Boa Safra (SOJA3): resultado do 1T24, portfólio de sementes e perspectivas

Segundo Felipe Marques, a diversificação do portfólio de sementes da Boa Safra está se revelando uma decisão acertada.

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Felipe Marques (foto divulgação Boa Safra)
Felipe Marques (foto divulgação Boa Safra)

Conversamos sobre Boa Safra com Felipe Marques, diretor financeiro e de relações com investidores da companhia.

Como a Boa Safra avalia o seu resultado do 1T24?

Com certeza, a Boa Safra é a empresa mais sazonal da Bolsa. Isso porque no primeiro e no segundo trimestre, nós produzimos, mas não vendemos as sementes, pois não temos muitas oportunidades para isso. O nosso faturamento ocorre, necessariamente, no segundo semestre do ano, pois somos muito fortes em sementes de soja.

Dessa forma, nós estamos muito felizes com o resultado do 1T24, que foi mais um trimestre desafiador para o setor do agronegócio como um todo. Isso porque os produtores estão demorando mais a tomar a decisão de compra de insumos em geral, o que já aconteceu em 2023 e está acontecendo ainda mais em 2024. 

Segundo consultorias do mercado, os produtores já venderam de 50% a 60% das suas safras, mas eles apenas começam a comprar os insumos para a próxima quando vendem toda a safra anterior. Nós estamos vendo uma postergação dos produtores, mas mesmo assim nós superamos R$ 1 bilhão em carteira de pedidos, sendo que grande parte será faturada no segundo semestre, o que representa um crescimento de 7% em relação ao 1T23.

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Além dos mais, nós temos a questão das outras sementes. No ano passado, nós já havíamos dito que elas eram uma estratégia importante do nosso portfólio, tanto que tivemos uma receita de R$ 29 milhões em vendas dessas sementes no 1T24, um crescimento de mais de 50% em relação aos R$  18 milhões que fizemos no ano passado inteiro, o que mostra a robustez da nossa estratégia de diversificação de sementes no primeiro trimestre.

Em complemento, antes do follow-on através do qual captamos R$ 300 milhões no final de abril, nós anunciamos a construção dos CDs (Centros de Distribuição) de Campo Novo dos Parecis e Ribeirão Cascalheiras. Isso mostra o apetite da companhia para continuar investindo e provendo as melhores sementes para os nossos clientes, mesmo antes da injeção de liquidez do follow-on.

Como a Boa Safra entende os seus números?

A liquidez da companhia teve um salto muito grande em relação ao ano passado, isso sem os recursos do follow-on (entram nos números do 2T24). Num ano desafiador, que está demandando mais capital de giro da indústria como um todo, ter uma posição de liquidez como a Boa Safra já tinha antes do follow-on faz com que a companhia esteja numa situação muito confortável para aproveitar boas oportunidades num ano como esse. Essa estratégia, que já vinha antes do IPO, ficou maximizada com a injeção de R$ 300 milhões.

Qual a expectativa da Boa Safra para o PIB do 1T24 do setor agropecuário que será divulgado no início de junho e para o restante do ano?

Eu não tenho propriedade para falar em números, mas tudo indica que a soja, que é uma das principais culturas do país, terá uma safra menor neste ano que no ano passado, além de que os preços também estão mais baixos. Dada essa conjuntura e o protagonismo da soja no PIB brasileiro, nós temos um impacto que não é desprezível olhando para o primeiro trimestre. Para o restante do ano, nós teremos um novo impacto: o milho. A área plantada de milho teve uma redução neste ano, e os preços também estão menores. 

Como nós temos uma conjuntura de produções potencialmente menores, com a soja meio que já confirmada e com o milho potencialmente menor, preços mais baixos, e com o mesmo contexto na pecuária, nós vemos uma projeção de PIB agropecuário menor do que no ano passado. As cenas do próximo capítulo serão sobre a magnitude dessa queda, que já está meio que desenhada, dada a relevância da soja, do milho e também da pecuária.

Como o atual problema do Rio Grande do Sul pode afetar a Boa Safra?

Nós entramos no Sul do país neste ano, mas não de forma direta, através de unidades da Boa Safra. Isso faz com que a relevância do portfólio do Sul ainda seja pequena, e seu resultado direto para a companhia, pouco expressivo. Contudo, o Rio Grande do Sul é um dos principais locais onde se produz sementes no Brasil. Estima-se que quando ocorreram o excesso de chuva e as enchentes, faltava colher de 20% a 30% da safra de soja e dos campos de sementes. Cabe ressaltar que a chuva prejudica a qualidade das sementes. Quando você tem chuva na colheita, dificilmente um grão vira semente, o que faz com que ele tenha que ser descartado.

Há um potencial de restrição de oferta de sementes do Rio Grande do Sul, o que vai fazer com que haja uma menor oferta de sementes no mercado brasileiro. O problema que está acontecendo no Rio Grande do Sul também vai impactar no PIB agropecuário devido às eventuais perdas referentes ao final de safra que ainda não havia sido colhida.

Depois de dois anos ruins por falta de chuva, havia uma expectativa de que este ano seria muito bom para o Rio Grande do Sul, mas isso pode ter sido comprometido em parte pelas enchentes, tanto do ponto de vista de grãos quanto de sementes.

Olhando de uma forma mais estratégica para a Boa Safra, como se deu a formação do seu portfólio de sementes?

Como 2024 estava se mostrando um ano mais difícil de produção, nós tomamos a decisão de crescer muito a nossa área de produção de sementes. Por exemplo, no ano retrasado nós tínhamos uma área de contratação de campos de sementes de 144 mil hectares, mas para este ano nós a aumentamos para 227 mil hectares.

Como nós vimos um potencial para haver uma menor oferta de sementes, nós aumentamos desproporcionalmente a nossa área de campo para que tivéssemos um potencial de oferta de sementes maior, o que se mostrou uma decisão muito acertada. Nós aumentamos a nossa área de campos de sementes em mais de 50% para um ano climático mais complexo, atendendo os nossos clientes de forma plena, além das outras culturas e sementes, o que gerou uma receita de R$ 29 milhões do 1T24.

Como a companhia define a produção de uma semente?

Esse é um trabalho superestratégico de entender quais das quase 70 variedades de sementes que a companhia possui vão ser um sucesso no próximo ano. Isso para que possamos definir a produção que vai atender uma maior demanda dos produtores, e com maior produtividade.

Como a Boa Safra é uma empresa nacional, nós conseguimos ter uma boa visão de quais são as sementes que estão indo melhor em cada região do país. Essa é uma decisão muito estratégica, que tomamos todos os anos, antes de contratar os campos de semente: quais serão as variedades e quais quantidades serão produzidas.

O que é uma semente high tech?

Trata-se de uma semente que possui a tecnologia mais recente do mercado. Uma semente que tem os melhores tempos produtivos, os melhores potenciais de produção, mais resistência a eventuais fatores adversos, uma biotecnologia que permita ao produtor fazer menos aplicações de defensivos na sua produção agrícola, e que tenha as moléculas que a ajudem a ter uma alta performance. Uma semente pronta com o revestimento de fertilizantes, defensivos e biológicos e que seja autossuficiente.

Como a Boa Safra avalia o desempenho das suas ações desde o IPO em abr/2021?

O mercado avalia que a Boa Safra, desde aquela janela de IPOs, teve a melhor performance em termos de valorização do preço das ações. Como companhia, nós olhamos muito para o que entregamos dentro de casa, independente do preço das ações, que possui conjunturas de mercado e várias questões que estão fora dos resultados intrínsecos da companhia.

Quando fizemos o IPO de R$ 460 milhões, nós tínhamos um lucro líquido de R$ 70 milhões, sendo que depois de três anos, nós mais que triplicamos esse lucro. Nós gostamos de olhar essa geração de valor. Além disso, nós fizemos o follow-on de R$ 300 milhões.

Nós temos que continuar sendo diligentes, fazendo boas alocações de capital e mostrando resultados. Com isso, inevitavelmente, mais dia ou menos dia, o preço das ações tendem a se refletir nos resultados que entregamos.

Como a Boa Safra avalia as suas perspectivas para 2024? 

Esse será mais um ano difícil para o agro. Diminuição do PIB do setor, preços das commodities mais baixos e o crescimento da área plantada tende a ser mais tímido. Esse será mais um ano desafiador, mas nós nos preparamos para isso e acreditamos que os problemas podem se traduzir em oportunidades. A Boa Safra é uma empresa com bastante liquidez, de capital aberto e com acesso ao mercado de dívida. Nós estamos muito bem posicionados para tirarmos oportunidades de um ano difícil como foi 2023.

No ano passado, nós vimos as empresas do agro, quase que de forma generalizada, com resultados piores que 2022. A Boa Safra não foi assim, pelo contrário. Nós crescemos em resultado em 2023 e estamos em muito boas condições de continuarmos executando muito bem a nossa estratégia num ano como 2024.

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