O governo cubano reiterou nesta quinta-feira a denúncia contra os EUA pela aplicação durante mais de seis décadas de um bloqueio contra Cuba. “A preços correntes, os danos acumulados do bloqueio nestas seis décadas ascendem à cifra astronômica de US$ 164,14 bilhões”, sublinhou o ministro cubano de Relações Exteriores, Bruno Rodríguez.
Levando em conta a atual desvalorização do dólar face ao ouro, este valor de danos subiria para mais de US$ 1,499 trilhão. Se esta política hostil dos Estados Unidos não existisse, o Produto Interno Bruto (PIB, indicador da economia de um país) de Cuba em 2023 poderia ter crescido cerca de 8%.
O PIB cubano somava US$ 107,3 milhões em 2020 (último dado disponível no Banco Mundial). Isso significa que o bloqueio dos EUA causou prejuízos equivalentes a quase 15 vezes o PIB da ilha.
Cuba, que atravessa uma crise econômica, sofreu uma queda acentuada de 11% do PIB em 2020, devido à pandemia, para crescer 1,3% no ano seguinte e 2% em 2022, mas sofreu uma contração de 2% em 2023.
A denúncia consta do relatório “Necessidade de acabar com o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba”, apresentado pelo chanceler cubano. O texto, que Havana apresenta todos os anos, responde a um projeto de resolução que deverá ser discutido no final do próximo mês pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
Somente entre março de 2023 e fevereiro passado – portanto, em 12 meses – o bloqueio imposto pelos EUA causou danos a Cuba de mais de US$ 5 bilhões, o que significa um aumento de quase US$ 200 milhões em relação ao período anterior.
“As consequências do bloqueio contra o nosso país são claramente evidentes como nunca antes nas deficiências que a população enfrenta em muitas facetas da vida quotidiana”, disse Rodríguez numa conferência de imprensa lotada.
Bloqueio dos EUA afeta todas as áreas de Cuba
Rodríguez detalhou o impacto do bloqueio em setores como saúde pública, educação, transporte e construção, entre outros serviços públicos com grande demanda entre a população cubana. “O que torna a economia cubana única (…) é a presença opressiva e sufocante do bloqueio”, afirmou.
O ministro descreve a política de Washington em relação à ilha como uma guerra econômica “em termos técnicos tipificados em instrumentos internacionais” e disse que isto significa que o país tem agora “uma economia de guerra”.
Lembrou que memorando elaborado em 1960 pelo então subsecretário de Estado de Assuntos Interamericanos, Lester Mallory, que está na base da hostilidade norte-americana, revela o propósito de pressionar o país com a fome e a necessidade diante da impossibilidade de minar o apoio popular ao governo cubano.
Bruno Rodríguez referiu-se ao endurecimento sem precedentes do bloqueio durante a administração de Donald Trump, que reforçou o cerco ao emitir mais 243 sanções, ainda em vigor durante o atual Governo de Joe Biden. “É o sistema de sanções mais abrangente, abrangente, completo e prolongado, de medidas econômicas unilaterais e coercivas da história que foi aplicado contra qualquer país”, assegurou.
Detalhou em particular os danos causados ao país caribenho pela sua inclusão na Lista de Países Patrocinadores do Terrorismo, elaborada unilateralmente pelo Departamento de Estado e que atinge duramente as relações econômicas internacionais de Havana.
Impacto do bloqueio também nas empresas privadas
Salientou que as sanções dos EUA têm impacto nas empresas privadas de Cuba, cuja atividade econômica é significativamente afetada, apesar do anúncio frequente por parte da Casa Branca de que algumas das medidas adotadas visam promover o crescimento desse sector.
“Cuba sempre esteve disposta a manter um diálogo sério e responsável, baseado na igualdade soberana e sem ofuscar a nossa independência e soberania, com qualquer governo, seja republicano ou democrático”, concluiu Rodríguez.
Desde 1992, a Assembleia Geral da ONU tem apoiado esmagadoramente a resolução apresentada por Cuba, que no ano passado foi aprovada por 187 países, com a abstenção da Ucrânia e o voto contra dos Estados Unidos e de Israel.
O bloqueio foi decretado em 3 de fevereiro de 1962 pelo então presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy, apenas três anos após o triunfo da guerrilha liderada por Fidel Castro que derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista.
Com Agência Xinhua