branca na manhã da última quarta. Ele passou mais de dois meses questionando a vitória de Biden nas eleições de 3 de novembro. O democrata Biden venceu as eleições de novembro com ampla maioria dos votos: foram 306 votos eleitorais contra 232 do seu adversário.

O ex-presidente Trump se despediu da Casa Branca e embarcou para seu resort Mar-a-Lago, na Flórida, onde passará a morar, a partir de agora. Em um discurso de despedida, na Base Andrews, da Força Aérea americana, Trump não mencionou em nenhum momento o nome de Joe Biden.

E, finalmente, o presidente Bolsonaro enviou ao presidente Biden, no dia da sua posse, uma carta na qual diz esperar que as relações diplomáticas Brasil-Estados Unidos sejam produtivas e que o novo líder norte-americano possa fazer um grande governo à frente dos Estados Unidos.

 

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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