Bolsas tem manhã de recuperação, após perdas ontem devido à resiliência da atividade nos EUA e falas duras de diretores do Fed, com os índices japoneses sendo destaque de alta, após PIB acima do consenso. No entanto, sinais de aversão a risco persistem, devido à falta de avanço nas negociações em Washington. Juros operam de lado e dólar ganha com o clima de cautela, com destaque para o Yuan, com o dólar ultrapassando os ¥7, emitindo um sinal ruim de crescimento no gigante asiático. Commodities operam sem direção única, mas minério firma a recuperação dos últimos dias. Por aqui, dia de votação da urgência do arcabouço fiscal, mas vendas no varejo são destaque da agenda. Apesar do clima de cautela, a alta das commodities deve beneficiar o Ibovespa na abertura, enquanto IGP-10 e vendas no varejo devem pautar a dinâmica dos juros, com os dados dentro do esperado, a abertura deve ser negativa para as taxas.
Ásia: bolsas fecharam mistas, com Japão sendo destaque de alta, após PIB do 1T23 forte. Na China, os preços de novos imóveis subiram 0,4% (-0,2% a/a) em abr/23. O NDRC declarou que aumentará os esforços para expandir o consumo das famílias e os investimentos na indústria. No Japão, produção industrial acima da prévia (prévia 0,8%), crescendo 1,1% (-0,6% a/a) em mar/23. PIB surpreendeu (exp 0,1%), crescendo 0,4% (2% a/a) no 1T23. Na agenda, balança comercial do Japão (abr/23) às 20h50 e taxa de desemprego na Austrália (abr/23) às 22h30.
Europa: resultados fracos (Commerzbank e Siemens) pesam na abertura, levando à abertura mista nas bolsas, com os bancos liderando as perdas. Na zona do Euro, superávit comercial de €17,1 bi em mar/23, com exportações de €243,3 bi (7,5% a/a) e €226,2 bi (-9,9% a/a) em importações. PIB em linha, crescendo 0,1% (1,3% a/a) no 1T23. O índice de confiança da ZEW caiu de 6,4 para -9,4 pontos (exp 8,2 pontos) em mai/23, mínima em 5 meses. Hoje, CPI da zona do Euro (abr/23) às 6h. Panetta (BCE) fala às 6h, Bailey (BoE) às 6h50, Centeno (BCE) fala às 7h e de Guindos (BCE)às 12h15.
EUA: em meio à agenda vazia, futuros se recuperam das perdas de ontem. Vendas no varejo abaixo do consenso (exp 0,8%), crescendo 0,4% (0,2% a/a) em abr/23, após 2 meses em queda. O núcleo das vendas subiu 0,7% (exp 0,4%), avanço de 3,0% ante abr/22. Produção industrial acima do consenso (exp 0%), crescendo 0,5% (0,8% a/a) em abr/23, com a NUCI subindo de 79,4% para 79,7% (exp 79,7%). A confiança das construtoras subiu de 45 para 50 pontos (exp 45) em mai/23, máxima em 10 meses.
Goolsbee (Fed Chicago, vota) afirmou que não se decidiu para a reunião de jun/23 e que é muito prematura falar de cortes de juros. Logan (Fed Dallas, vota) declarou que a alta incerteza deveria levar à uma postura mais gradual do FOMC. Mester (Fed Cleveland, não vota) afirmou que os juros não estão restritivos o suficiente e que precisa de mais evidências de que a inflação está caindo. Williams (Fed NY, vota) disse que a inflação está inaceitavelmente alta, mas que a economia está ficando mais balanceada. Hoje, licenças de construção (abr/23) e construção de novos imóveis (abr/23) às 9h30 e estoques de petróleo do DoE (12/mai) às 11h30. Leilão de T-Notes (20 anos) às 14h.
Brasil: a aversão a risco global, que derrubou as bolsas, após dados de atividade nos EUA e falas de diretores do Fed reviverem os temores de alta de juros, se somou às tensões com o arcabouço fiscal mais frouxo e as mudanças na política de preços da Petrobras, levando a dia negativo, com o Ibovespa fechando aos 108.191 pontos (-0,77%), com cias cíclicas liderando as perdas. O grande leilão do TN, após vencimento das NTN-Bs ontem e a alta das taxas de juros globais, além do menor otimismo com o arcabouço, pesaram na curva de DI futuro, após rali nos últimos dias, com as taxas de médio e longo prazo subindo mais de 10 pontos. Dados fracos na China, que levaram à queda nas commodities, e o clima de aversão a risco, que beneficiou a moeda americana, pesaram sobre o Real, com o dólar fechando em R$4,94 (1,12%).
Puxado pela forte recuperação nos transportes, o volume de serviços veio acima do consenso (exp 0,5%), crescendo 0,9% (6,3% a/a) em mar/23. Com 6 das 8 categorias acelerando na margem, o IPC variou de 0,61% para 0,60% (exp 0,65%) na 2ª prévia de mai/23, acumulando 3,56% em 12 meses. A Petrobras anunciou cortes nos preços de combustíveis na refinaria: gasolina, caiu de R$3,18 para R$2,78/litro (-12,6%); diesel, recuou de R$3,46 para R$3,02/litro (-12,7%); GLP, cortou de R$3,23 para R$2,54/kg (-21,4%). As medidas devem tirar 0,50% no IPCA, sendo metade em mai/23 e a outra em jun/23. Com isso, reduzimos nossas projeções de IPCA de 5,9% para 5,4% em 2023 e de 4,5% para 4,4% em 2024.
Substitutivo do novo arcabouço fiscal misto: por um lado, adicionou mecanismos de ajuste, em caso de descumprimento da meta, e retomou os contingenciamentos, que serão acionados por relatórios bimestrais, além de excluir capitalização das estatais e piso da enfermagem das despesas isentas do teto. Por outro lado, as despesas de 2024 serão ampliadas em 2,5%, independente do crescimento da receita, além de permitir que o gasto fique até 0,25% do PIB acima do limite, caso projeções de receitas e despesas mostrem que a meta não será comprometida. As despesas do Bolsa Família e as ligadas ao salário-mínimo (1/3 do Orçamento) ficam fora do teto. Por fim, o texto altera a fórmula de cálculo do IPCA em 12 meses no ano corrente (que contariam com projeções de julho a dezembro) para o IPCA em 12 meses efetivo entre julho passado e junho do ano corrente. Na agenda, IGP-10 (mai/23) às 8h, vendas no varejo (mar/23) às 9h e fluxo cambial (12/mai) às 14h30.
Nicolas Borsoi é economista chefe da Nova Futura Investimentos