Black Friday no Brasil é esculacho

Data teve comportamento de tentativa de venda pela 'metade do dobro'

113

De acordo com uma pesquisa sobre Black Friday, realizada pela BigDataCorp, ao contrário do esperado, os consumidores encontraram aumento médio de preços de cerca de 3% durante a data, quando comparados aos preços praticados dois meses antes do evento.

Também foi identificado um padrão de comportamento em que muitas empresas elevaram os preços de seus produtos entre um mês e duas semanas antes da Black Friday, apenas para oferecerem promoções baseadas nesses preços mais altos durante a data, criando a ilusão de grandes descontos.

Olhando especificamente para os produtos que aumentaram de preço, houve um comportamento de tentar vender pela “metade do dobro” (ou mais).

As empresas aumentaram significativamente os preços entre um mês e 2 semanas antes da Black Friday, e depois fizeram promoções em cima desses preços maiores para parecerem grandes ofertas.

A pesquisa também mostrou que continua a tendência de antecipação dos anúncios relacionados com a Black Friday. Dois meses antes da data, já havia uma quantidade significativa de sites exibindo banners, popups e outros tipos de anúncios divulgando possíveis promoções. Além disso, mais de 55% dos produtos tiveram um aumento de preço durante a Black Friday ou mantiveram o de antes, porém 45% dos produtos apresentaram descontos na data em comparação ao período anterior.

Espaço Publicitáriocnseg

Thoran Rodrigues, CEO da BigDataCorp, ressalta que, na média geral de todos os 9 milhões de produtos que foram monitorados em todas as categorias, não houve desconto real na Black Friday. “Pelo contrário, vimos um aumento de preços. Isso não significa que não existam ofertas, mas é uma informação a se considerar”, comenta.

Porém, há realmente produtos com descontos

No entanto, produtos que realmente tiveram descontos mostraram uma progressão de preços ao longo do período de monitoramento, atingindo o maior nível de desconto na Black Friday em si. De acordo com o executivo, os consumidores que estão de olho nas melhores ofertas devem considerar que o melhor momento para comprar é no final de outubro e início de novembro, aproximadamente um mês antes da Black Friday”, revela o especialista em dados.

A BigDataCorp monitorou mais de 9 milhões de produtos e 1,7 milhão de sites. No período de 8 semanas antes da Black Friday, 53% dos sites exibiam anúncios relacionados à data, aumentando para 99% durante a Black Friday.

Entretanto, enquanto a Black Friday se estabeleceu como um evento de compras de grande porte no Brasil, a Cyber Monday ainda não alcançou o mesmo nível de participação. A pesquisa da BigDataCorp revelou uma queda significativa na quantidade de sites participando de promoções durante a Cyber Monday, com apenas 79% dos sites exibindo anúncios relacionados, em comparação com os 99% durante a Black Friday. A diferença sugere que a Black Friday é um evento mais consolidado e atrativo para os varejistas e consumidores brasileiros.

Black Friday (Foto: ABr/arquivo)
Black Friday (Foto: ABr/arquivo)

Além disso, os dados indicam um aumento nos preços médios dos produtos em comparação com dois meses atrás e, notavelmente, em relação à Black Friday. Este aumento é atribuído à redução significativa no número de promoções oferecidas. De fato, a quantidade de produtos em promoção durante a Cyber Monday foi quase metade da observada na Black Friday. Thoran comenta:

“Se houve alguma promoção realmente atraente na Black Friday e o consumidor não aproveitou, as chances são de que ela não estivesse mais disponível na segunda-feira. Isso reforça a necessidade de os consumidores estarem atentos e agirem rapidamente durante a Black Friday para aproveitarem as melhores ofertas.”

“A Cyber Monday, embora seja uma extensão natural da Black Friday, ainda não capturou a atenção do mercado brasileiro da mesma forma”, observa.

“Nossos dados indicam uma queda notável no número de promoções e um aumento nos preços médios dos produtos. Isso sugere que os varejistas podem estar menos inclinados a oferecer descontos substanciais após a Black Friday. Para os consumidores, isso significa que a melhor oportunidade de encontrar ofertas reais pode estar concentrada na própria sexta-feira, ao invés de esperar por possíveis descontos na segunda-feira seguinte.”

Celulares e tablets: maiores altas

A pesquisa revela que celulares e smartphones lideram com um aumento extraordinário de 213%, seguidos de perto pelos Tablets, com um aumento de 111%. Esses números chamam a atenção dos consumidores que esperavam encontrar grandes descontos nesses produtos durante a Black Friday. O aumento drástico nos preços sugere que os consumidores precisam ser cautelosos ao comprar dispositivos eletrônicos durante a data.

Além disso, artigos de festa também tiveram um aumento notável de 101%. Com a proximidade das festas de fim de ano, esse aumento de preços pode impactar diretamente o planejamento de eventos e celebrações. É fundamental que os consumidores estejam cientes dessa tendência ao adquirir itens para festas durante a Black Friday.

Para o CEO, os resultados do relatório preocupam aqueles que querem adquirir produtos com desconto. “A Black Friday é uma data que deveria beneficiar tanto os consumidores quanto as empresas, mas algumas empresas se aproveitam da alta demanda para aumentar os preços de seus produtos”, afirmou.

Outras categorias que registraram aumentos significativos incluem Eletrodomésticos, com um aumento de 78%, e Colchões, com um aumento de 70%. Essas variações de preços destacam a importância de pesquisar e comparar preços antes de efetuar compras durante a Black Friday, para evitar surpresas desagradáveis.

Beleza e Perfumaria lideram o ranking de descontos

Beleza e perfumaria lideram com um desconto de 66%, seguidos de perto pelos Games com um desconto de 62%. Essas categorias estão entre as mais procuradas pelos consumidores durante a Black Friday, e os descontos substanciais oferecidos representam uma excelente oportunidade para economizar em produtos de beleza, perfumes e jogos. Além disso, Jóias e Bijuterias registraram um desconto significativo de 46%, tornando esta categoria atrativa para quem procura presentes sofisticados com preços reduzidos.

Outras categorias que apresentaram descontos consideráveis incluem Antiguidades e Coleções, com um desconto de 33%, e Bebê, com um desconto de 21%. Essas variações de preços destacam a diversidade de oportunidades de economia que a Black Friday oferece, abrangendo desde produtos de coleção até itens para bebês.

O executivo comenta que os descontos demonstram uma boa oportunidade para os clientes:

“A Black Friday é uma data que pode beneficiar tanto os consumidores quanto as empresas, mas é preciso saber escolher as melhores ofertas. Vimos que algumas categorias ofereceram descontos reais e expressivos, que podem fazer a diferença no bolso dos consumidores”, afirmou.

A pesquisa realizada pela BigDataCorp não analisou preços de hotéis, passagens, aluguel de carros e outros tipos de preços que dependem da configuração de uma data para a sua compra. Foram monitorados especificamente preços de produtos físicos e virtuais vendidos nos e-commerces e marketplaces do Brasil. Os dados foram coletados de oito semanas atrás até esta quinta-feira.

Outro estudo aponta que a Black Friday não empolgou

Outra plataforma, chamada Hora a Hora, da Confi.Neotrust, em parceria com a ClearSale, também fez um estudo sobre a Black Friday desse ano. Segundo os dados do estudo a data realmente não empolgou os consumidores brasileiros. Foram registrados um total de 8,2 milhões de pedidos, queda significativa de 16,3% em comparação ao ano anterior.

Os especialistas apontam que os motivos para o desempenho negativo podem estar relacionados com o aumento do endividamento dos consumidores e das empresas, com fraudes e com a dificuldade dos empresários de apresentarem boas ofertas no período.

Decréscimo de 16,3%, em comparação ao número de pedidos do ano anterior, pode ser explicado pelo endividamento alto dos brasileiros e ampliação do período de promoções

Segundo Sérgio Scarpelli, head de criação da Agência Amithiva, a Black Friday no país enfrenta sérios desafios, principalmente quando tratamos dos consumidores mais endividados.

“A Black Friday no exterior é uma queima de estoque pensando na renovação dos varejistas para o período de Natal. No Brasil, a grande liquidação não ocorre da mesma forma, fazendo com que muitas marcas não consigam fornecer descontos que realmente atraiam os consumidores”, afirmou.

Outro fator que explica o movimento mais fraco neste período está no alongamento do período de promoções, uma tendência que Scarpelli acredita que veio para ficar. “Vemos um movimento muito claro no varejo de estender as promoções por um período mais alongado, como os famosos “Esquenta Black Friday”, as prorrogações de promoções e o “Mês da Black Friday”.

Com essa estratégia, vemos os consumidores consumindo de forma mais constante durante um período maior, não se focando apenas na data da promoção”, explica.

Endividamento também influenciou

Para o especialista, uma variação da data, considerando que não temos uma liquidação da mesma forma que há no exterior, pode ser de benefício para o mercado. “Acredito que estendendo a adiantando a data para períodos do mês onde há maior consumo é uma boa estratégia, que beneficia os consumidores e as marcas”, completou.

Pagamento de conta (Marcello Casal Jr., Abr)
Pagamento de conta (Marcello Casal Jr., Abr)

Outro fator que levou a Black Friday de 2023 ter resultados negativos foi o endividamento. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostram que 87% das famílias brasileiras têm dívidas com cartão de crédito.

Já o levantamento “Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2023”, do Serasa, mostra que, das dívidas feitas no cartão de crédito, 46% são de itens como eletrodomésticos, roupas e outros.

Fernando Lamounier, educador e diretor da Multimarcas Consórcios, aponta que falta um pensamento a longo prazo no planejamento financeiro das famílias brasileiras.

“A Black Friday é uma data que incentiva o consumo e ainda falta um planejamento de médio e longo prazo no país. Até mesmo quando falamos do endividamento a partir de compras relacionadas a necessidades básicas. Recentemente a pesquisa do Serasa demonstrou isso, onde um total de 59% das dívidas contraídas por cartões de crédito no país são referentes a alimentos. Neste cenário de endividamento de empresas e dos consumidores, não é de se estranhar os resultados negativos observados na Black Friday”, explicou.

O especialista ressalta que boas práticas financeiras diárias podem auxiliar os consumidores a aproveitarem mais as promoções em períodos como esse.

“Buscar entender seus gastos e qual o valor dos ganhos, fazer um controle financeiro e buscar aproveitar os períodos com os melhores preços, como é o caso da Black Friday e da Cyber Monday, fazem toda a diferença no planejamento”, completou.

Porém, em um cenário de endividamento e de altos custos, principalmente quando consideramos a taxa de juros elevada e a moeda desvalorizada, a Black Friday de 2023 pode ser apenas um sinal de que o consumo e o investimento no varejo precisam de atenção e que medidas governamentais como o “Desenrola”, criado pelo governo federal para a renegociação de dívidas, ainda não demonstram os resultados tão aguardados pelo setor.

Matéria editada às 15h para inserir análise da Plataforma Hora a Hora

Leia também:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui