Bolsonaro precisa recompor imagem junto a Biden

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Joe Biden e Jair Bolsonaro. Foto: divulgação
Joe Biden e Jair Bolsonaro. Foto: divulgação

Depois de Jair Bolsonaro ter apoiado a equivocada tese de Donald Trump sobre fraudes nas eleições dos EUA e ante posições políticas conflitantes do governo brasileiro, este terá de fazer grande esforço para recompor sua imagem perante o novo presidente norte-americano, Joe Biden. Análise é do professor Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (Espanha).

O especialista lembra que, no início de seu mandato, Bolsonaro anunciou que o Brasil passaria a ter uma relação mais próxima com os EUA, retomando uma relação tradicional de parceria. Mostrou, porém, ter muito mais afinidade com o populismo de Trump do que com os EUA como nação. “Isso foi sentido em Washington, onde existe o receio de que o Brasil se afaste dos EUA e procure países mais afinados com os valores trumpistas. Da mesma forma, este governo que chega não enxerga Bolsonaro com simpatia”, frisa Coimbra.

Para recompor sua imagem e não ficar atrás, nas relações bilaterais com os norte-americanos de países como Chile e Colômbia, que sempre mantiveram diplomacia ativa com Washington independentemente do partido que ocupasse a Casa Branca, o governo brasileiro precisará ajustar uma série de posturas, atualmente conflitantes com a plataforma de Joe Biden, a começar pela pauta ambiental. “O tema entra na pauta norte-americana de maneira determinante. Certamente, para avançar nesta frente, Washington pedirá demonstrações claras de cooperação de Brasília, um movimento que colide com a posição de confronto com as políticas de preservação ambiental adotadas pelo governo brasileiro”, pondera o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Biden retornará com força para a política internacional multilateral, reintroduzindo os americanos em uma agenda global de concertação. “Podemos esperar o retorno ao Acordo de Paris e maior participação em organismos desprezados por Trump, como Unesco e OMS. Uma agenda que também colide com a posição adotada por Bolsonaro, que inseriu a luta contra o globalismo dessas instituições como seu foco de enfrentamento”, ressalta Coimbra, concluindo: “Os desafios para o Brasil serão enormes, não apenas pela mudança política adotada pelos norte-americanos, mas pelos próprios erros de cálculo político do Palácio do Planalto. Uma conta que pode sair muito cara para os brasileiros”.

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Ontem, o novo presidente anunciou o retorno do seu país ao Acordo de Paris. Biden prometeu colocar os EUA no caminho do saldo zero em emissões de gases de efeito estufa até 2050. Biden e a vice-presidente Kamala Harris tomaram posse na tarde de hoje. Joe Biden também revogou uma licença que era essencial para o projeto de oleoduto Keustone XL e uma moratória a atividades de exploração de óleo e gás no Refúgio Nacional da Vida Selvagem no Ártico.

O presidente também assinou pelo menos seis decretos relacionados à imigração. Entre os decretos, está a suspensão imediata da proibição da entrada nos EUA de pessoas oriundas de diversos países, principalmente muçulmanos ou africanos, interromper a construção de um muro na fronteira com o México e reverter uma ordem do ex-presidente Donald Trump que impedia que imigrantes ilegais fossem contados na próxima redefinição dos distritos eleitorais para o Congresso dos EUA.

Biden ainda assinou um memorando direcionando o Departamento de Segurança Nacional e o procurador-geral dos EUA a preservar o programa Daca, que protege de deportação imigrantes que chegaram ao país como crianças, e para reverter a ordem executiva de Trump que pede fiscalização interna mais rígida à imigração.

O presidente também enviou ao Congresso um Projeto de Lei de imigração que abre caminho para a cidadania de imigrantes que vivem ilegalmente no país.

“Celebramos o triunfo da democracia” foi uma das aberturas do discurso de posse. Biden também disse que “neste dia de janeiro minha alma inteira está dedicada a unir nossa nação”.

Segundo Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais, “Biden gastou boa parte de seu tempo pregando a união de seu povo, e com isso deixou porta aberta para os republicanos, que terão que descalçar a bota de Donald Trump que voou para a Flórida, antes da posse. Trump, segundo relato, cumpriu uma única formalidade histórica deixando um bilhete para Biden. Vários presidentes e primeiros-ministros cumprimentaram Biden pela posse e Boris Johnson, do Reino Unido, parabenizou e se disse ansioso para trabalhar com ele. Aqui, no final da tarde, Bolsonaro cumprimentou pela posse e ressaltou as relações longas com os EUA. Disse ter encaminhado correspondência para Biden. O presidente do Conselho Europeu defendeu o acordo com o Mercosul, mas alertou para o risco ambiental. Aliás, Biden também citou a preservação do meio ambiente.”

Ainda segundo Bandeira, “aqui, como já está se tornando rotina, Bolsonaro corrigiu sua declaração sobre as Forças Armadas que ‘determinam se o povo vai viver numa democracia ou ditadura’, dizendo que ‘os militares seguem o norte indicado pela população’.

 

Com informações da Agência Brasil, citando a Reuters

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