O governo da Bolívia confirmou nesta quarta-feira que o ex-comandante golpista das Forças Armadas bolivianas, Juan José Zúñiga, foi preso após a tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luis Arce.
Após ordem e abertura de inquérito, expedida pelo Ministério Público, Zúñiga foi detido e colocado à disposição das autoridades. O vice-almirante Juan Arnéz Salvador, da Marinha boliviana, também foi preso.
Anteriormente, a Procuradoria boliviana havia informado que, como resultado da tentativa de golpe de Estado no país foi ordenada a instauração de todas as ações legais correspondentes para o início da investigação criminal contra o general Juan José Zuñiga e os envolvidos.
“O Procurador-Geral do Estado, Fausto Juan Lanchipa Ponce, imediatamente, através da instrução FGE/JLP nº 243/2024, ordenou a instauração de todas as ações judiciais que correspondem à instauração da investigação criminal contra o general Juan José Zuñiga”, informou o Ministério Público.
Esta declaração ocorreu, segundo a Procuradoria, tendo em vista os últimos acontecimentos na cidade de La Paz, sede do Governo, e que são de conhecimento público, considerando “o firme compromisso do Ministério Público com os princípios que sustentam o Estado Democrático de Direito”.
O Ministério Público observou que, da mesma forma, o desdobramento “de todos os esforços necessários para a obtenção dos elementos de condenação, bem como a expedição dos requisitos, ordens de citação, despachos e resoluções devidamente fundamentadas que correspondam ao esclarecimento do fato investigado e à imposição da sanção máxima aos responsáveis”.
Ao reafirmar seu compromisso com a legalidade, a Procuradoria-Geral da República também ressaltou seu apoio aos interesses gerais da sociedade no marco da preservação de nossa democracia.
Golpe rechaçado
O presidente da Bolívia Luis Arce cumprimentou, no fim da tarde desta quarta-feira, o povo que saiu às ruas em defesa da democracia e rechaçou a tentativa de golpe liderada por Juan José Zúñiga.
“Permanecemos na Casa Grande del Pueblo, onde vocês nos colocaram, porque os únicos que podem nos tirar daqui são vocês”, disse Arce a milhares de cidadãos. E continuou: “O povo mobilizado possibilitou a retirada dessa tentativa de golpe, obrigado povo boliviano”, disse Arce.
O vice-presidente David Choquehuanca, ministros de Estado e líderes de organizações sociais estavam na varanda do antigo Palácio Quemado, ao lado da Casa Grande del Pueblo, que era o centro de operações da resistência à ação militar do golpista Zúñiga.
Ainda No fim da tarde, O presidente Luis Arce empossou o novo Alto Comando das Forças Armadas. O novo comandante do Exército, José Sánchez, ordenou que os soldados mobilizados retornassem às suas unidades e garantiu o apoio do governo legalmente constituído.
“É uma situação especial porque ninguém quer a imagem que estamos vendo nas ruas, por isso agora, na minha qualidade de comandante-geral do Exército e em nome dos três comandantes de força, peço ordem e ordem que todo o pessoal mobilizado nas ruas retorne às suas unidades”, ordenou o novo comandante.
Junto com Sánchez, foram empossados o comandante da Aeronáutica, Gerardo Zabala, e da Marinha, Wilson Guardia.
Arce também agradeceu aos militares que não aderiram a essa tentativa de golpe que foi condenada por organismos internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), a União Europeia, Brasil, México, Honduras, entre outros, além de vários líderes da região.
Ele também cumprimentou a Polícia Boliviana que se manteve firme para garantir o respeito à Constituição Política do Estado (CPE).
“Ninguém pode tirar a democracia que conquistamos nas urnas e nas ruas, com o sangue do povo boliviano”, enfatizou antes de cantar o Hino Nacional como corolário deste dia de tensão.
Arce e Choquehuanca foram erguidos sobre os ombros da multidão que se reuniu na Plaza Murillo.
Brasil condena tentativa de golpe de Estado na Bolívia
O governo brasileiro divulgou nesta quarta-feira nota oficial condenando “nos mais firmes termos” a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a ação é uma clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país.
“O governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce e ao governo e povo bolivianos. Nesse contexto, estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”, diz a nota.
Segundo o Itamaraty, esses fatos são incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o Mercosul, sob a égide do Protocolo de Ushuaia.
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a democracia na região. “Como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça na América Latina. Golpe nunca deu certo”, disse Lula.
Brasileiros na Bolívia
O Itamaraty diz que está atento à situação dos brasileiros que vivem em território boliviano. Em caso de emergência, os nacionais podem ligar para os telefones de plantão do setor consular da Embaixada em La Paz (+591 7061-2897), dos Consulados-Gerais em Cochabamba (+591 7593-8885) e em Santa Cruz de la Sierra (+591 7 856 4465) e dos Consulados em Cobija (+591 7291-6683), Guayaramerin (+591 7218 3344) e Puerto Quijarro (+591 7732-1334). O plantão consular do Itamaraty permanece disponível no número +55 61 98260-0610 (inclusive WhatsApp).
Presidente do México também rechaça golpe de Estado na Bolívia
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, e a futura presidente, Claudia Sheinbaum, condenaram a tentativa de golpe de Estado na Bolívia e expressaram seu apoio ao governo do país. “Expressamos a mais veemente condenação à tentativa de golpe de Estado na Bolívia”, escreveu López Obrador em suas redes sociais.
“Nosso total apoio e apoio ao presidente Luis Alberto Arce Catacora, autêntica autoridade democrática desse povo e país-irmão”, acrescentou.
Por sua vez, Sheinbaum descreveu a tentativa de golpe de algumas Forças Armadas bolivianas como “um ataque contra a democracia”. Ela condenou veementemente os acontecimentos e demonstrou seu apoio ao presidente Arce, em mensagem em suas redes sociais.
“O levante de algumas unidades das Forças Armadas Bolivianas é um ataque contra a democracia. Condenamos veementemente estes acontecimentos. Nosso apoio incondicional ao presidente Luís Arce e ao seu povo”, disse Sheinbaum.
Presidente hondurenha convoca países da Celac para condenar golpe
A presidente de Honduras e presidente pro tempore da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Xiomara Castro, apelou aos presidentes dos demais países-membros da organização para condenar a tentativa de golpe de Estado na Bolívia.
“Apelo urgentemente aos presidentes dos países-membros da Celac para que condenem o fascismo que hoje ataca a democracia na Bolívia e exijam o pleno respeito pelo poder civil e pela Constituição”, disse Castro na sua conta na rede social X-Twitter.
A presidente hondurenha afirmou que as forças militares bolivianas “realizaram mais uma vez um golpe de Estado criminoso”, ao que expressou o “apoio incondicional” de Honduras ao povo boliviano, ao presidente Luis Arce e ao ex-presidente Evo Morales.
A Venezuela reforçou o chamado aos países da Celca. Chile e Perou também condenaram a tentativa de golpe.
Mais cedo, na rede social X-Twitter, o ex-presidente Evo Morales disse que está em curso um golpe de Estado na Bolívia, apelando a uma “mobilização nacional” para “defender a democracia”. O presidente Luis Arce, em nota divulgada às 16h50 (hora local) denunciou o golpe e convocou o povo a se mobilizar.
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Imagens transmitidas pela Telesur mostraram cerca de oito tanques militares dentro dos quais podem ser vistos homens uniformizados e armados.
Os cidadãos mobilizaram-se na Praça Murillo (no centro de La Paz e marco zero do país) para evitar uma ruptura constitucional e gritaram “conspiradores golpistas, conspiradores golpistas”. Neste local também estão localizadas as sedes da Casa do Povo, da Assembleia Legislativa Plurinacional e da Chancelaria Boliviana.
O ministro do Governo, Eduardo del Castillo, compareceu ali e tentou comunicar-se com membros de um dos veículos militares, dentro do qual estava o ex-comandante geral do Exército, general Juan José Zúñiga. Del Castillo tentou saber quem deu a ordem de movimentação do contingente militar e pediu explicações a Zúñiga. Citado pela agência de notícias EFE, Zúñiga, ameaça tomar a sede do Poder Executivo.
A Telesur lembra que o país já foi palco de um golpe de Estado em novembro de 2019. Foi organizado pelos EUA e pela direita local com a cumplicidade da Organização dos Estados Americanos.
Com informações das agências Brasil e Xinhua, Telesur e da CNN Portugal, citando a EFE
Matéria atualizada às 18h24 para inclusão das declarações dos presidentes do México e de Honduras
Matéria atualizada às 18h44 para inclusão das declarações do governo brasileiro
Matéria atualizada às 21h07 para incluir informações do fim do golpe
Matéria atualizada às 23h50 para informar a prisão dos militares golpistas