BR Partners (BRBI11): resultado do 1T25, momento e perspectivas

Nesta entrevista, Vinicius Carmona destaca a importância da remuneração dos sócios do BR Partners através de dividendos para os acionistas minoritários do banco.

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Vinicius Carmona (foto divulgação BR Partners)
Vinicius Carmona (foto divulgação BR Partners)

Conversamos com Vinicius Carmona, sócio e DRI do BR Partners, sobre o resultado do 1T25 do banco.

Como o BR Partners avalia o seu resultado do 1T25?

O 1T25 já foi mais difícil quando comparado aos trimestres de 2024. Por mais que tenhamos mostrado, novamente, uma grande resiliência, mérito do nosso time que conseguiu um ROAE de 22% como resultado, quando olhamos a receita, nós vemos uma clara desaceleração no nível de atividade das áreas de negócio. Dessa forma, o ROAE que tivemos foi em função da eficiência e do controle de despesas do banco.

Esse resultado já teve uma dinâmica mais desafiadora, principalmente pelo efeito do ambiente macroeconômico. Quando nós pegamos o atual nível de juros, 14,75%, misturado com toda essa volatilidade do mercado internacional gerada pela guerra comercial, isso incomoda o andamento dos nossos negócios.

Por exemplo, no Investment Banking, embora tenhamos o melhor pipeline da nossa história, os grandes mandatos que estamos trabalhando tendem a ser concluídos em um futuro onde tenhamos um pouco mais de clareza em relação ao ambiente econômico que estamos vivendo. Com esse custo de dívida, os executivos, as famílias, os acionistas e as empresas, em muitos casos, se retraem e tendem a esperar um melhor momento para, eventualmente, fazerem uma aquisição, um endividamento ou acessar o mercado de capitais.

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Com isso, a prioridade passa a ser cuidar da saúde financeira da empresa, buscando eficiência e reduzindo ao máximo as despesas para manter uma margem saudável do negócio, com as grandes aquisições e movimentos estratégicos passando a ocupar um segundo plano. Isso, obviamente, se reflete no nosso negócio, tanto que apenas uma transação de investment banking foi anunciada no 1T25.

No mercado de capitais, embora estejamos com um custo de dívida altíssimo, o banco ainda tem um pipeline de dívida que continua forte, por mais que pareça um pouco antagônico e surpreendente. Vale destacar que esse pipeline não é para um leverage buyout, ou seja, uma dívida para aquisição de ativos, e sim para reperfilações e reestruturações de dívida.

No real state, onde somos muito fortes, como o alto padrão continua indo muito bem, com retornos que justificam o custo de capital, nós temos projetos que ainda saem. Por exemplo, em infraestrutura, nós estamos trabalhando no mandato de uma grande obra. Esses projetos que se pagam e ainda saem via mercado de capitais, devem garantir um bom ano para o banco.

Quando falamos em projetos mais complexos e transformacionais, como fusões de companhias ou aquisições de ativos estratégicos, essas operações ficam um pouco de lado. Dessa forma, nós devemos ter uma redução no ritmo de M&A acompanhada por um mercado de dívidas que ainda vai bem com esse alto custo de dívida, mas que em algum momento neste ano deve começar a desacelerar, já que nenhum indivíduo ou companhia suporta um custo de dívida de 15% mais o spread por um longo período.

Nesse ambiente de grandes volatilidades, por mais que a tesouraria seja uma área que esteja oscilando cada vez mais, nós temos conseguido navegar bem entre períodos de seca e períodos com uma produção maior. Por exemplo, nós fizemos muitos hedges para proteção cambial no 1T25, dada a alta volatilidade do dólar. Mesmo assim, a vida da tesouraria não está fácil, pelo contrário, está bem desafiadora, já que as emissões de mercado de capitais têm ficado mais inconstantes. A Tesouraria vai conseguir passar bem ao longo do ano, mas com menos linearidade.

Por fim, o Wealth Management continua crescendo e indo muito bem. Nós já temos R$ 5,5 bilhões de wealth under advisor e a nossa meta interna, que não é um guidance de mercado, é chegar próximo aos R$ 10 bilhões no final deste ano. Nós estamos bem posicionados para crescer, mas essa é uma linha que representa apenas 3% das receitas, ou seja, nós precisamos de escala para que possamos tornar esse negócio mais representativo.

O resultado do BR Partners costuma apresentar sazonalidades?

Dada toda a incerteza, nós devemos ter mais volatilidade nos resultados dos próximos trimestres. Desde o IPO, nós viemos, razoavelmente, com uma certa linearidade no nosso ROAE, mas como agora estamos em um nível de incerteza tão grande, nós podemos ter um trimestre com uma rentabilidade muito abaixo e outro excepcional, caso o cenário melhore e dê confiança às empresas.

Para este ano, nós devemos ter resultados menos lineares, mas não por uma questão de sazonalidade. Pode-se até dizer que em dezembro e janeiro, quando os tomadores de decisão, geralmente, tiram férias, as grandes decisões não são tomadas, mas eu não diria que há uma sazonalidade clara no nosso negócio, e sim muito mais o efeito da estabilidade ou não da economia no momento.

Atualmente, nós temos uma conjuntura ruim, onde o custo de dívida está extremamente alto, o país possui grandes desafios fiscais, que precisam ser endereçados, o ano que vem tem eleição e o cenário internacional está bagunçado. Com tantas incertezas, nós devemos começar a sentir, principalmente via M&A, uma redução das transações anunciadas. Agora, isso também é incerto, pois o jogo pode mudar de um mês para o outro. Por exemplo, nós tivemos uma notícia mais positiva de que Trump está querendo flexibilizar as tarifas, o que anima o mercado, que pode, eventualmente, reprecificar uma desaceleração global menos intensa. Tudo isso pode criar alguns gatilhos para que possamos começar a converter algumas transações e termos um cenário que, no final do ano, pode melhorar muito.

O ponto é que nós estamos muito preparados para enfrentar um ano muito desafiador dada a nossa estrutura e tamanho, e levando em consideração que 2/3  da nossa despesa se referem a salários e bônus. Dificilmente, nós vamos repetir o resultado de 2024 em termos de lucro, mas podemos ter um ROAE acima do custo de capital em 2025. Em um ambiente ruim como esse, gerar um alfa em relação à taxa Selic significa que estamos gerando valor para o acionista.

Como o BR Partners avalia o seu payout e dividend yield?

O BR Partners é uma empresa pagadora de dividendos e deve continuar com um payout bem elevado. Nós sempre decidimos o payout próximo ao evento do pagamento de dividendos, pois isso depende muito do momento que estamos vendo e da real necessidade de pagarmos um pouco mais ou um pouco menos, mas devemos continuar pagando um payout acima de 70% em 2025. Esse é um alinhamento que nós temos muito próximo ao investidor minoritário, já que o nosso partnership é majoritariamente remunerado via dividendos.

Cabe ressaltar que é por isso que nós conseguimos ter um grande controle de despesa, pois a partir do momento em que o grosso da remuneração do sócio vira em cima do lucro do banco, isso é um alinhamento maravilhoso, pois ele vai receber se de fato produzir. Por exemplo, se a receita cair em decorrência de um ambiente ruim, o resultado vai ser impactado e o sócio vai receber menos “dividendos”. Assim, como todos querem ser bem remunerados com os melhores dividendos possíveis, todos vão brigar por um ano com boas receitas, sendo que, no fim do dia, os dividendos que os sócios recebem são os mesmos que os minoritários recebem.

No nosso negócio, não existe o risco de haver um ano horrível com um management altamente remunerado, o que oneraria o acionista minoritário. Da mesma maneira, caso haja um ano com o mercado extremamente bom, nós não temos um overpay dos executivos, pois todos usufruem dos dividendos. Com isso, não se cai na briga de “originei R$ 40 milhões, então tenho que ganhar R$ 5 milhões de bônus”. Isso não existe aqui.

Além da disciplina de estarmos alinhados aos dividendos, nós temos a política interna de pagarmos, no máximo, o que chamamos de 30% de índice de remuneração, ou seja, esse é o limite máximo sobre a receita que pode ser gasto com salários e bônus. Por exemplo, se o BR Partners fatura R$ 100 milhões, ele gasta R$ 30 milhões com salários e bônus para os seus  funcionários. Esse também é um grande conforto para o minoritário, pois limitamos os salários e os bônus à geração de receita.

Com relação ao dividend yield, eu não gosto muito de falar sobre isso, pois ele é uma função do valor da ação. Por exemplo, você pode estar pagando muito dividendo, mas se a ação valorizou bastante, isso não fica muito evidente. Da mesma forma, se o preço da ação cair muito, você vai pagar um dividend yield brutal. É por isso que eu gosto mais de olhar o payout do que a métrica do dividend yield.

Recentemente, como o nosso papel deu uma boa valorizada, o nosso dividend yield caiu de 14% no ano passado para 9% agora. É por isso que é muito difícil traçar uma previsibilidade do dividend yield. Por exemplo, se nós tivermos um dividend yield de 7% com o papel se apreciando, isso é ótimo para o minoritário, pois é uma combinação de dividendos mais apreciação do papel, mas o 7%, não necessariamente, é um número bonito de dividendos.

O importante é que nós estamos no melhor momento como companhia. Nós estamos com um partnership extremamente alinhado e com um pipeline de mandatos excepcional no Investment Banking esperando o melhor momento para sair. Embora os desafios estejam presentes, nós estamos preparados para uma avenida de crescimento assim que o econômico melhorar um pouco.

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